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Barulho em altos níveis prejudica audição e coração, de acordo com estudos

O filme “Tempos Modernos”, estrelado por Charlie Chaplin, mostrou que o movimento das indústrias iria dar impulso para uma nova era; mesmo sendo um filme do “cinema mudo”, acabou revelando despretensiosamente um dos problemas da vida moderna: os barulhos aos quais não prestamos atenção. O funcionamento não só dos ouvidos, como também do coração, pode ser afetado gravemente pela discreta poluição sonora. 

Diferentemente da poluição do ar, que pode ser vista em grande quantidade e resolvida com o uso de esterilizadores de ar, a poluição sonora é invisível e por isso pode não ser percebida até causar consequências na saúde. O American College of Cardiology concluiu em um estudo que áreas de ruídos altos são responsáveis por uma taxa de ataque cardíaco 72% maior .

Locais em que barulhos altos foram mais comuns tiveram 3.336 ataques cardíacos por 100 mil habitantes, enquanto os menos barulhentos apresentaram 1.938 ataques cardíacos por 100 mil habitantes.

A Agência Europeia do Ambiente reafirma o problema, informando que nos lugares em que as pessoas estão expostas por longo tempo a ruídos acima do tolerável há cerca de 18 mil mortes, além dos internados que chegam a 80 mil .

De acordo com a rede de notícias The British Broadcasting Corporation (BBC), o ruído percorre os vasos sanguíneos e chega até o cérebro, ativando duas regiões importantes: o córtex auditivo e a amígdala. O córtex interpreta o barulho e a amígdala gerencia as respostas emocionais, ativando uma “reação de fuga” no corpo  para sons mais altos. 

Também é preciso mencionar os danos auditivos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) acredita que duas bilhões de pessoas correm risco de terem problemas de audição até 2050.

Poluição invisível

Ao contrário da poluição dos escapamentos dos carros, a do barulho das buzinas, motores e de outros sons que fazem parte das rotinas não é visível, e muitos ouvidos tornam-se acostumados. O costume, porém, pode esconder o desenvolvimento de problemas silenciosos.

A OMS  não recomenda que as pessoas se exponham a barulhos que ultrapassam o tom de um bate-papo, em torno de 50 dB (decibéis). A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) estabelece esse mesmo valor como limite de barulho tolerável em locais residenciais de dia; à noite, a tolerância recomendada é de 45 dB. Perto de indústrias, a recomendação da ABNT é deixar o barulho atingir o volume máximo de 70 dB, sendo diminuido para 60 dB no período noturno. 

Uma pesquisa citada pela revista VEJA com moradores de regiões próximas do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, revelou que 60% das pessoas lidam com ruídos acima de 50 dB. Esta pesquisa também identificou relação direta entre o barulho dos aviões e o aumento da mortalidade cardiovascular.

Como não é possível “ver” a poluição sonora, uma dica para perceber a quantos decibéis a pessoa está exposta é observar se é preciso elevar a voz para ser escutada por outras. Se houver essa necessidade, o barulho deve estar acima do recomendado. 

Outro cuidado que deve ser observado é o uso dos fones de ouvido, que são recomendados por no máximo 1h e em modelos que não são colocados dentro da orelha.

Silêncio em nome da lei

Já existem leis que podem limitar a exposição à poluição sonora, como o artigo 1.277 da lei número 10.406, de 10 de janeiro de 2002. O texto afirma que o proprietário de um prédio pode proibir interferências sonoras prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos que habitam o local e que acontecem em propriedades vizinhas. 

Os vizinhos de aeroportos também devem contar com um maior sossego em breve. A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) informou que vai endurecer as regras para o barulho nos aeroportos brasileiros. 

Os ruídos aeronáuticos são limitados por um guia orientativo, que não tem caráter obrigatório, e a agência declarou que vai transformar o manual em um IS (Instrumento Suplementar), que funciona como uma norma. As regras vão ser baseadas em uma consulta setorial, que esteve aberta até fevereiro, em forma de formulário preenchido por qualquer pessoa.