Grupo Mateus informa ‘deficiências moderadas’ em seus controles internos

O Grupo Mateus, varejista alimentar responsável pela maior oferta pública inicial de ações do ano (IPO, da sigla em inglês), relatou em documento enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que auditores identificaram “deficiências moderadas” nos controles internos da empresa.

São mencionados lançamentos “off book” (registros fora do livro contábil) e operações entre partes relacionadas com saldos relevantes já vencidos há longa data, mas sem a devida baixa, diz o texto.

A auditoria da rede, a Grant Thornton, identificou 21 falhas, e que são mencionadas pela rede varejista em anexo dos formulários de referência protocolados nos dias 5 e 9 de outubro. Há, no texto, recomendações dos auditores para reduzir esses riscos.

É a primeira vez que o Grupo Mateus detalha ao mercado o teor de seu relatório sobre gestão de riscos — a empresa fez a sua estreia em pregão na B3 na terça-feira desta semana. A ação saiu a R$ 8,97 (piso da faixa de preço indicativa) e registra queda de 2,8% no acumulado da semana até hoje.

A varejista diz no documento que a Grant Thornton avaliou o gerencimento de riscos e controles em paralelo com as demonstrações financeiras de 2017, 2018 e 2019 e de junho de 2020 e, apesar de não identificar deficiências significativas, com impacto nas demonstrações, a rede entende que seus processos têm que ser mais eficazes.

Entre as falhas são citadas, por exemplo, a não existência de provisão de juros dos empréstimos, mas apenas do valor principal. Também mencionam a ausência de evolução dos custos de estoques (histórico de 2018 a 2020) e inconsistências nas práticas de rateio de despesas com folha entre empresas do grupo neste ano. Sobre empregados do grupo, a auditoria menciona risco de um fiscalização da Justiça do Trabalho relativo aos autônomos ligados à rede.

Para todas as deficiências apontadas, a empresa faz comentários no relatório, esclarecendo medidas tomadas. Sobre os autônomos, informa que está fazendo levantamento a respeito. Também implementou controle dos estoques. Afirma que vai passar a provisionar juros de empréstimos e já passou a fazer rateio devido de despesas.

A respeito dos lançamentos “off-book”, a Grant Thornton recomenda que a companhia evite a prática, “efetuando o máximo de lançamentos contábeis possíveis, possibilitando o rastreio e memória de todas as movimentações dos saldos contábeis”, diz. Sobre o assunto, a empresa espondeu à auditoria que “irá tomar as medidas possíveis para adequar-se”. Para a data de 30 de junho de 2020 os ajustes serão realizados em seus sistemas.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html

Em linhas gerais, ao comentar no documento enviado à CVM as deficiências verificadas, o grupo diz que “vem, anualmente, investindo na melhoria de seus controles internos”. Afirma que “mantém a evolução contínua dos seus processos de controle” e que em 2020, implantou um comitê de auditoria, que auxiliará a administração a supervisionar a implementação das recomendações da auditoria.

Procurada, a Grant Thornton informa que não comenta casos de clientes. Em linhas gerais, o trabalho de aprofundamento de controles acaba tendo que evoluir mais em empresas com capital recém-aberto, disse Octavio Zampirollo, socio líder de auditoria na Grant Thornton Brasil.

Boa parte das varejistas que fizeram IPO neste ano são redes controladas por famílias há décadas, com diversos negócios relacionados (operações entre partes relacionadas) e implementaram políticas de governança nos últimos anos, dizem especialistas da área.

O Grupo Mateus foi fundado em 1986 por Ilson Mateus Rodrigues. O IPO movimentou R$ 4,6 bilhões.

Zampirollo afirma ainda que deficiências apontadas pela auditoria não necessariamente são objetos do parecer das demonstrações financeiras anuais das empresas. Os pareceres dos auditores nos balanços de 2019 e 2020 do Mateus não mencionam as falhas apontadas no formulário de referência.

“Não haverá ressalva ou ênfase no parecer das demonstrações se o auditor vê que isso não gerou uma distorção material passível de qualificação”, afirma ele.

Anualmente, as auditorias preparam carta de recomendação de controles para as empresas abertas, que são encaminhadas aos grupos em maio. As deficiências podem ser leves, moderadas ou significativas.

Procurado, o Mateus informa que, m respeito ao período de silêncio, após IPO concluído neste mês, prefere não fazer adendos às informações já publicadas pelo grupo.

Com vendas líquidas de R$ 5,1 bilhões de janeiro a junho, 27% acima do mesmo período do ano passado, o Mateus tem crescido acima do mercado, e com aumento em margens. São 137 lojas, sendo 67 na área de eletrônicos e 41 em varejo alimentar. Com os R$ 4,6 bilhões do IPO, a empresa vai investir cerca de 3,9 bilhões (100% da oferta primária) em expansão orgânica, como abertura de lojas.

Fonte: Valor Investe