Saúde

‘Covid longa’ debilita pacientes e desafia especialistas

A Covid-19 pode desencadear problemas de saúde com efeitos de longo prazo e consequências persistentes. É o caso da “Covid longa”, condição em que, mesmo após o final da infecção no organismo, os sintomas continuam por mais de um mês. Os sinais mais comuns, conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS), incluem fadiga severa, alteração de sentidos e problemas no coração, pulmões e cérebro.

No Brasil ainda não há dados precisos sobre o tema, mas no Reino Unido, o Instituto Nacional de Estatísticas Britânico (ONS, na sigla em inglês) estima que aproximadamente 1,3 milhão de pessoas sejam acometidas por Covid longa. Desse montante, 70% (892 mil) contraíram o coronavírus pela primeira vez há, pelo menos, 12 semanas, e outros 40% (506 mil) há um ano ao menos.

A maior parte dos pacientes que pega a doença não desenvolve quadro grave e se recupera, relativamente, rápido. Contudo, apresentam sintomas de longo prazo após se recuperarem, mesmo não tendo ficado gravemente doentes no início.

Segundo o estudo do ONS, 3% das pessoas que testaram positivo para o coronavírus tiveram, pelo menos, um sintoma que durou três meses, em comparação a 0,5% que testou negativo.

É possível considerar que pessoas vacinadas são menos propensas a desenvolver Covid longa. Isso porque a vacinação pode ajudar a evitar que os indivíduos se infectem. O estudo sugere, ainda, que pode ser que a vacina impeça que eventuais infecções acarretem sintomas duradouros, mas aponta que isso ainda está menos claro.

Conforme ressaltado pela OMS, continuar a testagem de casos de Covid-19 de forma correta é importante para controlar a pandemia, identificar a quantidade de pessoas que já foram infectadas e diagnosticar casos. O teste rápido para Covid, por exemplo, pode ser encontrado em laboratórios e farmácias e leva de 10 a 30 minutos para ficar pronto, dependendo do fabricante.

Quais são os sintomas de Covid longa?

A Covid prolongada ainda não é compreendida e não há consenso científico internacional sobre o assunto. Por isso, definição, mensuração da frequência ou dos sintomas envolvidos podem variar.

No Reino Unido, por exemplo, os profissionais de saúde são orientados a considerar a covid longa os casos em que os sintomas persistem por, pelo menos, 12 semanas após uma infecção por SARS-CoV-2 e que não têm outra explicação de causa.

Segundo informações do site do NHS, sistema de saúde público do Reino Unido, os sinais englobam cansaço extremo, dor ou aperto no peito, palpitações no coração, falta de ar, problemas de memória e concentração, dor nas articulações, alterações no paladar e no olfato.

Pesquisas feitas com pessoas infectadas, todavia, mostram até centenas de outros sinais. Um levantamento da University College London (UCL) registrou 200 sintomas que atingem 10 sistemas de órgãos diferentes.

Insônia, alucinações, perda de memória de curto prazo, alterações na audição e visão e dificuldades de fala e linguagem estão entre eles. Foram relatados ainda alterações no ciclo menstrual, nas condições da pele e problemas gastrointestinais e de bexiga.

Pacientes mais propensos

Uma pesquisa feita pelo Hospital Universitário de Zurique, na Suíça, publicada na revista Nature Communications, identificou os pacientes que apresentam maior risco de desenvolver a Covid longa. O estudo encontrou biomarcadores específicos em pacientes que sofrem das sequelas, indicando que a junção de fatores como sintomas de Covid-19, idade e comorbidades gera maior risco para o desenvolvimento da condição.

Descobriu-se que essas pessoas têm níveis mais baixos dos anticorpos IgM e IgG3 em comparação àqueles que tiveram plena recuperação depois da infecção. O primeiro aumenta de maneira rápida logo depois da contração do SARS-CoV-2, já o segundo é produzido mais tarde e oferece uma proteção mais duradoura.

Pessoas de meia-idade e com asma foram as mais propensas a apresentar baixos níveis dos marcadores e a desenvolver o quadro prolongado de Covid-19.

De acordo com o autor principal do levantamento, o pesquisador do Departamento de Imunologia do hospital suíço, Onur Boyman, a ideia é que seja possível criar um teste diagnóstico, conforme mais estudos sejam realizados. Em entrevista à imprensa, o cientista ressaltou ter a expectativa de que os marcadores sirvam para desenvolver tratamentos específicos para a Covid longa.

Conforme considerou a professora de imunologia do King’s College London, Clarie Steves, em pronunciamento à imprensa, o trabalho é relevante para o tema, que necessita de pesquisas urgentes que descubram formas de evitar a Covid prolongada.

Ela pondera, entretanto, que o estudo do Hospital Universitário de Zurique utilizou um número pequeno de participantes e que “seria importante verificar se esses marcadores ainda são preditivos em pessoas vacinadas”.