Outubro Rosa: Conhecimento e prevenção ajudam a diminuir a mortalidade

O mês de outubro é mundialmente conhecido como Outubro Rosa, campanha que tem o objetivo de compartilhar informações sobre o câncer de mama e, mais recentemente, câncer do colo do útero, promovendo a conscientização sobre as doenças, maior acesso aos serviços de diagnóstico e contribuindo para a redução da mortalidade.

Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer, a estimativa é de mais de 66 mil novos casos de câncer de mama só em 2020, este é o segundo tipo de câncer mais comum entre as mulheres no Brasil. Por essa razão, o diagnóstico precoce é fundamental e aumenta as chances de cura do câncer de mama.

Independentemente da faixa etária, da infância à terceira idade, as mulheres precisam ter cuidados essenciais com a saúde para garantir qualidade de vida. Atualmente, o mês de outubro também serve para reforçar medidas que melhoram a vida das mulheres que já sofrem com a doença e discutir a saúde feminina como um todo. 

A médica oncologista da rede Hapvida, Anna Cláudia de Oliveira da Silva, destaca ações que as mulheres podem ter para viver uma vida saudável e diminuir o índice cada vez mais alarmante do câncer de mama, ressaltando que essa doença tem vários fatores, dentre eles o genético, o ambiental e a idade.

“Primeira coisa que as mulheres precisam ficar atentas é a alimentação, precisa ser o mais saudável possível, evitando carnes vermelhas, evitando frituras, açúcares, refrigerantes, e alimentos embutidos e processados, como linguiça e salsicha. É preciso ter uma ter uma alimentação rica em legumes, verduras, frutas e grãos. Dê preferência, aos alimentos orgânicos, que são alimentos sem agrotóxicos, a gente sabe que os agrotóxicos são cancerígenos”. Outras orientação da médica é praticar exercício físico, pelo menos três horas de atividades, por semana. Não fumar e não beber bebidas alcoólicas. Ir ao médico regularmente e fazer o auto exame. 

Como educação e saúde também é recomendado que a mulher conheça seu corpo e fique em alerta para qualquer alteração.  “Procurer atentar para os sinais ou sintomas, sangramento ou outras secreções que sai pelo mamilo, peito inchado, vermelho, endurecido, aparecimento de nódulos, modificação do formato do peito, são sinais que chamam atenção e levam o médico a fazer uma avaliação, algumas vezes é necessário fazer outros exames além da mamografia, como ultrassom, ressonância ou até biópsia. É importante estar um passo à frente, que é a prevenção, não esperar aparecer alguma coisa” garante a oncologista.

E em caso de um diagnóstico de câncer de mama, existem inúmeros tipos de tratamento, dependendo sempre de cada caso. Segundo a médica Anna Cláudia, normalmente o tratamento é feito por uma equipe com oncologista, radioterapeuta, cirurgião oncológico, mastologista e toda uma equipe multidisciplinar de apoio. “Muitas vezes essas lesões vão para cirurgia, que pode ser parcial ou total que é a mastectomia, pode ser necessário fazer quimioterapia e hormonioterapia. Alguns pacientes têm que fazer radioterapia e outros precisam fazer algum tipo de vacina. Temos que nos cuidar, nosso corpo é o nosso templo e tudo que é descoberto no início é mais fácil de tratar e de se curar. Quanto mais cedo o diagnóstico maiores são as chances de cura”, alerta a médica.

A publicitária, Thais Coimbra de 39 anos, conta que foi diagnosticada com câncer de mama aos 36. Ao receber a notícia entrou em choque, ela nunca tinha imaginado que isso aconteceria com ela. Procurou ajuda médica, fez todo o tratamento e hoje tenta viver uma vida mais saudável e preza pela saúde mental.

Como foi que você percebeu que tinha algo errado?

Em junho de 2017, fiz todos os exames de check-up. Entre eles, o ultrassom de mamas, que deu que estava tudo normal. Aí, em agosto de 2017, enquanto eu passava um creme para uma lesão de psoríase que surgiu na lateral da mama esquerda, eu senti um nódulo. Mas eu achei que poderia ser algo do ciclo, então, esperei um pouco. Em setembro, o nódulo continuava e resolvi marcar uma consulta com uma mastologista, que pediu um novo ultrassom de mamas e mamografia.

No ultrassom, eu lembro que a médica não viu gravidade e o laudo apontou achados provavelmente benignos, sugerido controle em seis meses. 

Na mamografia, eu imaginei que fosse concordar com o ultrassom, até porque nesse tipo de exame a visualização de algo em mamas jovens, que são mais densas, é mais difícil. Mas eles viram que tinha algo lá e o laudo apontou achados mamográficos suspeitos. Sugerindo prosseguir com investigação, com biópsia. 

Antes da biópsia, fiz um último exame de imagem, uma ressonância magnética com contraste, e aí sim, concordou com a mamografia. Fiz a biópsia (mamotomia) em dezembro 2017. Como era perto das festas de final de ano, só tive conhecimento do resultado em 5 de janeiro de 2018.

Como foi receber essa notícia?

Foi um choque. Até sair o resultado, eu tentava afastar meu pensamento de algo maligno. Já tinha pesquisado no Google, sabia que existiam tumores benignos. Além disso, pensava “não é possível, tenho só 36 anos, não fumo, nenhuma mulher da família da minha mãe teve isso…”

Mas aí, uma amiga que é oncologista teve acesso rápido aos meus resultados e veio me contar em casa. Foi um choque porque quando ouvi a palavra “câncer”, imediatamente pensei em morte. Minha amiga tentou me acalmar e me explicou tudo, que câncer de mama tinha cura, mas eu precisava agir rápido.

Como era o seu estilo de vida antes do diagnóstico?

Minha rotina de consultas com ginecologista e exames sempre foi regular, mas não tinha a prática de fazer o autoexame, até porque a possibilidade de câncer de mama nunca passou pela minha cabeça. 

Sobre alimentação mais nutritiva e atividade física nem sempre eram regulares na minha vida. Sempre fui um pouco acima do peso e não valorizava tanto frutas, verduras e legumes. Morando sozinha em São Paulo, com uma rotina cansativa, muitas vezes eu optava por consumir alimentos mais industrializados. 

Mas, dois anos antes de sentir o nódulo, em 2015, eu decidi mudar isso, pensando primeiro em emagrecer para melhorar a aparência, autoestima e disposição. Assim, consegui manter uma rotina de exercícios físicos, alguns dias com acompanhamento de personal trainer, e alimentação orientada por nutricionista, com muita salada e carne magra, pouca gordura e mais fibra. De forma gradual, eu havia eliminado 15 kgs.

Mas, a verdade é que existem fatores de risco modificáveis e não modificáveis Por exemplo, nesse processo, descobri alguns familiares que tiveram câncer de mama, apesar do grau de parentesco não ser tão próximo. Então, mesmo sendo possível prevenirmos a doença com todos esses cuidados com consultas regulares, alimentação e atividade física, vale ressaltar que não existe GARANTIA de imunidade ao câncer de mama e outras doenças crônicas, mesmo que o estilo de vida tenha sido o mais saudável possível desde sempre.

Quais foram as etapas do seu tratamento?

Minha amiga oncologista indicou um outro oncologista especializado em mamas. Fui à primeira consulta munida de vários laudos e ele foi super didático e me tranquilizou bastante, explicando tudo sobre o meu tipo de tumor, que tinha 98% de chance de cura. Ele também indicou outro mastologista para me acompanhar. Durante todo esse processo do tratamento e até após, quando curadas, as pacientes mantêm essa rotina de consultas com esses dois especialistas: o onco e o mastologista, que é quem faz a cirurgia na mama.

O tratamento do câncer de mama é muito complexo, há vários procedimentos que a paciente precisa fazer durante o período da quimioterapia e personalizado, pois existem vários tipos de tumor. O meu era receptor Hormonal Positivo e HER2 Positivo. O Her2 é uma proteína responsável pelo crescimento de uma grande quantidade de células no corpo humano. Cânceres que possuem elevada taxa dessa proteína tendem a se reproduzir mais rapidamente. Apesar disso, esse é um tipo muito mais propenso a responder positivamente ao tratamento.

No meu caso, meu oncologista estruturou um tratamento neoadjuvante: o primeiro passo foram as sessões de quimioterapia; o segundo, a cirurgia; e o terceiro, a radioterapia.

Então, eu fiz primeiro seis sessões de quimioterapia, uma sessão a cada 21 dias. 

Após a sexta e última sessão, fiz uma ressonância magnética que indicou que o nódulo havia sumido. Mas, meu mastologista e oncologista concordaram que, mesmo assim, era melhor retirar um pouco da área da mama onde ele se encontrava. Além disso, eu ainda havia linfonodos na axila que estavam comprometidos e também precisariam ser retirados em cirurgia. Então, em junho de 2018, um mês depois da última químio, eu fiz a cirurgia e retirei uma parte pequena da lateral da mama e sete linfonodos da axila. Passados uns dias, tivemos acesso ao exame feito no material, que detectou que, felizmente, não havia nenhuma célula neoplásica, nem no que foi retirado da mama e nem nos linfonodos. 

Por fim, em agosto iniciei as sessões de radioterapia. Foi uma etapa tranquila, mas eu precisava ir todos os dias durante dois meses para fazer a aplicação.

Atualmente, eu só preciso tomar diariamente o citrato de tamoxifeno, um comprimido que tem a função de proteger as células das mamas dos hormônios que voltamos a produzir após a quimio.

Hoje quais os cuidados que você toma com a saúde?

Não houve mudanças extremas nos cuidados, mas, com certeza, eles foram reforçados. O controle que eu tinha com agendamentos de exames e consultas aumentou. Procurei reforçar os exercícios físicos que pausei durante o ano de tratamento e, mesmo com a pandemia, procuro caminhar em ruas sem aglomerações, subir as escadas do prédio, fazer alongamentos, enfim, me manter em movimento. 

Na alimentação, tenho pesquisado receitas com legumes e verduras. Eu não era de cozinhar muito, mas as receitas estão dando certo e essa prática tem sido interessante para mim, como um novo hobby. Assim, tenho priorizado o consumo de alimentos mais naturais e orgânicos, deixando de lado os industrializados.

Muito importante também é a saúde mental, por isso, tenho tentado adquirir outros hobbies, como leitura e meditação, para relaxar, não pensar tanto nos problemas e receios, e, principalmente, para viver o agora.