Festival Interativo de Música e Arquitetura celebra o histórico Palácio dos Leões com concerto inédito
Em sua segunda edição, depois de homenagear monumentos arquitetônicos históricos do Rio de Janeiro, Belém e Petrópolis, o FIMA – Festival Interativo de Música e Arquitetura convida, desta vez, o público de São Luís a celebrar, através do diálogo entre música e arquitetura, um importante monumento arquitetônico de sua cidade, o Palácio dos Leões. Em decorrência das fortes chuvas em março, que resultaram na interdição do trafego em torno do edifício-sede do governo do Maranhão, o FIMA celebrará esta construção centenária, porém, em outro espaço. Na próxima quarta-feira, dia 12, às 18h, o violonista Fábio Zanon subirá ao palco do Auditório da Escola de Música do Estado do Maranhão, acompanhado da arquiteta e urbanista Noemia Barradas e, juntos, irão reverenciar o Palácio dos Leões, ícone arquitetônico de São Luís. Com entrada gratuita, o evento contará, em prosa e música, a história deste fascinante prédio localizado no centro histórico da cidade, inicialmente construído no século XVII, quando franceses estabeleceram a colônia da França Equinocial.
Programa
O concerto começa com uma homenagem de Heitor Villa-Lobos aos indígenas brasileiros, o seu Prelúdio nº4, uma obra que evoca a herança cultural dos povos nativos, tão presente nas raízes do Palácio dos Leões -construído sobre as ruínas de uma fortificação erguida pelos franceses em um sítio antes dominado pelos índios Tupinambás. Também de Villa-Lobos, Fabio Zanon irá apresentar duas peças emblemáticas do conjunto de 12 Estudos para Violão: o Estudo nº 10, um obra que explora o virtuosismo do intérprete ao mesmo tempo em que apresenta uma riqueza melódica e grande intensidade emocional; e o Estudo nº 11, mais introspectivo e lírico, de atmosfera melancólica e nostálgica, evocando a saudade de outros tempos deste emblemático edifício.
As músicas Entré de Luth, Grand Ballet de St Germain e La Princesse,de Robert Ballard, e Branle Gay, Air de Court e Volte, de Jean-Baptiste Besard, transportam o ouvinte para o dia 8 de setembro de 1612, quando os franceses estabeleceram, entre os estuários dos rios Anil e Bacanga, na ilha de Upaon-Açu, a colônia que batizaram de França Equinocial. As obras de Jean-Baptiste Besard conduzem o ouvinte para o período da construção do forte no local ao qual deram o nome de São Luís, em homenagem ao rei Luís IX, da França. Sons de uma renascença europeia, que se reflete no estilo arquitetônico deste Palácio neoclássico, onde encontramos ainda hoje elementos decorativos e arquitetônicos inspirados neste estilo.
Após a expulsão dos franceses, em 1615, o forte de São Luís foi rebatizado São Felipe pelos portugueses e no seu interior se iniciou a construção da residência dos Governadores. Em 1766, o governador Joaquim de Melo e Póvoas determinou a demolição do velho palácio do Governo e a construção de um novo edifício em pedra e cal, para melhor acomodar a família dos capitães-generais. É deste mesmo período Cantabile em ré maior, de Joachim Bernhardt Hagen. A peça nos permite também traçar um paralelo com o estilo neoclássico predominante no Palácio dos Leões ao trazer a elegância e a sofisticação da música do período clássico que dialoga com a fachada desta construção, com suas belas colunas e balaustradas.
A continuação do programa explora a rica tradição musical brasileira. De Mário Amaral, Valsa Saudosa resgata também o romantismo e a brasilidade presente nos interiores do Palácio dos Leões, cujo mobiliário evoca a época dourada do Maranhão – assim como o seu incrível acervo de obras de artes brasileiras, como as telas de seu contemporâneo pintor Antonio Parreiras. Saudosa se destaca pela sua delicadeza e lirismo, evocando a atmosfera nostálgica das valsas brasileiras do período romântico. A peça apresenta uma melodia singela e expressiva, que se desenvolve sobre uma base harmônica sofisticada, típica do estilo de Mário Amaral. Já a peça de Alberto Baltar, Devaneios nº 1, irá se conectar à decoração suntuosa dos salões, que apresentam ricos ornamentos em estuque, pinturas e espelhos, remetendo ao refinamento da Belle Époque.
O programa faz uma justa e merecida homenagem aos 80 anos de um cidadão maranhense de grande prestígio na música brasileira, o instrumentista e compositor Turíbio Santos. Sua Valsa de Arthur de Azevedo faz uma homenagem ao escritor e à história literária maranhense. Além de teatrólogo, contista, jornalista e poeta, Arthur Azevedo foi um grande apreciador e colecionador de obras de artes – sua coleção foi adquirida pelo Governo do Maranhão em 1910, e integra o importante acervo do Palácio dos Leões. Também de Turíbio Santos, Rua das Hortas celebra esta rua histórica de São Luís. Aliás, ambas as peças de Turíbio estabelecem uma conexão direta com a expressiva cultura local, uma luxuosa contribuição deste cidadão ludovicense que encantou e encanta o mundo com o seu violão transbordando talento e virtuosidade.
Finalmente, os Estudos 3, 5, 8 e 9, de Francisco Mignone, revelando a fusão entre a tradição clássica europeia e os elementos brasileiros, assim como o Palácio dos Leões, com sua mistura de estilos arquitetônicos e culturais que formam a identidade única da cidade de São Luís.
Programa
HEITOR VILLA-LOBOS
Prelúdio nº 4 “homenagem aos indígenas brasileiros” 4’
Estudo nº 11 4’
Estudo nº 10 3’
ROBERT BALLARD (c.1575-c.1650) 6’
Entré de Luth
Grand Ballet de St Germain
La Princesse
JEAN-BAPTISTE BESARD (c.1567-c.1625) 6’
Branle Gay
Air de Court
Volte
JOACHIN BERNHARDT HAGEN (1720-c.1787)
Cantabile em ré maior 3’
MARIO AMARAL (?-c.1925)
Saudosa (valsa) 3’
ALBERTO BALTAR (?-? início do século XX)
Devaneios nº 1 4’
TURIBIO SANTOS (1943-)
Valsa de Arthur de Azevedo 2’
Rua das Hortas 2’
FRANCISCO MIGNONE (1887-1986) 15’
Estudo nº 3
Estudo nº 5
Estudo nº 8
Estudo nº 9
Foto: Gilson Texeira