Em comunidades quilombolas, TV Educação ajuda a vencer os desafios da pandemia

Em Alcântara, cidade predominantemente quilombola, alunos do ensino médio estão utilizando a TV Educação – Caminho para o Saber como reforço para os estudos durante a pandemia.

Com o ensino remoto por causa da crise do coronavírus, o corpo docente do Centro de Ensino Educa Mais Professor Aquiles Batista Vieira, está indicando o canal aberto de televisão, lançado em março pelo Governo do Maranhão, para complementar as atividades dos estudantes.

Segundo a coordenadora geral Léa Mamede, a pandemia acelerou o processo de adaptação dos professores no ensino à distância. No Batista Vieira, única escola estadual do município, são 320 alunos do ensino médio divididos em oito turmas.

“2020 foi como se nós tivemos aprendido, e realmente aprendemos. Este ano nós fizemos um planejamento para o ensino remoto desde o ato da matrícula, para estarmos sempre em contato com o aluno e com a família, fomos proativos imaginando justamente que a pandemia não iria ser resolvida tão rápido, e infelizmente não está sendo”, diz a gestora.

Localizada no Litoral Ocidental Maranhense, Alcântara representa bem o Brasil rural pouco conhecido no eixo Sul-Sudeste. Segundo o Censo de 2010, são aproximadamente 22 mil habitantes, mas apenas seis mil vivem no núcleo urbano. Os demais moradores se dividem em 207 povoados ou quilombos na zona rural. E, por causa da distância, alguns alunos possuem dificuldade no acesso à internet.

“Desde o ano passado, quando o Governo do Maranhão disponibilizou chips de celular para os secundaristas terem acesso à internet, nós fizemos de tudo para encontrar os ‘alunos off-line’, já que, por causa de uma reforma em nosso prédio, o ano letivo de 2020 começou durante pandemia, e com as aulas presenciais suspensas não tivemos contato com os nossos estudantes.”

Saga

Surpreendidos pela pandemia, Léa conta que os gestores começaram uma verdadeira saga em busca dos alunos, espalharam cartazes e percorreram a casa lotérica e as duas agências bancarias da cidade na tentativa de encontrar pais ou vizinhos dos estudantes para avisar que as aulas estavam acontecendo de maneira remota.

“Para você ter uma ideia, no primeiro semestre do ano passado nós tivemos apenas 39% dos alunos participando. Já no segundo semestre, lutando de todas as formas, alcançamos 93% dos alunos matriculados participando das aulas remotas. Então, de uma forma ou de outra, nós sabíamos o que estava acontecendo com todos da nossa escola”, relata.

Em 2021, prevendo o prolongamento da pandemia, o Governo do Maranhão disponibilizou os chips antes do início das atividades escolares. “Neste ano nós fizemos uma campanha de entrega, os três gestores da escola, fizemos uma força-tarefa pelas comunidades e povoados. E agora a televisão veio como um reforço. Durante a manhã estamos seguindo o cronograma regulamentar e pela tarde estimulamos esse reforço. Esse projeto é perfeito! Os professores têm aquela pegada de cursinho e nós estamos tentando criar todas as condições para que os alunos utilizem essa ferramenta”, comenta.

Feliz pelos resultados alcançados, Léa Mamede torce agora pela vacina e para que a rotina presencial da escola volte na medida do possível. “Nossa escola é de tempo integral, é pautada na presença, no sentir, no olho no olho. E, com esse rompimento, tivemos que nos recriar. Profissionalmente, estamos em melhores condições do que em 2020, quando era tudo muito incerto. E eu sei que as coisas não voltam como era antes, mas eu espero, de verdade, que possamos muito em breve receber os alunos outra vez”, completa.

Notas

1. Com sinal aberto, a ‘TV Educação – Caminho para o saber’ pode ser sintonizada no 10.2. As videoaulas para o 1º ano ensino médio são exibidas às 7h da manhã, com reprise às 13h e às 18h30. 2º ano: 8h30, com reprise às 14h30 e às 20h. 3ª ano: 9h40, com reprise às 15h40 e às 21h10. A Secretaria de Educação (Seduc) planeja expandir a programação, com cursos e oficinas ministradas por profissionais do Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IEMA), além de aulas de idiomas. A grade é divulgada diariamente pelo site e páginas oficiais Seduc nas redes sociais.

2. Além de Alcântara, o sinal da TV alcança outros 15 municípios maranhenses: Axixá, Bacabeira, Bacurituba, Balsas, Davinópolis, Gov. Edison L., Icatu, João Lisboa, Paço do Lumiar, Raposa, Rosário, São Bento, São José de Ribamar, São Luís e Senador Lá Roque. A Seduc trabalha pra ampliar o sinal para todas as regiões do estado.

3. Ainda em 2020, o Governo do Maranhão distribuiu 115 mil chips de celular para os alunos da rede pública que cursavam o ensino médio. Naquela época, o objetivo era fazer com que os maranhenses não fossem prejudicados durante a preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Com 20 GB de pacote de dados, os estudantes tiveram acesso livre à internet até janeiro de 2021, mês que foi realizado as provas do principal vestibular do Brasil. Agora, em fevereiro de 2021, uma nova remessa de 200 mil chips começou a ser distribuída para todos os alunos da rede pública que cursam o ensino médio no estado. A intenção é reduzir os danos à aprendizagem em face da pandemia.