Saúde sexual: informação de adolescente para adolescente

São Luis, 05 de fevereiro – Caixinhas espalhadas durante algumas semanas em diversas escolas do município de Urbano Santos, no Maranhão, foram o ponto de partida para debater com os adolescentes um tema às vezes encoberto pela vergonha: saúde sexual e saúde reprodutiva. Em cada caixinha, os estudantes podiam depositar, anonimamente, qualquer dúvida que tivessem relacionadas a assuntos como métodos contraceptivos, infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), gravidez na adolescência, entre outros.

A dinâmica foi organizada pelos integrantes do Núcleo de Cidadania de Adolescentes (NUCAs), estratégia do Selo UNICEF para efetivar o direito de adolescentes à participação. Na cidade maranhense, os integrantes do grupo decidiram entrar com tudo na ação. “A gente teve a ideia de criar uma caixa surpresa porque esse tema é difícil, muitos adolescentes se sentem presos para falar sobre isso”, explica a mobilizadora de adolescentes Kelly Correia.

Para muitas meninas e muitos meninos, saúde sexual e saúde reprodutiva são tópicos que não aparecem com frequência nas conversas com a família. Fabricio Sousa, 18 anos, membro do NUCA, acredita que a conversa deveria ser comum desde a infância, mas, muitas vezes, a vergonha e a falta de abertura para tratar do assunto com os pais impedem que isso aconteça. “Esse tema é mais conversado na roda de amigos, até como uma forma de brincadeira, não vem como algo tão sério. E isso não é saudável”, opina o adolescente.

Conversa de igual para igual
Com base nessas vivências, os integrantes do NUCA decidiram mudar a realidade de Urbano Santos e falar sobre saúde sexual e saúde reprodutiva de uma forma diferente: de adolescente para adolescente. A ideia era promover o diálogo sobre o tema, trazendo as dúvidas à tona, ajudando a saná-las e abrindo espaços de conversa e troca.

Para que a ação desse certo, os membros do NUCA começaram buscando informação. Com as perguntas das caixas em mãos, organizaram as dúvidas e convidaram um profissional de saúde para uma roda de conversa. “Percebemos que as perguntas eram muito parecidas, a maioria dos adolescentes tinha as mesmas dúvidas” conta Fabricio. Junto com o profissional, organizaram as respostas para cada pergunta – e aproveitaram para tirar as próprias dúvidas.

Com todos mais informados, era hora de reunir as meninas e os meninos do município. Buscando que o diálogo alcançasse o maior número de pessoas, o NUCA organizou um evento no ginásio da cidade e convidou todas as escolas da região a participar.

Lá, abriram a caixa com as perguntas selecionadas e contaram com a presença de enfermeiros para responder às dúvidas. “Por conta do assunto tratado, pensamos que a ação não teria sucesso. Mas, quando fizemos, ficamos maravilhados”, relembra Kelly. Com o ginásio lotado, adolescentes de todas as escolas do município puderam conversar sobre saúde sexual e saúde reprodutiva, e tirar dúvidas, em um ambiente de troca e educação de adolescente para adolescente.

Mais informação para cuidar de si
Membro do NUCA, Sanaeli de Medeiros ficou muito feliz em ver o tema discutido entre os adolescentes. Aos 17 anos, a menina conta que saúde sexual é um tema sensível no município. “Urbano Santos tem um fluxo muito grande de adolescentes grávidas. A minha mãe, por exemplo, me teve aos 18 anos”, diz ela.

Sandra Carvalho, mãe de Sanaeli, quer uma história diferente para a filha. “Eu não quero ter filhos agora e minha mãe me apoia. Estou focada nos meus estudos, e na faculdade que vai vir no próximo ano”. Desde que entrou no NUCA, a adolescente conta que tem mais abertura para falar sobre o assunto, o que a ajuda a cuidar de si e compartilhar informação com seus amigos e amigas.

Para Fabricio, esse é o principal fator de sucesso da mobilização: abrir as portas para uma conversa de igual para igual sobre saúde sexual e saúde reprodutiva no município. “O legal disso tudo não foi envolver só adolescentes, mas também crianças que não conversavam com seus pais sobre o tema e se abriram para nós, jovens”, diz. A ação foi tão positiva que, pouco depois, o grupo decidiu repetir a dose e criar uma feira cultural sobre gravidez na adolescência, inserindo outros temas pouco discutidos com os adolescentes do município, como drogas.

Mariana Rodrigues, 17 anos, integrante do NUCA, acredita que diálogo e informação são elementos-chave para ajudar outros adolescentes a que se cuidem e não tenham vergonha de falar sobre determinados temas. Para ela, o NUCA é o espaço em que podem fazer isso, unir vozes e se tornar multiplicadores. “Nós somos o futuro, e a nossa conscientização desde agora vai refletir no que vamos ser amanhã. É um protagonismo jovem. Agora, a gente tem voz e vez”, sorri.