Rita Benneditto no show Tecnomacumba – 20 Anos de Axé
Rita Benneditto volta aos palcos de São Luís com o show “Tecnomacumba” para celebrar 20 anos de resistência e axé e o aniversário da cidade. O show acontece dia 09 de setembro, às 22h,na Praça Praça Maria Aragão – Beira Mar.
Para essa grande festa, Rita convidou os lendários multi-artistas Dzi Croquettes, Ciro Barcelos, que assina a direção artística, e Claudio Tovar, responsável pelo figurino da cantora. A noite ainda promete uma grande gira, com as participações especiais do artista visual Fernando Mendonça, da bailarina Kiusam de Oliveira e do diretor, ator e bailarino Ciro Barcelos.
O ano de 2003 representa um marco na vida de Rita Benneditto. Na ocasião, a cantora maranhense, cujo timbre é um dos mais expressivos da nossa música e sua voz uma das maiores forças de resistência em nosso país, estreava um show no qual jogava luz sobre aspectos da nossa ancestralidade – e que muito dizem da nossa identidade enquanto Cultura e Nação. O show era o “Tecnomacumba” e o nome não poderia ser mais apropriado. No repertório, pontos e rezas ligados às religiões de matrizes africanas mesclados a temas da MPB, de autores como Gilberto Gil e Jorge Ben, em que entidades-símbolos da nossa fé são louvados/evocados. Tudo isso apresentado com arranjos modernos, em roupagem eletrônica, que saía então dos clubes e ganhava de vez as pistas mundo afora. E a iniciativa rendeu frutos: 1) são quatro os registros, um CD de estúdio e dois ao vivo, sendo um deles em DVD e o videoclipe 7Marias; 2) foi longe (até em Dakar, no Senegal, o show já foi visto); 3) rendeu prêmios como o Rival Petrobras (show) e o da Música Brasileira (melhor cantora). Por uma coisa a artista não esperava: que o show seria apresentado durante 20 anos e não dá sinais de esmorecer. Mesmo durante os dois anos de recolhimento devido a pandemia da Covid que assolou o mundo, Tecnomacumba, manteve-se ativo em formatos online, e agora retorna aos palcos com força e fé.
Com Tecnomacumba, Rita provou que o elo que une nossa música à eletrônica tem como alicerce o bater dos tambores, cujos ecos reverberam para além dos terreiros, passando pelas patuscadas e rodas de samba que animam os fundos de quintal, e as pistas de danças nos grandes centros do Brasil e do mundo. Acontece que um show é também um organismo vivo. E pulsa. Ao longo desse tempo, Tecnomacumba não se manteve estático. Não em se tratando de Rita Benneditto. O show tornou-se uma grande referência para as novas gerações, amadureceu – assim como sua intérprete – e possibilitou a ela experimentar, ousar e, por que não, reinventar-se.
A cada ciclo, novas transformações acontecem em muitos aspectos. Para a celebração desses 20 anos de axé, por exemplo, Rita convidou os multi artistas Ciro Barcelos e Claudio Tovar, do lendário e vanguardista grupo “Dzi Croquettes”, para juntos respectivamente atuarem na direção artística e figurino do show, promovendo uma conexão entre gerações que permanecem na luta contra preconceitos e paradigmas comportamentais vigentes até hoje em nossa sociedade. O adereço de cabeça, inspirado em um cocar indígena, foi criado especialmente para Rita por Victor Hugo Mattos, estilista que vem se destacando no universo fashion atual. A iluminação do espetáculo, elaborada a partir de referências de cores e movimentos dos orixás, leva a assinatura de Daniela Sanchez.
Outras transformações presentes, dizem respeito às intervenções que acontecem durante o show, como a print-performance do multi artista Fernando Mendonça, que a cada apresentação escolhe um orixá para pintar, assim como a intervenção da bailarina Kiusam de Oliveira e do diretor, ator e bailarino Ciro Barcelos, que celebram os orixás Oxum e Oxóssi com belas coreografias.
A banda Cavaleiros de Aruanda, que acompanha a artista desde a estreia do projeto, conta agora com os músicos Fred Ferreira (guitarras e vocais), Wagner Bala (contrabaixo e vocais), Ronaldo Silva (bateria, programações eletrônicas e vocais) e Júnior Crispim (percussão e vocais). E no repertório, novas canções como “Mamãe Oxum” (Domínio Público) e “7Marias”, composição da própria Rita em parceria com Felipe Pinaud, lançada em 2018, quando o show completou 15 anos. Hoje o videoclipe “7Marias” já atingiu a marca de 4 milhões de visualizações.
Tecnomacumba permanece sendo um manifesto de brasilidade e uma intervenção cultural, que em 2022, foi referência para o enredo “Fala Majeté – As setes chaves de Exu” da escola de samba campeã do carnaval carioca, a Acadêmicos do Grande Rio. Rita foi destaque na escola no carro alegórico “Exu – A boca que tudo come”. “Participar do desfile da Acadêmicos do Grande Rio me deu a certeza do caminho que venho percorrendo na luta.
pelo reconhecimento da cultura e religiosidade afro-brasileira. Saber que Tecnomacumba é referência do enredo criado pelos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora, me deixou em êxtase. Exu riscou e firmou ponto na maior avenida do mundo. Exu venceu e nós vencemos com ele”, diz a cantora.
A longevidade desse bem-sucedido projeto pode ser explicada a partir da junção de alguns fatores cruciais. O primeiro deles talvez seja a perseverança. Da artista, dos músicos e da equipe por ele responsável. Perseverança que ganhou da crítica a acolhida necessária para seguir adiante. E que encontrou no contato com o público a guarida para ir além. Muitos são os espectadores que já perderam a conta das vezes que assistiram ao show. E entre os fãs do projeto estão grandes colegas de cena e de ofício. Gente como Maria Bethânia (que participou do CD ao vivo e do DVD), Alcione, Ney Matogrosso, Leci Brandão, Sandra de Sá, Margareth Menezes e companheiros de geração como Chico César, Teresa Cristina, Mart’nália, Marcos Suzano, Davi Moraes, Zeca Baleiro, entre outros.
Entre os colegas ilustres que reconhecem o talento da artista está o cantor e compositor Caetano Veloso. No texto escrito para o DVD do show, o baiano não só destaca as qualidades vocais da intérprete como confirma sua fama de visionário ao prenunciar: “Este disco tem um futuro intrigante e pode vir a dizer mais do que parece agora”. Caetano tem razão. O projeto diz muito sobre um país que não pode ser perdido, apagado. Ainda mais (e sobretudo) no Brasil de agora.