Pandemia dos desiguais: pobreza extrema continua nos lares maranhenses

A pobreza extrema afeta de forma drástica a qualidade de vida das pessoas. Quem não tem condições para realizar o básico, vive com o mínimo, por vezes, nem com isso. No meio da dúvida, problemas de saúde, aumento da desigualdade social e um distanciamento cada vez maior dos mais ricos.

Dados divulgados pelo IBGE em 2020 apontaram que em 2019, no Maranhão, mais de 1 milhão de pessoas viviam abaixo da linha da pobreza. Essas famílias não tinham condições de comer todos os dias ou acesso ao saneamento básico. Por causa da pandemia, esse número pode ter aumentado ou permanecido.

A falta de alimentação saudável, com o tempo, cobra um preço muito caro. Com o peito de frango custando 20 reais em grande parte dos supermercados, sai mais em conta comer enlatados, porque dá para a semana toda.

De acordo com o professor de Ciências Contábeis do Centro Universitário Estácio São Luís, Reis Rocha, com base nos preços dos produtos alimentícios atuais, o valor mensal mínimo por indivíduo, necessário para gastos com alimentação familiar, por situação de segurança alimentar existente no domicílio, seria em torno de R$ 348,60.

No Maranhão, inúmeras famílias vivem com essa quantia para manter, em média, cinco pessoas. Ou seja, um valor que pelas contas não dá pra cobrir todos os gastos com alimentação e saúde para todos os integrantes da família.

Segundo pesquisa realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), no ano de 2021, seria necessário R$ 5.179,00, para custear com os itens de alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência. Para os maranhenses, essa realidade está cada vez mais distante. Um levantamento do IBGE apontou que 74% da população maranhense vive com menos de um salário mínimo.

Sem trabalho, a população mais pobre depende dos programas sociais do Governo Federal. Mas, para o professor, a quantia paga não supre todas as necessidades.

“O valor recebido do governo, auxilio Brasil, pelas pessoas na faixa da pobreza oriundos do bolsa família de R$ 250 é insuficiente para recompor a perda de renda da população mais pobre em meio à pior fase da crise de saúde pública provocada pela covid-19. Recentemente, o governo federal determinou que até o final do ano de 2022, todas as famílias devem receber o valor mínimo de R$ 400 por mês”, explica.

Qualidade de vida inexistente

Além de não ter uma alimentação saudável, a população mais pobre come de tudo. As comidas mais baratas como os enlatados e industrializados são as opções que cabem no bolso. Esse tipo de consumo somado à falta de saneamento básico causa uma onda de problemas sociais graves.

As doenças começam a surgir, também, por causa dos fatores externos. Sem casa própria ou condições para pagar aluguel, a população mais pobre vive em locais insalubres, que não possuem esgoto ou água potável. Para se ter uma ideia, ano passado, mais de 61 famílias viviam debaixo da ponte São Francisco, na região central de São Luís, capital do Maranhão. Crianças e idosos, por terem o sistema imunológico mais fraco, acabam sendo as maiores vítimas dessas doenças.

A médica clínica geral do Sistema Hapvida, Aparecida Quintanilha, explica que as parasitoses são comuns em locais sem saneamento básico, causando diarreia, hepatite A e cólera.

“Sem saneamento básico, as pessoas vão ter contato com o solo, a água e os alimentos contaminados. Se os alimentos não são bem lavados ou cozidos, a chance de infecção aumenta. Por isso, quem apresenta um desses sintomas, precisa urgentemente procurar ajuda médica, pois a demora no diagnóstico de muitas doenças pode acelerar a evolução das infecções, que podem levar o indivíduo a óbito”, alerta.

Por vezes, quem depende do SUS, precisa esperar por semanas para conseguir uma consulta. Um levantamento feito pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) apontou que no ano passado 904 mil brasileiros estavam esperando por uma cirurgia na rede pública. Toda essa espera pode custar vidas.