Nossa Gente: Guardiã da Capelinha de São Benedito fala sobre seu amor pelo Centro Histórico de São Luís

“No mês de junho tem o bumba meu boi…” e se não fossem as restrições impostas pela pandemia da Covid-19, teria muito mais, já que o São João do Maranhão é marcado por sua diversidade de manifestações culturais. Uma delas é o Tambor de Crioula, expressão de matriz africana, repleta de cores, cantos e ritmos fortes marcados pela parelha de tambores que faz a coreira girar em louvor a São Benedito.

Segundo registros do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), São Benedito tem duas narrativas de origem. Uma conta que ele era um escravo que um dia foi à mata e cortou um pedaço de tronco de árvore, fazendo um tambor, e depois ensinou os outros negros a fazerem e a tocarem o tambor. 

A segunda versão é que o santo foi um cozinheiro do monastério, que escondia comida em suas vestes e levava para os pobres. Embora não haja um consenso sobre a origem do santo, o fato é que ele é reverenciado por muitos integrantes dos grupos de Tambor de Crioula, que carregam em sua história as marcas de uma resistência cultural e religiosa.

Em São Luís, um dos mais conhecidos redutos do Tambor de Crioula fica na Praça da Faustina, no Centro Histórico da capital, onde está localizada a Capelinha de São Benedito. Sua guardiã, Carla Raquel, é a personalidade deste mês da série Nossa Gente, realizada pela assessoria de comunicação da Secid, por intermédio do Programa Nosso Centro.

Carla nos contou como surgiu a Capelinha e sobre sua ligação com a cultura do Centro Histórico de São Luís. “Certa vez eu estava almoçando na Feirinha da Praia Grande, logo depois, vim e sentei num desses bancos aqui da praça e fiquei observando o espaço. Dona Faustina era proprietária desse bar, bem em frente à praça. Antes dela morrer, ela realizava rodas de samba bem aqui. Certo dia, chamei alguns amigos e resolvemos transformar o antigo depósito da praça, que estava acumulando bastante lixo, em uma capela em homenagem ao santo, e assim já se vão oito anos cuidando do espaço com muito amor”, disse. 

O amor de Carla pela cultura maranhense é tão grande e intrínseco, que ela é conhecida como Carla Coreira entre os amigos e artistas. “Nossa gente são essas pessoas que fazem arte e movimentam o Centro Histórico. Não tem coisa melhor. Eu vou morrer aqui. Daqui eu não saio tão cedo”, enfatizou.

Coreiras ou dançadeiras são as mulheres que fazem a dança circular em torno dos cantadores. Ao som do toque dos tambores e das toadas. Uma coreira dança dentro da roda e com a punga ou umbigada ela saúda outra dançadeira.

Ações do Governo no Centro

Por meio da Secretaria de Cidades e Desenvolvimento Urbano (Secid), o Governo do Maranhão criou o Nosso Centro, programa que tem por objetivo tornar o Centro Histórico de São Luís referência em renovação e desenvolvimento sustentável, preservando a historicidade e cultura, ao mesmo tempo em que promove o Centro da cidade de São Luís como espaço democrático. Atualmente, 32 intervenções estão em andamento em imóveis do Centro Histórico de São Luís, por meio das ações Adote um Casarão, Habitar no Centro e Recuperação do Patrimônio.