Nas UTIs ou em pesquisas, profissionais ajudam a entender relação do coronavírus com a saúde bucal
A importância da atuação dos dentistas tem sido ressaltada durante a pandemia, quando o atendimento a pessoas internadas e pesquisas vêm mostrando que estar atento à saúde bucal pode ajudar a diminuir a gravidade da covid-19, assim como já se sabia sobre outras doenças.
Um dos estudos mais recentes, realizado por um grupo de cientistas da Universidade do Cairo, no Egito, em parceria com membros da Academia Americana de Cardiologia, mostrou que a má saúde bucal aumenta o risco de desenvolvimento da covid-19 na forma grave, especialmente em pessoas com algum problema cardíaco. A pesquisa avaliou o estado de saúde bucal, a gravidade dos sintomas da covid e os níveis de proteína C reativa – que determinam quando há inflamação no corpo – além do tempo de recuperação de 86 pacientes egípcios com doenças cardíacas e covid-19.
“Eles confirmaram estudos anteriores que mostram que a cavidade oral é um reservatório para patógenos respiratórios e que relacionam a má higiene bucal com o risco de complicações por covid e doenças cardiovasculares”, comenta o dentista e especialista em Saúde Coletiva na Neodent, João Piscinini.
Outro estudo publicado no Journal of Clinical Periodontology, revista da Federação Europeia de Periodontologia (FEP), concluiu que problemas gengivais levam um paciente a ter 3,5 vezes mais chances de ser internado pelo coronavírus e uma probabilidade de 4,5 vezes maior de precisar de um ventilador mecânico.
As ligações entre o vírus e a boca não param por aí. Pacientes que já portam o vírus podem vir a apresentar aftas e feridas na mucosa oral, como mostrou o Journal of Dental Research. Além das doenças virais, diversas outras complicações podem indicar alertas pela boca, como sífilis, leucemia, anemia, cirrose e até diabetes.
Além dos consultórios
Dentro das Unidades de Tratamento Intensivo, os cuidados bucais se tornaram um procedimento essencial para auxiliar na recuperação e também para evitar a proliferação do coronavírus. A higienização e descontaminação da cavidade bucal de forma correta e com os materiais adequados garantem que a boca fique livre de microrganismos que podem agravar o quadro do paciente. De acordo com um manual desenvolvido e publicado pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO), em parceria com a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIBI), o vírus pode agravar problemas pulmonares a partir da alteração da microbiota bucal, que é o conjunto de microrganismos que habitam a boca.
Por esse motivo, além de médicos, enfermeiros e fisioterapeutas, os profissionais de odontologia também integraram equipes de UTIs da covid em vários hospitais. A experiência e a atuação dos dentistas dentro desses ambientes foram primordiais para o processo de recuperação dos pacientes internados, sem colocar a equipe profissional em risco.
O especialista em Saúde Coletiva João Piscinini comenta que o perfil multiprofissional das equipes que atuam na linha de frente da covid-19 é um dos grandes aprendizados da pandemia, além do reforço da relação entre saúde bucal e saúde sistêmica. “Precisamos estar atentos aos sinais de que a boca pode nos dar de como vai a saúde de uma maneira geral. Neste período, percebemos como é crucial garantir que nosso corpo esteja forte e nutrido, em todas as áreas. O cuidado com a saúde bucal também como uma ação preventiva a outras doenças foi evidenciado”, comenta Piscinini.