Mestres do Bumba Meu Boi e do Tambor de Crioula estão entre os homenageados no São João do Maranhão 2022

Um cortejo pelas ruas do centro de São Luís com mais de 3.000 pessoas marcou a abertura oficial do São João do Maranhão 2022. Após dois anos sem festejo junino por conta da pandemia de Covid-19, a programação deste ano contará com 60 dias de brincadeiras e mais de 500 atrações em dezenas de arraiais espalhados por todo o estado. O “Maior São João do Brasil”, slogan da festividade este ano, também será o São João das Homenagens. De acordo com a Secretaria de Estado da Cultura (Secma), dez ícones da cultura maranhense serão homenageados em reconhecimento aos serviços prestados pela arte popular.  

Entre os reverenciados, estão quatro pessoas que ajudaram a perpetuar, entre gerações, a tradição do Bumba Meu Boi e do Tambor de Crioula, duas manifestações culturais genuinamente maranhenses. São eles: Mestre Apolônio, Mestre Felipe, Mestre Marcelino e Mestre Mundoca. 

Originário do século XVIII, o Bumba Meu Boi do Maranhão foi consagrado em 2019 pela Unesco como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, e o esforço de nomes como Mestre Apolônio, Mestre Mundoca (ambos do Boi da Floresta) e de Mestre Marcelino Azevedo (fundador do Boi de Guimarães) foi essencial para a preservação da tradição do folguedo.  

Já o Tambor de Crioula, reconhecido em 2007 como Patrimônio Imaterial da Cultura Brasileira, contou com o talento do Mestre Felipe, fundador do Tambor de Crioula União de São Benedito, para propagar a arte e o toque do Tambor, expressão cultural de descendência africana, marca da resistência cultural do povo negro, que mistura dança, canto e o imponente som dos tambores grande, meião e crivador – juntos formam a chamada “parelha”. 

Homenagens

Segundo a Secma, a cada um dos dez homenageados será destinado uma área com totem de fotos e textos sobre a trajetória dos artistas. Os espaços de homenagem serão instalados em arraiais de São Luís, sendo um arraial para cada homenageado.  

As homenagens a esses ilustres fazedores de cultura do Maranhão emocionaram parentes e novas gerações de brincantes. A filha do mestre Marcelino Azevedo e atual presidente do Boi de Guimarães, Cintia Avelar, ficou feliz ao saber da homenagem dedicada ao pai, que com muita dedicação chegou a apresentar o Boi de Guimarães até na Alemanha. 

“[Mestre Marcelino] era um homem de hábitos e costumes muitos simples, voz tranquila e de uma força e fé admiráveis. Lutou arduamente para que essa cultura e tradição vinda de seus ancestrais sobrevivesse e se expandisse. Durante sua trajetória, transmitiu seus saberes vindouros de seus ancestrais, como confeccionar e tocas as zabumbas. Sua determinação e perseverança tornou a brincadeira em uma das mais tradicionais e reconhecidas”, disse Cintia. 

Um dos autores do livro “Mestre Felipe por Ele Mesmo”, Sérgio Costa, já havia destacado a relevância da obra do artista para a transmissão da cultura popular. “Mestre Felipe foi uma pessoa que levou o nome do Maranhão através do Tambor de Crioula para além do Maranhão e para além do Brasil. Ele foi um grande educador popular”, avalia.  

Confira abaixo detalhes biográficos desses quatro mestres da cultura popular maranhense, homenageados no São João 2022: 

Mestre Apolônio do Boi da Floresta

Nascido em 23 de julho de 1918, no município de São João Batista, Apolônio Melônio despertou para cultura popular ainda criança em sua cidade natal. Na década de 1970, ele fundou o Boi da Floresta, sotaque de Pindaré. Também fundou, ao lado do cantador Coxinho, o Boi de Pindaré.  

Um detalhe curioso é que Mestre Apolônio foi um dos sobreviventes do incêndio do navio Maria Celeste, que pegou fogo na baía de São Marcos, em 1954, época em que trabalhava como estivador no Porto de São Luís ao lado de outro brincante ilustre do Boi da Floresta, o cantador Mundoca.   

Com uma vida inteira dedicada à cultura popular, Mestre Apolônio recebeu do Governo Federal, em 2011, a Ordem do Mérito Cultural, maior honraria concedida a artistas brasileiros.

Mestre Mundoca, cantador do Boi da Floresta

Natural de São Bento, Clemente Domingos Pinheiro, mais conhecido como Mestre Mundoca – alcunha que ganhou em homenagem a uma avó chamada ‘Doca’ –, faleceu no mês passado, aos 82 anos, deixando como legado uma vida focada na cultura. 

Ao longo de mais de meio século de vida na arte, Mestre Mundoca foi o principal cantador do Boi da Floresta. Mundoca entrou para o grupo após conhecer o Mestre Apolônio Melônio, quando os dois trabalhavam como estivadores no Porto de São Luís, na década de 1950.

Mestre Marcelino do Boi de Guimarães

Nascido na comunidade quilombola de Damásio, localizada na cidade de Guimarães, Marcelino Azevedo foi mestre responsável pela fundação do Boi de Guimarães, sotaque zabumba, caracterizado pela própria zabumba rudimentar, tambor-de-fogo, pandeirinho, tambor-onça, maracás, apitos e pela rica indumentária dos brincantes. 

Em 1970, Marcelino registra a brincadeira que há séculos já era praticada por remanescentes de quilombos.  

Mestre Felipe do Tambor de Crioula União de São Benedito

Mestre Felipe Neres Figueiredo foi um compositor e instrumentista nascido em 1924, no município de São Vicente Férrer. Começou a tocar tambor ainda criança e não parou mais. Em São Luís, Mestre Felipe se consolidou como tocador e fundador da turma de coreiros chamada Tambor de Crioula União de São Benedito. 

Colaborou ainda, durante duas décadas, como educador no Laboratório de Expressões Artísticas (Laborarte), quando pôde transmitir as técnicas do tambor para outras gerações de percussionistas.