Lideranças religiosas têm autonomia na decisão para reabertura dos espaços de culto
A última portaria publicada pelo Governo do Maranhão, nº 38 de 10 de maio de 2020, versava que as comunidades religiosas do estado poderiam decidir sobre suas respectivas reaberturas, a partir da segunda-feira (15), cabendo a cada liderança/comunidade a avaliação sobre retorno ou não aos templos religiosos. Durante a última semana, várias organizações se manifestaram acerca das decisões tomadas. A Arquidiocese de São Luís optou pela retomada gradual, assim como as Igrejas Evangélicas, enquanto a Diocese de Imperatriz disse que não vai realizar missas e celebrações neste momento. O Comitê Afro Religioso de Combate à Covid-19 no Maranhão e os Centros Espíritas em Imperatriz também escolheram manter suas atividades presenciais suspensas.
No dia 15 de junho, a Arquidiocese de São Luís publicou um decreto determinando a abertura das igrejas no dia 1º de julho, tendo duas semanas para se adaptarem. De acordo com o Padre Jadson Borba, coordenador de Pastoral da Arquidiocese, muito tempo passou – Quaresma, Semana Santa, mês de maio –, mas a igreja nunca deixou de reunir. Por outro lado, é preciso entender que voltar às atividades, não é voltar à normalidade. “É um voltar com prudência, com cautela, sabendo que a segurança dos fiéis é nossa grande e suprema preocupação. Importante também destacar que a luta da igreja é a luta pela vida, como disse Jesus: ‘Eu vim para que todos tenham vida, e vida em abundância’. Esse retorno exige um cuidado maior, um olhar misericordioso e de compaixão. Estamos felizes, mas conscientes de que será um retorno difícil, e seguros de que o Senhor nos dará força e sabedoria para viver esse tempo de graça e renovação da nossa fé e esperança”, ponderou.
Ainda em maio, as lideranças evangélicas do Maranhão pediram reunião, intermediada pela Secretaria de Relações Institucionais (SRI), com o governador Flávio Dino e entregaram um documento com normas sanitárias e medidas para serem implantadas em todas as igrejas, defendendo uma retomada gradual das atividades. O documento foi analisado pela comissão que estuda a abertura dos diversos segmentos, liderada pela Casa Civil, Secretaria de Indústria, Comércio e Energia e Secretaria de Direitos Humanos e Participação Popular (Sedihpop).
“Os pastores estão tendo todos os cuidados desde a reabertura, estão nos reportando que de fato há uma correspondência tanto dos líderes quanto dos liderados, para atender às medidas, e isso vai contribuindo para esse retorno. Uma vez que os membros têm essa necessidade de congregar e louvar, isso também ajuda na saúde espiritual e emocional das pessoas que estão passando por esse momento difícil, que é a pandemia”, explicou Enos Ferreira, secretário de Relações Institucionais do Maranhão.
Por outro lado, a Diocese de Imperatriz, em nota assinada por Dom Vilsom Basso, Bispo Diocesano de Imperatriz, decidiu que não vai reabrir as igrejas para as missas e celebrações neste momento, porque a região ainda se encontra numa fase crítica da pandemia, com aumento de casos. Afirmou ainda que a Igreja Católica continua orientando sobre uso de máscara e distanciamento social. “Cuidar-se é o melhor remédio”, consta na nota.
O Comitê Afro Religioso de Combate à Covid-19 no Maranhão é uma organização social e religiosa que, entre outras atribuições, avalia os impactos do novo coronavírus nos terreiros, segundo Pai Paulo de Aruanda, tanto na higiene quanto na questão da segurança alimentar. Instituído em 26 de maio de 2020, o Comitê recomenda que os tambores continuem silenciados, limitando nas casas de axé o que é essencial e que não pode deixar de ser realizado, mas com o mínimo de pessoas.
“Nós compreendemos que a nossa religião tem uma prática de acolhida, de benção, de toque, do abraço, e isso tudo requer uma convivência mais próxima. Por isso, nós estamos recomendando que as casas de culto e os praticantes da religião de Matriz Africana mantenham e cumpram as orientações sanitárias, pratiquem o isolamento social, usem máscara e álcool em gel. Nós também temos muitos líderes religiosos que já são idosos, ou seja, grupo de risco, nós temos que zelar pela saúde e segurança das pessoas”, defendeu.
A Federação Espírita do Maranhão (Femar), em nota, recomendou atitudes responsáveis e seguras, nos âmbitos individual e coletivo, para o cumprimento das normas recomendadas e destacou que, no Movimento Espírita, as instituições têm autonomia para decidirem sobre a organização das atividades – presenciais ou virtuais – devendo todas colaborarem para a manutenção do bem-estar e da qualidade de vida de todos.
“Norteados pelo estandarte da caridade, os Centros Espíritas de Imperatriz optaram em manter suspensas suas atividades presenciais para colaborar com a prevenção da disseminação do novo coronavírus, considerando o seu altíssimo nível de contágio e elevado número de desencarnações causadas pela Covid-19. Seguimos altivos e pujantes, com a realização de diversas atividades remotas, alcançando um grande número de pessoas, cumprindo, o seu mister de acolher, esclarecer, orientar e consolar corações”, contou Fábio Souza de Carvalho, diretor de Unificação da Federação Espírita do Maranhão.
A diversidade de posicionamentos aponta para a autonomia das comunidades religiosas, mas todas as condutas convergem para a defesa da vida, apontou o secretário de Estado de Direitos Humanos, Francisco Gonçalves, ponte no diálogo religioso do Governo do Maranhão. “Vivemos um momento de grandes responsabilidades, que exige tomadas de decisões não só de líderes, mas de indivíduos e de comunidades em geral, que prezem pelo bem-estar e entendem seu papel cidadão. As posturas dos líderes refletem o compromisso com a segurança de suas organizações, e das pessoas nelas envolvidas, tendo escolhido pela reabertura ou não, todos estão pautando o cuidado e o amor ao próximo como forma de enfrentamento a esta pandemia”, concluiu.
É importante destacar que as organizações religiosas precisam seguir tanto as regras gerais (para todos os estabelecimentos) quanto as específicas para esse segmento. As específicas foram estabelecidas com base nos protocolos segmentados das comunidades religiosas, recebidos pela Sedihpop, conforme atribuído no Decreto Estadual nº 35.831. Dentre elas, está a de que as organizações religiosas só podem funcionar com metade de sua capacidade. Para assegurar o cumprimento dessa medida, devem ser retirados bancos, cadeiras e similares até que se atinjam os 50% de capacidade ou fazer marcações para indicar onde as pessoas devem sentar. Deve haver distância de dois metros entre as pessoas, com exceção dos que sejam da mesma família e morem na mesma casa. Não pode haver aglomerações na entrada ou na saída. Também não são permitidas vigílias que possam gerar aglomeração.