Entenda o processo de desenvolvimento de uma vacina

Com a liberação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) do uso emergencial das vacinas de Oxford e da CoronaVac, no último domingo (17), muitas discussões e dúvidas sobre as vacinações surgiram em todo Brasil e, com a chegada das primeiras 3.206 doses em Imperatriz na terça (19), regionalmente não foi diferente. Para esclarecer várias dúvidas, entenda como funciona o processo de desenvolvimento das vacinas:

Varíola, poliomielite, rubéola e difteria. Essas são algumas das doenças que foram erradicadas no Brasil graças às vacinas. O Plano Nacional de Imunização (PNI), regulamentado na década de 1970, é considerado uma das mais relevantes intervenções em saúde pública do país, organizando, implementando e controlando a política de vacinação. Tudo começou nos idos do século XVIII, quando o médico sanitarista inglês Edward Jenner descobriu a primeira vacina do mundo, contra a varíola, em condições muito diferentes das de hoje, tendo em vista que, para a descoberta das primeiras vacinas contra o SARS-CoV-2 (coronavírus), bem como outras imunizações mais recentes, a medicina registrou avanços que impactaram diretamente os processos e a criação das mesmas.

O biomédico e professor do núcleo de saúde da faculdade Facimp, Antônio Carlos, explica que inicialmente, a produção da vacina se dá no laboratório com a seleção de alvos contra o microrganismo. Assim, pesquisadores isolam o microrganismo ou partes dele para que ocorra a ativação das células de defesa humana. Essas pequenas partes são proteínas ou material genético do microrganismo que por si só não causam infecção. Já nos casos do uso do microrganismo completo, ele está incapacitado de gerar doença por atenuação ou inativação.

O biomédico acrescenta que, os testes clínicos são divididos em 3 fases: na primeira fase, a vacina é aplicada em voluntários saudáveis em ambiente controlado para observar como o corpo reage, seguida pela fase dois, com ampliação do número de voluntários para avaliação da dose, administração e capacidade de ativar as células de defesa humana. Na última fase clínica, e mais longa, a vacina é aplicada em milhares de voluntários para então ter registro final nos órgãos de regulamentação. Garantida a eficácia e segurança, a vacina é então distribuída de acordo com planejamento do Ministério e secretarias de saúde.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre as quase 200 propostas de vacinas em pesquisa contra o SARS-CoV-2, 44 chegaram à fase de testes em humanos e, entre essas, um grupo de 10 projetos atingiu a fase III de estudos, em que dezenas de milhares de voluntários são recrutados para comprovar se a vacina é mesmo capaz de proteger sem causar danos à saúde.

“Mesmo diante da urgência, as vacinas passam por um rigoroso processo de avaliação da segurança e eficácia na criação de defesa após a vacinação. Por exemplo, no Brasil temos atualmente a aprovação emergencial da Coronavac e a vacina inglesa ChADOx1 da Oxford e AstraZeneca. Ambas protegem a população e diminuem os casos graves. Em termos tecnológicos, a Coronavac utiliza uma tecnologia já bem estabelecida e comprovada, sendo a mesma utilizada contra o tétano, hepatite A e febre amarela por exemplo. Hoje contamos com novas tecnologias, como é o caso da Pfizer/Biontech e Morderna, que contém o material genético do vírus para estimular a resposta imune humana”, relata.

Antônio Carlos finaliza explicando a importância da dose de reforço: “uma segunda dose de reforço após 28 dias. Ela serve como um segundo alerta para o nosso sistema se preparar e garantir a formação de anticorpos. Por exemplo, já foi demonstrado que a vacina de Oxford teve eficácia de 70% após 21 dias da primeira dose, mas só teve 100% de eficácia na segunda dose, ou seja, para funcionar em 100% toda a população, a vacina tem de ser aplicada duas vezes”.

Formado em Biomedicina (2010-2014), com mestrado em Farmacologia (2015-2017), ambos pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), doutor em Fisiologia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Antônio Carlos atualmente é professor do núcleo de saúde da Facimp.