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Em um dos estados mais pobres do país, estudantes de escolas públicas descobrem um mundo novo com a robótica

O ineditismo de um projeto ousado idealizado e coordenado pelo Serviço Social da Indústria no Maranhão em 2022 está mudando a realidade de crianças e adolescentes de escolas públicas maranhenses. O aprendizado da robótica rompe barreiras e abre novas perspectivas para estudantes de territórios quilombolas, de assentamentos rurais e de cidades distantes da capital maranhense. Por meio do Projeto SESI Prototipando Sonhos, os alunos encarnam outros papéis, se desafiam e criam um futuro no qual são protagonistas de suas próprias histórias.  

Prototipando Sonhos é um projeto inovador e com características únicas em todo o Brasil. Por meio de treinamento, material, concessão de bolsas de iniciação científica da FAPEMA e de participação em competições, o projeto populariza e democratiza a robótica. Nesta temporada do Torneio SESI de Robótica Regional Maranhão, que acontece neste final de semana (13 e 14/01), 308 estudantes e 76 técnicos de 26 municípios maranhenses participam do projeto, que vem contribuindo para torná-los mais produtivos, inovadores e construtores de soluções para a sociedade.  

Metodologia do projeto – As oficinas de robótica funcionam com 20h semanais de modo itinerante, atendendo a um cronograma previamente organizado. As equipes são definidas pelas escolas apadrinhadas e validadas pelo SESI-MA durante as oficinas em unidade móvel de robótica. Os estudantes de escolas públicas, municipais e estaduais, aprendem com a mesma metodologia do ensino de robótica educacional e de competição dos alunos do SESI-MA. A iniciativa conta com a parceria do governo do Estado, por meio da FAPEMA, e do SEBRAE-MA.    

Dois profissionais do SESI- MA atuam como técnicos das equipes, no processo formativo do projeto. As duas unidades móveis do Sesi Prototipando  Sonhos dispõem  de mobiliários, equipamentos e materiais, semelhantes  aos das escolas da Rede  SESI-MA, disponíveis  para atendimento  às equipes apadrinhamento. 

“A proposta do SESI é permitir que esses estudantes sejam inseridos no mundo da robótica de forma saudável e construtiva, equilibrando as exigências de repassar conteúdos e conhecimentos, com a necessidade de estimular no aluno a confiança, a autoestima, as competências emocionais e sociais para compreender a si mesmo, interpretar e interagir com a realidade e, assim, superar os desafios da vida e construir o seu futuro sintonizado com as exigências do mercado de trabalho”, afirmou Diogo Lima, superintendente do SESI-MA.  

FUTURO – Quem está vivendo essa oportunidade pela primeira vez são os alunos da Escola Municipal Barão de Grajaú, da cidade de Alcântara. A escola fica localizada na zona rural, mais precisamente na Agrovila Cajueiro. A unidade de ensino contempla alunos quilombolas de 14 povoados que ficam em seu entorno.  A aluna Louana Priscila Araújo Oliveira, de 13 anos, integra a equipe que leva o mesmo nome da escola. Ela conta que o seu grupo tem espírito de coletividade, que hoje convive melhor com opiniões diferentes e que fez muitos amigos na robótica.  

“A robótica me deu a oportunidade de aprender novas coisas e de desenvolver outras habilidades. Estar no torneio dá nervosismo, mas é bom pensar que estamos entre equipes maravilhosas. A robótica me abriu os olhos para novos caminhos e quero levar isso para o meu futuro”, disse a estudante que compete no Torneio SESI de Robótica Regional Maranhão, que já é considerado o maior do país pela First Lego League no Brasil.    

E é pensar sobre o futuro de crianças e adolescentes quilombolas que enche de esperança o técnico Raimundo dos Remédios. Ele falou que apesar de grandes desafios, a equipe teve um ano incrível no Prototipando Sonhos. “Futuramente nossos alunos podem trabalhar no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), que utiliza alta tecnologia. E o pontapé inicial é o Prototipando Sonhos”, antecipou Remédios.  

Já Erick Reis, técnico da equipe Roselitec, de Lagoa Grande do Maranhão, conta que a equipe de quatro integrantes foi montada respeitando a paridade de gênero e para incentivar a participação das meninas em espaços de construção da robótica. O grupo vem de um assentamento de reforma agrária chamado SIGRA e no ano passado fez a sua estreia levando o 1º lugar na categoria Core Values, o que motivou muito a equipe. “Essa premiação tem tudo a ver com o que ensinamos na escola, que incentiva os valores de construção coletiva, de trabalho cooperado e de autonomia do sujeito”. Como escola técnica, já produzíamos tecnologia, mas o Prototipando Sonhos provocou o desejo de ir além.  

Sobre a paridade na disputa das vagas para a etapa nacional do torneio, com 10 vagas distribuídas igualmente entre escolas públicas e privadas, Erick disse que essa é uma estratégia muito acertada do SESI Maranhão. “Isso faz com que a gente desperte muitas mentes brilhantes que não têm condições materiais e acesso a oportunidades para realizar seus sonhos”, avaliou. Davi de Oliveira e Eloá da Silva Sousa, ambos de 13 anos, fazem parte da equipe e estão preocupados com a migração dos jovens dos assentamentos e a solução que encontraram é levar a robótica para as demais escolas, assim como oficinas em áreas como literatura. Em resumo, os estudantes querem continuar ampliando o acesso de outros adolescentes à robótica.  

Do Centro de Atendimento Educacional Especializado Altas Habilidades e Superdotação de São Luís participam seis equipes, totalizando quase 40 integrantes. A gestora do Centro e técnica das equipes, Sandreliza Mota, ressaltou o aspecto inclusivo do torneio e como o Prototipando Sonhos potencializa os talentos das crianças e adolescentes. “A interação e o intercâmbio que a iniciativa proporciona reforça ainda mais o core values, como espírito de equipe, inclusão, cooperação, integração e respeito que nós praticamos no dia a dia”, afirmou. 

Em 2022, o Departamento Nacional do SESI realizou a Avaliação de Impacto do Torneio SESI de Robótica sobre o Desempenho Escolar dos Estudantes. Foram comparados os estudantes que competiram pelo menos uma vez entre 2018 e 2019 com alunos que não participaram de torneios no mesmo período. Entre os principais resultados, o estudou chegou à conclusão de que os competidores tiveram uma nota 5 pontos maior do que aqueles que não competiram em uma escala de 0 a 100, o que representa uma diferença de 6,4%. Além de matemática, os competidores alcançaram notas maiores também em linguagens e ciências humanas e sociais.