Dia dos Pais: Pais de pessoas com deficiência revelam como encaram o desafio diário de proteger e cuidar
O que para muitos seria motivo até de desespero; para eles esses filhos e filhas que dependem deles para tudo, são verdadeiros presentes de Deus. Esses três homens se desdobram no ofício da paternidade, mas o fazem com a leveza que só o amor consegue dar. Mais que pais, eles são super heróis anônimos, que se desdobram para doar a seus filhos não apenas seu tempo, mas muitos cuidados, atenção e acima de tudo amor a essas pessoas tão especiais.
Crisanto Geraldo Ferreira Oliveira tem 60 anos e três filhos: Bento (40 anos), Isaura (35) e Moisés (23). Os dois mais velhos são independentes e casados, e deram um neto e uma neta para seu Geraldo e para esposa Ionete. Mas é Moisés o caçula, para quem esse pai mais se dedica desde que nasceu e foi diagnosticado com autismo, além de uma deficiência mental. O amor a Moisés é tanto, que o pai que já trabalhou como vigilante precisou abdicar de um emprego formal para poder se dedicar cem por cento ao filho, que depende dele para tudo. Do banho à comida, o rapaz que não fala precisa, e conta sempre, com esse paizão da hora que acorda, até quando vai dormir.
“Para mim cuidar dele não é um peso, é um ato de amor. Eu gosto de ajudar o meu filho e por ele faria tudo. Claro que quando ele demorou a andar bem novinho, levamos um choque ao saber do problema mental que ele tinha. Foi triste no início, mas aceitamos de coração e desde então vivo para ajudar o Moisés. E a cada conquista dele, para mim é uma grande vitória. Moisés é meu xodó e muito amado por toda a nossa família. Um menino calmo e amoroso. Quando se tem amor por um filho, tudo vale a pena”, diz ele com amor e orgulho.
Assistido pela APAE de São Luís desde criança, antes da pandemia a rotina de Moisés era frequentar a sede da entidade de segunda à sexta, das 9H às 10H30 diariamente. Seu Geraldo acordava cedo, banhava e alimentava o filho e saia para pegar o ônibus com Moisés. Eles levavam em média 1h30 para ir de onde moram em Paço do Lumiar até a sede da APAE no Outeiro da Cruz. E o mesmo tempo no trajeto de volta para a casa. Cansativo sim, mas segundo Geraldo valia cada minuto, pois Moisés é bem acolhido por professores e profissionais da APAE que o ajudam a viver e a se desenvolver.
“Foi com a ajuda dos profissionais da APAE que o Moisés aprendeu a mastigar direito a comida, e a andar melhor. E eu sempre do lado dele, vendo a cada dia esses pequenos gestos que ele aprende, e que para mim são enormes vitórias”, diz emocionado. Devido à pandemia, as aulas presenciais foram substituídas pela forma remota, mas Geraldo e Moisés sonham com a hora em que poderão voltar a frequentar a APAE todos os dias.
Assim como Geraldo, o aposentado José Luiz da Silva de 70 anos também se sente abençoado com a filha caçula Alenilce da Silva e Silva, atualmente com 39 anos e que nasceu com síndrome de down.
Para ele, que também é pai de Alenildes da Silva e Silva, advogada de 43 anos, o exercício da paternidade é um presente de Deus.
“É triste saber que há muitos casais que até se separam quando se deparam com a chegada de um filho com deficiência. No meu caso e da minha esposa Arionildes aconteceu o contrário, a chegada da nossa Leninha só uniu mais a nossa família. Eu e minha esposa fazemos tudo por ela e a irmã também sempre a tratou muito bem. Digo que ser pai dessas duas filhas é como ganhar na loteria para mim”. Fala emocionado esse pai, que vive para ajudar a sua filha a enfrentar os desafios do cotidiano, um dia de cada vez.
Para José Luiz a receita para ser um bom pai é simples: “Basta estar e ser presente de verdade. Estar junto dos filhos na saúde e na doença, dividir todos os momentos do cotidiano e ajudar no que puder para dar segurança e felicidade. É assim que vivo, me dedicando ao máximo para minhas filhas”, diz esse paizão cujo maior presente no Dia dos Pais é simplesmente ter saúde para passar a data, mais uma vez, ao lado das duas filhas e da esposa.
“Deus me escolheu para ser pai da Leninha e tento viver esse presente ao máximo”, diz José Luiz com amor e sabedoria.
Essa missão de criar uma filha com deficiência também foi abraçada com devoção por José de Ribamar Asevedo Ataíde, 71 anos, ex- trabalhador da construção civil e hoje aposentado.
Na verdade, essa missão foi uma escolha bem consciente dele e da esposa Ângela. O casal morador do Jardim Tropical em Ribamar já tinha quatro filhos naturais – Adriano, Adriana, Alessandro e Alexandre – quando decidiram adotar a caçula Adryene com três dias de nascida. A mãe não tinha condições de criar a menina e optou por doar a mesma ao casal, que a recebeu a linda bebê como se fosse sangue deles.
Logo eles descobriram que a menina tinha um problema mental, pois a mãe era usuária de drogas e teve uma gravidez e parto conturbados. Mas para essa família a descoberta da deficiência de Adryene resultou em mais amor e proteção por parte do casal e dos irmãos para com a garota.
“Me sinto abençoado por Deus por ter essa filha. Cuidar de uma pessoa com deficiência é um exercício diário que nos melhora como seres humanos. Eu me sinto um pai e um homem melhor por isso. Sempre priorizei os meus filhos, nunca deixei faltar nada em casa, e trabalhava com vontade, para que minha família nunca passasse necessidade. Graças a Deus consegui dar a todos uma vida decente”, diz com orgulho esse pai, que agora vive na sua aposentadoria uma nova missão.
Antes, quando ele trabalhava fora, era a mulher quem cuidava da casa e dos filhos. Mas agora que pode ajudar também, é com seu Ribamar que Adryene mais conta para as tarefas diárias. Ela está com 20 anos e é aluna da APAE de São Luís. Como as aulas presenciais estão suspensas devido a pandemia, é o paizão a ponte entre a menina e a escola. Há meses, ele vai quinzenalmente até a sede da APAE de São Luís levar as tarefas já feitas pela filha e pegar os próximos deveres, para que ela siga se devolvendo em casa. É que, apesar das aulas presenciais não estarem acontecendo, a Escola Eney Santana consegue interagir remotamente com os alunos, através de chamadas de vídeos e entrega de atividades.
“A Adryene virou meu xodó. Ela me pede quase tudo em casa: Pai, tô com fome. Pai, quero isso ou aquilo. E eu ajudo feliz da vida e aprendo muito com ela também. Aos 12 anos ela se encantou pela Igreja Evangélica e quis se batizar. E acabou me levando junto para os cultos. Eu digo mesmo que essa filha é um presente de Deus para nossa família. E ela é muito amada por todos nós e devolve isso sendo carinhosa com todos. Digo mais, minha filha Adryene além de bela, é carismática, todos que a conhecem gostam dela”, diz esse pai coruja.
Para José de Ribamar os cinco filhos são preciosos, assim como os seis netos que completam essa família grande e amorosa.
“Sou pai por vocação. Não me imagino vivendo sem os meus filhos, por eles faço qualquer sacrifício. E tanto pela Adryene que não sabe se defender, quanto por todos os outros colegas dela, alunos da APAE, tenho o maior prazer em ajudar. Me sinto meio pai de todos eles. Ser pai é distribuir amor e cuidado” ensina esse super herói cujo maior poder é usar a força do seu amor para proteger e zelar por seus filhos, até o último dia de sua vida.