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Campanha aborda a pigmentação dentária causada por bactérias

A campanha Dicas de Saúde desta semana aborda a pigmentação dentária causada por bactérias. A dentista Taissa Leite, da Divisão Odontológica do Tribunal de Justiça do Maranhão, fala sobre causas, pesquisas e tratamento para o problema.

A odontóloga diz que, atualmente, não há dúvidas de que a coloração dos dentes é uma preocupação crescente entre jovens e adultos. E a pigmentação dentária, especialmente do esmalte, é uma condição encontrada com certa frequência na rotina clínica do cirurgião-dentista, trazendo um considerável desconforto estético e problemas de autoestima para os pacientes.

“As manchas dentárias extrínsecas podem ser provocadas por diversos fatores que são facilmente compreendidos pelos pacientes como causadores de ‘manchamento’, dentre eles, temos a ingestão de alimentos e bebidas pigmentados – café, chás, vinhos, sucos, refrigerantes, chocolates, frutas vermelhas –, o tabagismo, o acúmulo de placa bacteriana e tártaro, em função de uma higiene bucal inadequada, o uso de medicamentos e de suplementos contendo vitaminas e ferro”, explica.

Entretanto, Taissa Leite acrescenta que, somado a esses fatores, ainda existem bactérias específicas, que habitam a cavidade bucal e que são responsáveis por pigmentações características, conhecidas no meio odontológico como bactérias cromogênicas.

De acordo com ela, pesquisas demonstram que os principais grupos bacterianos causadores de pigmentação do esmalte dentário são “Prevotella melaninogênica” e “Actinomyces sp”. Disse que é certo que, para que o “manchamento” específico causado pelas bactérias cromogênicas aconteça, existe um padrão individual associado à quantidade desses grupos bacterianos na cavidade bucal e à dieta.

Conta que crianças, adolescentes, adultos e idosos, que têm uma alta concentração desses grupos bacterianos na cavidade bucal, normalmente apresentam uma pigmentação dentária bem característica, clinicamente visível, como manchas enegrecidas, que acompanham o contorno da gengiva – como uma linha contínua ou interrompida – e ainda pontos escuros espaçados, ou mesmo manchas pretas que impregnam sulcos e fissuras da face mastigatória dos dentes.

“É impressionante a capacidade bacteriana de adequar o meio à sua sobrevivência. No caso das bactérias cromogênicas da cavidade bucal, isso é bem verdade, à medida que são capazes de reagir com componentes salivares e com o líquido normalmente presente junto da gengiva (fluido gengival), tendo uma predileção pelo ferro, seja ele proveniente de nossa alimentação ou da reposição por complexos vitamínicos ou de medicamentos”, relata Taissa Leite.

Assim, prossegue a dentista, formam um composto que adere à superfície do dente, sob a forma de mancha, que favorece a sua sobrevivência e proliferação. E é exatamente a associação com o ferro da saliva e do fluido gengival que explica a coloração enegrecida da pigmentação causada pelas bactérias cromogênicas da cavidade bucal.

A odontóloga diz que se comprova, clinicamente, que a pigmentação dentária causada por essas bactérias apresenta um nível de aderência à estrutura dentária que, mesmo em pacientes com um bom controle de placa dentária e escovação eficiente, as manchas se manifestam e permanecem fortemente aderidas. Reforça que, apesar de não terem nenhum impacto negativo sobre a vitalidade dos dentes, é importante destacar o comprometimento estético e da autoestima do indivíduo.

A profissional da Divisão Odontológica do TJMA ressalta que, apenas clinicamente, não é possível comprovar que tipo de população bacteriana é mais abundante na cavidade bucal de cada indivíduo, mas a tendência de manchas características, causadas por bactérias cromogênicas, é possível de ser definida se o paciente tiver uma rotina de visitas periódicas ao dentista, pois, durante o exame clínico, pode-se observar o padrão de repetição do mesmo tipo de manchamento dentário, especialmente porque, nos casos da pigmentação causada por essas bactérias, há uma forte tendência a recidiva.

“Nesse contexto, uma relação interessante tem sido demonstrada: pacientes que apresentam manchas enegrecidas causadas por bactérias cromogênicas, têm manifestado um baixo risco de desenvolvimento de cárie. Uma das explicações para essa relação está na ‘competitividade’ entre os grupos bacterianos, com as bactérias causadoras da cárie saindo como perdedoras nessa disputa. Entretanto, pode até ser uma forma de proteção contra a cárie, mas pode representar um certo risco para a gengiva, porque pesquisadores têm descrito que as bactérias cromogênicas apresentam atividade colagenolítica, ou seja, têm a capacidade de degradar o colágeno na forma natural, sendo, então, potencialmente prejudiciais à saúde bucal, porque o colágeno é um dos principais componentes de nossas gengivas e do tecido que sustenta o dente no osso”, adverte a odontóloga.

TRATAMENTO

Taissa Leite explica que o tratamento clínico convencional para os casos de pigmentações dentárias causadas por bactérias inclui procedimentos mecânicos de raspagem e polimento profissional, realizados pelo cirurgião-dentista, tendo, em um número expressivo de casos, a necessidade de uso de equipamentos de ultrassom, de jatos abrasivos à base de bicarbonato de sódio, e de profilaxia dentária com pastas mais abrasivas, para que as manchas sejam removidas, pelo fato de sua forte aderência à superfície dentária.

Entretanto, a recidiva da pigmentação é um fato, e alerta que sucessivas raspagens e profilaxias, em intervalos curtos, podem levar a desgastes da estrutura dentária, o que é prejudicial a curto e longo prazo. Diz que alternativas de tratamento têm sido apresentadas, como o uso de fitoterápicos, de gel clareadores dentários em baixa concentração, de terapia fotodinâmica (luz laser e corante sensível a luz), apostando-se na atividade antimicrobiana alcançada por esses tratamentos, para que se possa reduzir a população de bactérias cromogênicas e garantir resultados mais duradouros, sem o risco de maior desgaste da superfície dentária.

“Todo o contexto que envolve essa condição de pigmentação dentária causada por bactérias é mais um indicativo de que visitas periódicas ao dentista são essenciais para a manutenção de sua saúde, para a aquisição de conhecimentos inerentes a sua condição bucal, em específico, e indicação de medidas preventivas e de tratamento, individualmente”, finaliza a odontóloga Taissa Leite.