Brasil precisa avançar na discussão sobre a qualidade do ar nos ambientes de escolas e empresas, afirma epidemiologista

Alunos nas salas de aula, colaboradores nos escritórios e consumidores indo às compras presenciais nas lojas. Com o avanço da vacinação e a flexibilização das medidas de isolamento social, a vida em sociedade no Brasil aos poucos tem voltado ao “normal”. 

Alguns Estados já discutem, inclusive, dispensar a obrigatoriedade do uso da máscara. Mas será que estamos totalmente seguros para entrar em ambientes fechados com outras pessoas, ainda mais com o surgimento de novas variantes, como a ômicron?

Para Alexandra Boing, doutora em Saúde Coletiva, epidemiologista e professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com a retomada das atividades escolares e econômicas, é importante o País discutir a qualidade do ar e os riscos que os espaços com ventilação insuficiente podem causar à saúde, sobretudo no contexto da pandemia.

“O Brasil precisa avançar na discussão sobre a qualidade do ar nos ambientes das escolas, empresas e outros diferentes estabelecimentos”, afirma a especialista em sua conta no Twitter.

Ela comenta que, nos Estados Unidos, alguns pais de alunos estão levando monitores às escolas para rastrear a qualidade do ar nas salas de aula em que seus filhos estudam.

É o que mostra uma reportagem do jornal The New York Times, publicada em outubro. Assinada pela jornalista Emily Anthes, a matéria revela que uma mãe chegou a colocar um monitor de CO2 na mochila do filho para avaliar de forma rápida o quanto de ar viciado estava circulando pela escola.

Na prática, níveis baixos de CO2 indicariam que o espaço estava bem ventilado e que as chances do filho contrair Covid-19 seriam menores. No entanto, segundo a reportagem, essa mãe descobriu que, durante o almoço, os níveis de CO2 no refeitório cresceram para quase o dobro do que é recomendado pelo CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças), órgão de saúde norte-americano.

Ainda segundo o The New York Times, essa mãe compartilhou os dados com a diretora da escola e propôs que as refeições fossem realizadas em local aberto. Atualmente, existe um movimento em algumas regiões dos Estados Unidos de pais que pretendem deixar o ambiente escolar com menor risco de contaminação, como mostra a reportagem.

Medida de CO2 é o indicador da qualidade do ar

A professora Alexandra Boing explica que a medida de CO2 é o indicador utilizado para apurar a qualidade do ar. “Quanto maior for a concentração de CO2, pior é a ventilação. A medição nos permite saber se esse ambiente está bem ventilado, o que reduz drasticamente o risco”, pontua a especialista. “Em caso negativo, é possível implementar medidas para melhorar a ventilação”, complementa.

A doutora em Saúde Coletiva também cita que alguns locais no mundo tornaram os monitores parte importante da política oficial de prevenção contra a pandemia. A cidade de Nova York, por exemplo, distribuiu os dispositivos em escolas públicas e o governo britânico, por sua vez, já anunciou adotar a mesma iniciativa. No Japão, há cinema e teatro que exibem para as pessoas informações sobre os níveis de CO2 das salas.

“Já está na hora de as escolas e empresas fazerem o mesmo [aqui no Brasil]! Precisamos de informação para termos autonomia e controle social”, opina Alexandra.

Como melhorar a ventilação dos ambientes

Ela também explica que é importante adotar algumas medidas simples para melhorar a ventilação dos ambientes, aumentar a qualidade do ar e, consequentemente, diminuir as chances de contaminação. 

Deixar portas e janelas abertas, usar circuladores de ar, umidificadores, ventiladores e ar-condicionado são algumas formas de alcançar esse objetivo. Um artigo publicado pela Frigelar, uma das principais de redes de refrigeração e ar-condicionado do País, aborda como alguns aparelhos condicionadores de ar ajudam a combater bactérias e fungos nos ambientes.

O texto explica que o ar-condicionado pode ser um aliado da qualidade do ar e apresenta de que forma essa tecnologia é usada a favor da saúde e do meio ambiente. De acordo com a publicação, o ar-condicionado com função Vírus Doctor, por exemplo, é uma das opções mais eficientes quando o assunto é filtragem de ar. O sistema conta com uma função que elimina 99,9% de vírus e bactérias de um ambiente fechado.

Independentemente da estratégia, é importante o poder público e a iniciativa privada avançarem na discussão da qualidade do ar como um fator de saúde pública durante a retomada das atividades escolares, culturais, laborais e econômicas, conforme defende a professora Alexandra.