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As crianças que falam, mas não se comunicam: o novo desafio da era digital

Especialista alerta para o aumento de crianças que falam cedo, mas têm dificuldade em sustentar conversas, compreender emoções e interagir socialmente

Crianças que falam muito, mas se comunicam pouco. Esse é um fenômeno que vem chamando a atenção de fonoaudiólogos e educadores: pequenos que aprendem rapidamente palavras, letras, músicas e até outros idiomas, mas têm dificuldade em manter uma conversa, pedir algo com clareza ou compreender as emoções dos outros.

De acordo com a fonoaudióloga Angelika dos Santos Scheifer, especialista em atraso de fala, trata-se de um novo tipo de atraso, não na fala, mas na comunicação funcional, a capacidade de usar a linguagem para interagir e construir sentido com o outro. “É cada vez mais comum vermos crianças com vocabulário extenso e excelente articulação, mas que não sabem iniciar ou sustentar um diálogo. Elas falam, mas não trocam. E isso é muito diferente de comunicar-se”, explica.

Segundo Angelika, esse quadro está relacionado a uma combinação de fatores: uso precoce de telas, redução das interações olho no olho e pouca conversação espontânea entre adultos e crianças. “O cérebro infantil aprende a falar pela repetição e pela convivência. Quando essa vivência é substituída por estímulos digitais, o aprendizado vira mecânico. A criança repete, mas não entende o contexto, a intenção e o significado emocional e funcional das palavras”, afirma.

Um estudo publicado em 2023 na JAMA Pediatrics mostrou que o tempo de tela acima de duas horas diárias está associado a menor desenvolvimento da compreensão verbal e da atenção conjunta, que é a capacidade de compartilhar o foco com outra pessoa durante uma interação. Já uma pesquisa da Frontiers in Psychology (2024) apontou que o uso intensivo de vídeos curtos e aplicativos reduz a sensibilidade social e a empatia em crianças de 3 a 6 anos.

Para a especialista, o alerta é claro. “Precisamos devolver à infância o espaço do diálogo, da escuta e da imaginação. Contar histórias, brincar de faz de conta, conversar durante as refeições e olhar nos olhos da criança são gestos simples, mas poderosos. É ali que o cérebro constrói as bases da linguagem, da empatia e da socialização.”

Angelika reforça que o problema não está apenas nas telas, mas na ausência de convivência real. “Não é sobre proibir tecnologia, e sim equilibrar. O que a fala precisa é de presença, e presença não se faz por aplicativos”, finaliza.

Caso queira se aprofundar na pauta, fico à disposição para fazer a ponte de entrevista com a especialista.

Angelika dos Santos Scheifer

Fonoaudióloga, pós-graduada em Avaliação e Reabilitação em Motricidade Orofacial e Distúrbios de Fala e Linguagem, formação avançada em PECS, formação em laserterapia para clínica fonoaudiológica e aprimoração em ação fonoaudiológica no TEA. Produtora de conteúdo digital para promoção de saúde em fala e linguagem. Atua em atendimento clínico e em treinamento familiar para o desenvolvimento da fala infantil, com consultas presencial e online para todo o Brasil.