Um local para compreender e valorizar a contribuição do povo negro para o Maranhão
O Maranhão ganhou um espaço que resgata a história da vinda dos povos negros da África para o Brasil e toda a contribuição deixada nos mais variados segmentos da sociedade. O “Monumento à Diáspora Africana”, localizado na Praça das Mercês (Desterro), tem o patrocínio do Instituto Cultural Vale, via Lei Federal de Incentivo à Cultura, e realização da Prefeitura de São Luís, por meio da Fundação Municipal do Patrimônio Histórico (Fumph).
Aberto à visitação, o monumento é composto por 9 painéis. O primeiro é formado por um granito negro, contendo informações históricas sobre as diversas nações africanas que, em diáspora forçada, desembarcaram no Maranhão na condição de escravizados, e oito painéis/obras de arte, produzidos por artistas negros maranhenses, que valorizam a transferência de saberes do povo negro para as áreas da cultura, da culinária, da religiosidade, das tecnologias e tantas outras contribuições. O espaço escolhido para receber o monumento, no passado, foi o local de desembarque dos navios negreiros.
A inauguração do monumento também requalificou a Praça das Mercês, tornando o local um espaco de memória, cultura e lazer. A construção do Monumento à Diáspora Africana foi feita de forma coletiva. Para pensá-lo e elaborá-lo, a Fumph contou com o apoio da Coordenadoria Municipal da Igualdade Racial (COMPIR) na criação de uma comissão composta por pesquisadores negros das áreas da antropologia e história, bem como ativistas dos movimentos sociais negro.
A abertura contou com conferência ministrada pela jornalista Rosane Borges e pelo entomusicólogo Kazadi Wa Mukuna, com mediação do Professor Doutor Carlos Benedito da Silva. “Quando a gente pega os dois elementos, o Maranhão sendo Amazônia Legal e biológica e sendo de maioria negra, e estando ali na pontinha do Brasil, com uma relação com o Caribe, as peculiaridades são muitas, a exemplo de tradições culturais, da religião”, pontuou a jornalista.
Falas do movimento negro e apresentações culturais marcaram o dia de entrega do monumento à sociedade maranhense. Uma celebração à ancestralidade, aliada à busca por conscientização. “A população negra esteve injustiçada durante mais de 300 anos. Tudo que a gente tem a nível de trabalho, da cultura, é marcado pela presença negra. É preciso que isso seja valorizado, dinamizado e seja apresentado no processo educativo como algo importante não só na construção do Maranhão, como do Brasil”, afirmou o antropólogo Carlos Benedito da Silva.
O monumento
O Monumento à Diáspora Africana é inédito no Brasil por ser um espaço de memória que une artes visuais, informações históricas e ações educativas de valorização da diversidade étnico-racial. Composto por 9 painéis instalados em uma praça pública, o espaço tem o objetivo de entrar para o roteiro cultural da cidade.
O primeiro painel é feito em granito negro, com 45 metros de comprimento, tem informações sobre as datas, os nomes dos portos de embarque, os nomes dos navios e a quantidade de africanos de diversas nações desembarcados no Maranhão entre os anos de 1693 a 1841.
Já os oito paineis artísticos contam com dimensões de 6m x 4,80m e foram elaborados por oito maranhenses pretos de atuações diferentes nas artes: Tassila Custodes, conhecida por Emi Ajé Dudu, Gê Viana, Eduardo Inke, Dinho Araújo, Telma Lopes, Origes, Marcos Ferreira e Jesus Santos. Cada um trabalhou a partir de um tema, que se relaciona diretamente com o protagonismo do povo negro, suas contribuiçoes formadas a partir do seu processo de (re) adaptação nos territórios onde vivem e/ou atuam. A diversidade de técnicas utilizadas e o potencial de comunicabilidade da arte produzida são marcas do trabalho que agora estão expostos na Praça das Mercês.
Os temas abordados nos painéis são: Baobá: origens diaspóricas; Matrizes africanas: religiosidades; Territorialidade: pertencimento ao lugar; Culinária: afeto e empoderamento; Tecnologias africanas: base e inspiração; Arte e cultura: expressões, memórias e heranças; Intelectualidades Negras e (Re)Existências: historicidade e militância.
“Aqui nós temos a herança cultural de um povo que é a nossa identidade. Monumentos como este são muito importantes para mostrar a robusta contribuição em todos os segmentos da sociedade. Nele, também há outras perspectivas históricas, permitindo uma narrativa mais justa com o que de fato foi vivido e, por muitas vezes, injustamente romantizado ou minimizado pela história contada”, ponderou Kátia Bogéa, presidente do Instituto Municipal do Patrimônio Histórico.
O projeto do Monumento à Diáspora Africana conta ainda com o lançamento de uma cartilha educativa, com ações de educação patrimonial, o que inclui visitas guiadas para alunos da rede pública de ensino ao monumento da Diáspora Africana no Maranhão.
“O monumento está no Maranhão, mas ele é de todo o Brasil. Ele está aqui porque mais de 80% das pessoas se declaram negras, foi o quarto do país que mais recebeu pessoas escravizadas. Nem no Rio de Janeiro, em Pernambuco ou na Bahia tem algo assim. É um pioneirismo como lugar de memória, pois tem como principal objetivo aumentar a autoestima do povo negro. Teremos a partir do primeiro trimestre um educador que vai receber escolas da rede pública para provocar esse diáogo em torno dessa pauta tão urgente e tão necessária”, concluiu Luiz Prado, coordenador geral e curador do monumento.