Soft skills: robótica na escola vai muito além de brincadeira
É inegável que para seguir uma carreira em robótica o aluno precisa se desenvolver em áreas como matemática, programação e pensamento sistêmico. Mas engana-se quem acredita que a jornada em robótica depende apenas de habilidades ligadas à engenharia. Em robótica, as ciências exatas são tão importantes quanto saber se comunicar, ter empatia, resolver conflitos e ser colaborativo. E essas são habilidades que servem para a vida toda.
Para estudar robótica o aluno, desde cedo, precisa aprender a pensar soluções criativas para problemas complexos, saber transmitir ideias a qualquer pessoa sobre temas ‘espinhosos’, ter uma aprendizagem ativa sempre e ter persistência. Esses tipos de conhecimento chamados de soft skills os alunos das Escolas SESI Maranhão aprendem a partir dos nove anos por meio da robótica educacional e depois de competição.
Agora mesmo enquanto você lê este texto, equipes formadas por estudantes e seus mentores estão buscando alternativas mais eficientes para a geração, transporte, armazenagem e consumo de energia. Eles estão se preparando para a etapa regional do Torneio de Robótica FIRST LEGO League Challenge (FLL), temporada Super Powered, que acontecerá em fevereiro de 2023 em São Luís. O assunto é sério, mas tudo é feito com muita leveza, diversão, colaboração e empatia.
FLL é um programa internacional de exploração científica projetado para fazer com que crianças e jovens se entusiasmem com ciência e tecnologia e adquiram habilidades valiosas de trabalho e de vida. Propõe que estudantes criem robôs feitos com peças de Lego.
Na Escola SESI São Luís, uma equipe está tentando melhorar a quantidade de luz que reflete em uma placa solar. Já outra idealizou uma placa solar em formato esférico para que a luz seja mais bem aproveitada. Um terceiro grupo está construindo um protótipo de uma central para produção de energia a partir do lixo orgânico. Uma quarta equipe quer aproveitar a energia gravitacional da água em sistemas hidráulicos de prédios residenciais para produzir energia. As possibilidades são infinitas e a imaginação deles sem limite.
“Esta é uma realidade que eu só tive na universidade”, ainda se surpreende o professor técnico de competição de robótica do SESI, Geovanne Arruda. Os alunos da Escola SESI São Luís participaram de torneio interno, uma forma de se preparar para as etapas oficiais da competição. “Nesse momento aproveitamos para checar se os alunos têm as competências necessárias para compor uma equipe de robótica, como autonomia, criatividade, trabalho sob pressão, oratória e pensamento computacional para programar robôs”, explicou Geovanne.
Aline Costa, 15, entrou este ano na robótica para competir na First Tech Challenge (FTC) e não consegue mais se ver longe do mundo que descobriu. Ela e equipe desenvolvem uma solução para gerar energia a partir das instalações hidráulicas. “Sinto que posso trabalhar com desenvolvimento de projetos, comunicação ou programação. Ou ainda juntar tudo isso na robótica. Tenho muitas possibilidades”, disse ela cheia de entusiasmo. Aline acrescentou que a experiência é incrível, prazerosa e divertida e que sabe que as descobertas podem fazer diferença na vida das pessoas, como reduzir o custo financeiro e ambiental no consumo de energia.
Mais humano – Pensar em melhorar a vida das pessoas. Este é um aspecto que está sempre presente no aprendizado de robótica. Assim como a equipe de Alice, o grupo de Geovanna Freitas Sodré, 13, também pensou no social e na segurança ao trabalhar em um isolante térmico em forma de spray, mais resistente e fácil de aplicar se comparado às opções no mercado. “Queremos melhorar a manutenção de redes elétricas para evitar curtos-circuitos e interrupção no fornecimento de energia, especialmente em regiões onde a manutenção da rede elétrica é mais demorada”, explicou Geovana, que deseja seguir na área de programação de sites e aplicativos móveis.
Na outra ponta do torneio que serviu de treino estavam jovens como Antonino Lisboa,22, estudante de engenharia da computação, e Jasmim Lemos, 22, estudante da área de saúde. Os dois foram avaliadores internos dos projetos. Antes estudaram robótica no SESI. Antonino disse que a robótica foi a ‘culpada’ pela escolha da graduação. E Jasmim trabalha como desenvolvedora de jogos e credita a sua entrada no mercado de trabalho ao ensino médio na área de TI, uma dobradinha do SESI e SENAI.
Os dois avaliadores ficaram impressionados com o nível de profissionalismo dos adolescentes, da organização, das técnicas de gerenciamento de projetos, da qualidade das apresentações e da participação feminina nas equipes. “Hoje podemos passar a eles a experiência que tivemos com robótica e fazemos isso com muita responsabilidade e orgulho. O nível dos competidores é muito alto”, resumiu Jasmim.
Como foi dito no início, a técnica é importante. As ideias surgem a partir do conhecimento de muitas disciplinas, como matemática, física e química e precisam ser testadas à exaustão. Os protótipos devem funcionar e dar a dimensão de como podem se transformar em produtos úteis no dia a dia das pessoas. Mas para descobrir um novo mundo é preciso observar a realidade ao redor, ter empatia por quem não se conhece, colaborar com o outro e saber que o erro faz parte da jornada.
Daniel Prado, 16, integra uma equipe da F1 In Schools, uma outra competição de robótica que avalia critérios como melhor engenharia do carro, empreendedorismo, marketing, pesquisa e desenvolvimento, pensamento criativo e projeto social, entre muitos outros. Além do desafio de construir um veículo como se fosse uma empresa de verdade, a equipe dele quer tornar a água da chuva potável, sem substâncias tóxicas e poluentes. “Buscamos uma solução para a escassez hídrica e para a redução dos custos de aquisição de água”, contou Daniel, acrescentando que estudar robótica o tornou mais humano.