São Luís é capital brasileira das festas juninas e do reggae; moradores elegem centro histórico como principal espaço cultural, mostra pesquisa
São Luís é a capital brasileira das festas juninas e do reggae, revelam dados inéditos da pesquisa Cultura nas Capitais, maior levantamento sobre o tema já produzido no Brasil,queanalisou o comportamento dos moradores das 26 capitais brasileiras e do Distrito Federal. A pesquisa é da JLeiva Cultura & Esporte, com patrocínio do Itaú e do Instituto Cultural Vale por meio da Lei Rouanet, Lei Federal de incentivo à Cultura do Ministério da Cultura. O projeto também contou com a parceria da Fundação Itaú.
De acordo com os números, a capital maranhense lidera com folga a participação em festas juninas (38%, contra 28% na média das capitais) e é onde esse tipo de celebração é mais valorizado como principal evento cultural da cidade (53%). O reggae, escutado por 22% da população, tem uma presença três vezes maior do que a média das capitais (5%), reforçando sua importância na identidade musical local.
Outro destaque trazido pelo estudo é a valorização do centro histórico, citado como espaço cultural mais frequentado por 21% dos moradores — um índice dez vezes superior à média das capitais (2%). Na culinária, o arroz de cuxá ganha destaque: 24% dos entrevistados citaram receitas de arroz como típicas da cidade, percentual oito vezes maior que a média das capitais (3%).
Em relação ao acesso a atividades culturais nos doze meses anteriores à pesquisa, São Luís apresenta índices superiores à média das 27 capitais em relação à frequência em festas populares (45%, contra 36%) e circo (17%, contra 14%). A maioria das atividades culturais frequentadas pelos moradores da capital do Maranhão ocorre longe do bairro de residência, de acordo com 56% dos respondentes, enquanto 29% afirmaram que tais atividades ocorrem perto do bairro onde moram e 15% no próprio bairro.
“A pesquisa deixa clara a força da cultura popular de São Luís. É a capital onde mais moradores vão a festas populares, principalmente às festas juninas – embora o acesso a essas atividades tenha caído um tanto desde nossa pesquisa anterior, em 2017”, afirma João Leiva, diretor da JLeiva Cultura & Esporte. “O desempenho de São Luís fica acima da média em circo, que é outra uma atividade popular. E os ritmos mais ouvidos na cidade também têm essa característica: forró, sertanejo e gospel. A exceção é o reggae, que tem menos apelo em outras capitais, mas que em São Luís é muito forte.”
Teatro e museus como diversão e passeio em família
A pesquisa mostra que, entre os moradores que visitaram museus ou exposições, 29% não especificaram qual foi o último local visitado — disseram apenas que foi em São Luís. Ainda assim, foram citados 26 espaços diferentes, com destaque para o Teatro Arthur Azevedo (12%) e o Museu Histórico e Artístico do Maranhão (11%). A maioria das visitas foi gratuita (64%) e feita principalmente em família com crianças (30%).
As principais motivações para ir a museus foram lazer e diversão (23%), interesse em aprender (21%) e levar os filhos (11%) — esta última a maior taxa entre todas as capitais brasileiras. Por outro lado, entre os que não frequentam museus, as razões mais citadas foram desinteresse (44%) e falta de tempo (27%). Apenas 6% disseram acessar coleções online de museus.
Potencial para crescimento
Em relação a atividades como teatro, dança e jogos eletrônicos, São Luís registra índices abaixo da média: apenas 14% foram ao teatro no ano anterior à pesquisa (contra 25% das demais capitais), 19% participaram de atividades de dança (média: 28%) e 37% jogaram videogames (média: 51%). Apesar desses resultados, há forte potencial de crescimento, com muitos moradores demonstrando alto interesse em participar: 28% dos entrevistados que nunca foram a museus ou exposições ou não foram nos 12 meses anteriores à pesquisa declararam interesse em frequentar essa atividade. Dos que não acessaram teatro, 27% indicaram alto interesse em ir. Algo semelhante ocorre em espetáculos de dança (22%) e shows musicais (21%).
São Luís é a capital do Nordeste com menor percentual de acesso a shows de música, teatro e jogos eletrônicos. Metade da população (50%) nunca jogou videogames, e apenas 37% jogaram no ano anterior à pesquisa — contra uma média de 51% entre todas as capitais.
Práticas culturais
A pesquisa também revela que 44% dos moradores nunca praticaram atividades culturais nem de forma amadora, como tocar instrumentos, dançar ou escrever. Esse índice é um dos mais altos do país. São Luís também está entre as cidades com menor número de pessoas que doaram dinheiro (14%) ou tempo (14%) para iniciativas culturais.
Comparação com 2017 mostra queda no acesso à cultura
Esta foi a segunda vez que a JLeiva e o Datafolha fizeram pesquisa de hábitos culturais em São Luís. A primeira foi em 2017, junto com outras 11 capitais. E, como ocorreu em todas elas, na capital maranhense houve queda no acesso à maior parte das atividades — a exceção foram os concertos de música clássica. Os maiores tombos aconteceram em bibliotecas, dança e festas populares.
São Luís | |||
2017 | 2024 | Diferença (em pontos percentuais) | |
Livros | 66 | 57 | -9 |
Cinema | 56 | 40 | -16 |
Videogame | 45 | 37 | -9 |
Shows | 42 | 34 | -8 |
Festas populares | 65 | 45 | -20 |
Bibliotecas | 39 | 17 | -22 |
Dança | 39 | 19 | -20 |
Museus | 23 | 14 | -9 |
Teatro | 24 | 14 | -10 |
Circo | 22 | 17 | -5 |
Sarau | 15 | 8 | -7 |
Concerto | 7 | 7 | 0 |
Metodologia
Nesta edição da pesquisa Cultura nas Capitais foram ouvidas 19.500 pessoas, moradoras de todas as capitais brasileiras – as 26 estaduais, além de Brasília – com idade a partir de 16 anos, de todos os níveis socioeconômicos, entre os dias 19 de fevereiro e 22 de maio de 2024. As pessoas foram abordadas pessoalmente em pontos de fluxo populacional. Ao todo, os pesquisadores foram distribuídos por 1.930 pontos de fluxo (entre 40 e 300 por capital), em regiões com diferentes características sociais e econômicas. Os entrevistados respondiam até 61 perguntas, além das relacionadas a características sociais e econômicas (como escolaridade, cor da pele etc.). O instituto responsável pelo estudo é o Datafolha.
Além da pergunta sobre renda, a pesquisa também adotou o Critério Brasil de Classificação Econômica, um instrumento de segmentação econômica que utiliza o levantamento de características domiciliares (presença e quantidade de alguns itens domiciliares de conforto e grau de escolaridade do chefe de família) para diferenciar a população em classes: A, B, C, D ou E (Fonte: ABEP – Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa).
Sobre a JLeiva Cultura & Esporte
Consultoria especializada em concepção, planejamento, execução, análise e disseminação de dados e informações sobre o setor cultural no Brasil. Conduz estudos, mapeamentos e benchmarking para empresas privadas, instituições públicas e organizações sociais com atuação em cultura e esporte — como Fundação Itaú, Fundação Roberto Marinho, Vale, British Council, Vale, Nike, Museu do Amanhã e Instituto Goethe. Desde 2010, realiza pesquisas de hábitos culturais, consolidando-se como referência nessa área.