Quais perigos de segurar o xixi e beber pouca água

Gleice Salazar, uma jovem de 23 anos, tinha um velho costume: não beber água e não dar muita importância à saúde devido a intensa rotina no trabalho. “Eu descobri que estava precisando dar uma “freada” na rotina exaustiva quando passei mal no meu local de trabalho. Já vinha há muitos meses sentindo fortes dores na região das costas, tossindo bastante e, também, com febre alta. Tinha feito testes para saber se era covid-19, mas fiz um, dois, três, quatro, e todos deram negativo. Pensei, então, que fosse por causa da rotina de trabalho, porque eu trabalhava muito. Sempre lembrei minhas amigas de tomarem água e só que eu esquecia. Eu trabalhava em local fechado com ar-condicionado e acabava não sentindo sede e, no lugar da água, eu consumia bastante laranja. Aí depois dessas dores fortes nas costas, febre alta, tosse e descobrindo que não era Covid, procurei uma Unidade Básica de Saúde”. Foi quando, finalmente, Gleice descobriu a razão de todo o sofrimento: infecção urinária já em estado avançado.. 

Gleice está entre as estatísticas de mulheres que sofrem com infecção urinária no país. Cerca de 80% das brasileiras são afetadas pela doença. Quatro em cada cinco delas já sofreram ou ainda sofrerão de infecção do trato urinário, também chamada de cistite (infecção da bexiga) ou infecção urinária, durante a vida.

De acordo com o médico urologista do Hapvida Saúde, Dr. Felipe Melo, embora os sintomas sejam facilmente identificados e o tratamento simples – quando diagnosticado no início – é preciso ter muito cuidado, pois se não for tratado corretamente, a doença pode evoluir e, além da bexiga, pode afetar os rins.

“O tratamento precoce das infecções previne a ascensão do processo para os rins. E essa condição é uma patologia com potencial gravidade”, pontuou.

O que é infecção urinária?

A Infecção urinária afeta os órgãos do trato urinário e pode ser dividida em infecções da uretra (uretrite), da bexiga (cistite) ou do rim (pielonefrite). No homem, podemos ainda englobar as infecções associadas à próstata (prostatite) ou aos testículos (orquite e orqui-epididimite).

As infecções urinárias acometem pessoas de todas as idades, sendo mais comuns em mulheres, principalmente, após o início das atividades sexuais. Na proporção de cada 10 pacientes, 9 são mulheres, um é homem.

“Acredita-se que as mulheres têm mais infecções urinárias porque têm a uretra mais curta que os homens. A uretra feminina, por ser curta, deve proporcionar menos dificuldades para os germes que causam infecções, e quando eles conseguem chegar à bexiga, encontram o ambiente perfeito para iniciar sua proliferação”, destacou o especialista, que classifica os tipos da infecção.

Infecção da uretra (uretrite): provocada geralmente por agentes transmissores por via sexual, afetam mais os homens. Pode ser diagnosticada pelo aparecimento de um corrimento uretral, límpido ou esbranquiçado.

Infecção da bexiga ou cistite: a mais comum e considerada a de tratamento mais fácil. Geralmente, o organismo infeccioso atinge o exterior da uretra e infecta a bexiga.

Infecção renal ou pielonefrite: É quando a infecção se propaga até o rim. Nesse caso, o tratamento é mais prolongado e precisa de uma atenção maior para não se espalhar para o restante do organismo (sépsis).

Qual a causa e sintomas?

O germe que causa mais infecção urinária é uma bactéria que existe normalmente no intestino. A doença também pode ser causada por fungos, na maioria das vezes, em doentes diabéticos ou pessoas com o sistema imunológico afetado. Existem ainda as originárias por vírus ou parasitas, consideradas raras. Entre 70% e 80% dos casos são provocados por Escherichia coli (bactéria bacilar Gram-negativa, que se encontra normalmente no trato gastrointestinal inferior). Mas em 10% a 15% dos doentes com sintomas, o agente envolvido não é identificado.

A maioria das pessoas que já sofreram da doença, reclamaram de terem sentido dor, ardor ou desconforto ao urinar, aquela vontade de fazer xixi a todo instante – mesmo estando com a bexiga vazia – e ainda mau cheiro na urina. Um sinal também da infecção urinária é o sangue na urina e, em casos mais graves, mal-estar, dores musculares, perda de apetite, náuseas e vômitos. Nesse caso, a infecção é considerada mais grave necessitando de internação hospitalar.

Como tratar

A maioria das infecções urinárias responde a tratamento simples feito em casa (quando diagnosticadas no início) com antibióticos, hidratação, analgésicos e anti-inflamatórios. Em alguns casos mais graves, quando a infecção já está disseminada, é necessário a internação hospitalar.

A Gleice, por exemplo, após consultar um especialista, iniciou tratamento em casa. “Tomei medicação para febre e para controlar a tosse. Tive uma perda de peso significativa e o tratamento está sendo a base de muita água pro meu corpo voltar a ficar hidratado. Continuo em casa fazendo o tratamento, porque ainda apresento febre e um pouco de tosse que são decorrentes da infecção urinária”, frisou Gleice.

Como evitar a doença

  • Ingerir bastante água;
  • Urinar em intervalos de 2 a 3 horas;
  • Urinar sempre antes de deitar-se para dormir;
  • Tratar a constipação intestinal;
  • Tratar casos de incontinência ou urgência miccional, ou casos de cistocele (conhecida como bexiga caída);
  • Cuidar de doenças da próstata.

Além de todos esses cuidados, o Dr. Felipe Melo orienta a importância de levar a sério qualquer mal-estar. “Os cuidados que diminuem as infecções começam com a boa higiene íntima, ingestão de água em quantidade suficiente para garantir a renovação da urina e com isso, impedir a proliferação dos germes e expulsá-los no tempo ideal. No caso das mulheres, a consulta com o ginecologista para o tratamento das infecções ginecológicas, tem um papel primordial. Já os pacientes com constipação intestinal podem sofrer com contaminação do sistema urinário. Por isso, essa condição também deve ser combatida. Pacientes que têm cálculos renais tem maior incidência de infecções, portanto, é importante combater os cálculos para ter sucesso no seu tratamento”, concluiu o especialista do Hapvida Saúde.

Curiosidades

  • Mulheres entre 20 e 40 anos e grávidas são as mais afetadas. Já os homens sofrem com a doença na infância e depois dos 55 anos.
  • Os sintomas podem durar de 2 a 3 dias após iniciar o tratamento, sendo mais rápido quando se tratar de bexiga e mais lento quando afetados o rim e a próstata. Algumas pessoas podem não sentir qualquer sintoma, sendo assim chamadas de infecção urinária assintomática. Esses casos podem ser identificados em idosos e estar associados à confusão mental.
  • Infecção urinária é transmissível? Não, ela não é sexualmente transmissível, porém, a relação sexual facilita o desenvolvimento da doença ao estimular a introdução de bactérias externas no trato urinário, tanto no homem quanto na mulher.