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Pesquisadores que não são fluentes em inglês enfrentam dificuldades

Desafios incluem maior tempo para ler e escrever publicações científicas e probabilidade de terem trabalhos rejeitados por periódicos

O domínio da língua inglesa tem se mostrado um requisito para a carreira acadêmica, sendo o idioma predominante para a divulgação de pesquisas científicas. No entanto, a falta de fluência impõe barreiras aos pesquisadores de países onde o inglês não é a língua oficial, como destaca estudo divulgado pela Revista Pesquisa Fapesp

Conduzida por uma equipe internacional de cientistas de dez países, a pesquisa analisou as políticas de publicação de 736 periódicos científicos na área de ciências biológicas. Desse número, apenas duas revistas, Nature e Nature Plants, afirmaram em suas diretrizes que o autor não se expressar de maneira satisfatória no idioma não seria critério para rejeição de artigos, sendo o mais importante a qualidade e a pertinência do conteúdo.

Foram entrevistados editores-chefes de 262 periódicos e constatado que somente 6% orientavam revisores a não descartar preliminarmente manuscritos com problemas de gramática e clareza. Além disso, aproximadamente 50% sugerem serviços on-line gratuitos de correção gramatical, mas apenas 1% oferece assistência gratuita por meio de programas de mentoria.

A exclusividade no acesso a essas iniciativas destaca desigualdades socioeconômicas e limitações estruturais enfrentadas pelos pesquisadores com menos recursos. Para garantir que um artigo esteja escrito de forma clara e de acordo com a norma culta inglesa, eles  contratam serviços de especializados em edição ou tradução, aumentando os custos de publicação, conforme ressalta a Revista Pesquisa Fapesp.

Concomitantemente, um estudo publicado em 2023 pela PLOS Biology mostrou que os pesquisadores que não são fluentes em inglês enfrentam mais desafios em sua carreira, como mais tempo para ler e escrever publicações científicas e a probabilidade de terem trabalhos rejeitados por periódicos, que pode ser 2,5 vezes maior.

Idioma da ciência e dos negócios

Além de ser a língua da ciência, o inglês consolidou-se como o idioma dos negócios em escala global. De acordo com um estudo da Universidade de Cambridge, 85% das organizações internacionais utilizam o inglês corporativo como idioma oficial no ambiente de trabalho. 

Essa realidade reflete diretamente nas exigências do mercado de trabalho, especialmente em empresas multinacionais, onde a fluência no idioma deixou de ser um diferencial e passou a ser um requisito, fazendo com que muitos profissionais busquem se aperfeiçoar através de cursos de inglês corporativos ou mentoria em inglês para negócios.

Para o biólogo e professor da Universidade de São Paulo (USP), Marco Mello, todo cientista precisa, pelo menos, saber ler em inglês. Ele destaca que um jovem pesquisador que deseja se destacar na profissão também deve aprender a escrever no idioma.

O professor orienta que é interessante investir em cursos de inglês, mas para quem tem menos recursos financeiros, pesquisar por cursos gratuitos, músicas, filmes e jogos legendados no idioma podem auxiliar no processo de aprendizagem. 

Periódicos podem auxiliar os autores a enfrentarem as dificuldades

O biólogo brasileiro Pedro Albuquerque Sena, coordenador técnico do Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (Cepan) e coautor do estudo divulgado pela Fapesp, afirmou que uma conclusão do trabalho realizado foi que os periódicos podem desempenhar um dual papel: enquanto são fonte de barreiras linguísticas, também têm potencial para auxiliar os autores a superá-las.

Na prática, isso pode acontecer a partir da implementação de programas de apoio oferecidos por algumas publicações científicas, que buscam reduzir as barreiras linguísticas ao disponibilizar assistência direcionada aos autores. 

Um exemplo disso é o programa de mentoria em inglês oferecido pela Sociedade para o Estudo da Evolução, nos Estados Unidos, direcionado para quem submete artigos à revista Evolution. O serviço é gratuito e permite a solicitação do auxílio de editores com expertise em redação científica, que fazem sugestões de ajustes pontuais e dialogam sobre como aprimorar a clareza do manuscrito.