Novas diretrizes da SBN modernizam diagnóstico e tratamento do autismo no Brasil
Documento reforça a importância da avaliação clínica, do trabalho multidisciplinar e da intervenção precoce baseada em evidências científicas
A Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBN) lançou novas diretrizes nacionais para o diagnóstico e tratamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA), atualizando orientações que estavam defasadas há mais de dez anos. Baseado nas mais recentes evidências científicas, o documento busca unificar condutas em todo o país e representa um marco importante para profissionais da saúde, da educação e para famílias de pessoas com autismo.
Entre as principais mudanças, as novas recomendações reforçam que o diagnóstico do autismo é essencialmente clínico, ou seja, deve ser feito a partir da observação comportamental e do histórico de desenvolvimento, e não por meio de exames laboratoriais ou de imagem. A grande inovação está na ênfase a uma avaliação multidisciplinar, envolvendo profissionais de diferentes áreas, como neurologia, fonoaudiologia, psicologia e terapia ocupacional, a fim de garantir um olhar mais completo sobre cada caso.
Para a neuropsicopedagoga Silvia Kelly Bosi, especialista em desenvolvimento infantil, a atualização das diretrizes representa um avanço importante para a prática clínica. “O diagnóstico é clínico e o tratamento deve ser individualizado e baseado em evidências científicas. Cada criança com autismo têm necessidades e potenciais únicos, e o plano terapêutico precisa refletir isso, com metas claras e objetivos de curto, médio e longo prazo”, afirma.
A intervenção precoce é outro ponto central. Segundo as novas orientações, quanto antes se inicia o acompanhamento, melhores são os resultados no desenvolvimento da linguagem, da comunicação e da interação social. Silvia reforça esse impacto. “Na clínica, vemos todos os dias o quanto a intervenção precoce transforma a vida da criança e de sua família. Quanto mais cedo começamos, maiores são as chances de desenvolvimento e inclusão”, destaca.
O documento também destaca o papel essencial da família no processo terapêutico, recomendando que pais e cuidadores sejam orientados e participem ativamente das atividades propostas pelos profissionais. A fonoaudióloga Angelika dos Santos Scheifer ressalta a importância dessa participação especialmente em contextos de vulnerabilidade. “O envolvimento dos pais é fundamental, principalmente em regiões com poucos recursos ou acesso limitado a terapias. Quando a família faz parte do processo, os resultados são muito mais consistentes”, avalia.
As diretrizes ainda alertam para fatores externos que podem confundir o diagnóstico, como o uso excessivo de telas e situações de vulnerabilidade social, que podem causar atrasos na fala e dificuldades de interação, exigindo um olhar técnico e especializado para diferenciar causas comportamentais de sinais clínicos do autismo.
Com uma abordagem mais moderna, humana e baseada em evidências, as novas diretrizes da SBN consolidam um novo padrão de cuidado e reforçam a necessidade de políticas públicas que ampliem o acesso à intervenção precoce e à capacitação profissional em todo o Brasil.
Caso queira se aprofundar na pauta, fico à disposição para fazer a ponte de entrevista com as especialistas.
Silvia Kelly Bosi
Cientista e neuropsicopedagoga, graduada em Psicopedagogia Clínica e Institucional, com especializações em Autismo, Desenvolvimento Infantil, Análise do Comportamento, Neurociências e Neuroaprendizagem. Certificada internacionalmente pelo CBI of Miami em Desenvolvimento Infantil e Avaliação Comportamental. Mestranda em Atenção Precoce pela Universidad del Atlántico (Espanha) e Perita Judicial certificada pela PUC-Rio. Atua com foco em avaliação neuropsicopedagógica e intervenção nos contextos clínico e educacional.
Angelika dos Santos Scheifer
Fonoaudióloga, pós-graduada em Avaliação e Reabilitação em Motricidade Orofacial e Distúrbios de Fala e Linguagem, formação avançada em PECS, formação em laserterapia para clínica fonoaudiológica e aprimoração em ação fonoaudiológica no TEA. Produtora de conteúdo digital para promoção de saúde em fala e linguagem. Atua em atendimento clínico e em treinamento familiar para o desenvolvimento da fala infantil, com consultas presencial e online para todo o Brasil.
