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Luto: aprendendo a lidar com a morte e ausência

Para quem passou por 2020 em ritmo de quarentena e distanciamento social, a chegada de um novo ano significa esperança, e não poderia ser mais bem-vinda. Entretanto, para muitos que perderam entes queridos para a Covid-19, 2021 pode começar ainda em período de luto. Diante desse desafio, como iniciar um novo capítulo com a dor da perda tão difícil de lidar?

Para responder essa pergunta é necessário entender que cada pessoa vive o luto de forma diferente. A coordenadora do curso de Psicologia da Estácio, Karen Fantine Oliveira, ainda revela que apesar de difícil, o período de luto precisa ser vivenciado pelo tempo que for necessário para que a pessoa supere a perda. “Cada um tem um tempo diferente para lidar com o luto, tem gente que sente assim que acontece a perda, tem gente que só começa a sentir mais saudade depois de meses, mas é necessário que as pessoas passem por esse processo doloroso, que chorem todas as lágrimas, porque depois que isso acontece é que será possível recomeçar”, afirma a especialista.

Recomeçar. É exatamente o que mais de 210 mil famílias brasileiras precisam, após perder entes queridos para a Covid-19. Mas para algumas pessoas o (re)começar uma nova vida sem o seu familiar não é tarefa fácil e o auxílio de terapia especializada pode ajudar. “A terapia só tem a ajudar em todos os momentos, não só no luto, mas nessa situação um psicólogo pode fornecer um suporte emocional e planejar, juntamente com a pessoa enlutada, alguns comportamentos que podem ser alternativos, saudáveis e produtivos para ela. Uma mudança de pensamento para aceitar e aprender a conviver sem o outro”, enfatiza a coordenadora.

Fases do luto

O luto é um estado psíquico extremamente doloroso, associado à morte e às perdas. No entanto, por mais difícil que possa ser, como aprendemos, é necessário “viver o luto” para não se “viver de luto”.

Segundo a psicóloga do Hapvida Saúde, Celiane Chagas, em geral, a vivência do luto se dá em cinco fases. A primeira fase pode ser reconhecida com base em reações e frases como “eu estou bem”, “não preciso de ajuda”. Em um segundo momento, aparecem a negação e raiva, bem percebidas em colocações como “isso não é justo comigo”, “por que Deus fez isso comigo?” e até “eu não aceito”.

Já terceira fase, de acordo com a especialista, é a da barganha, quando as pessoas enlutadas querem fazer uma negociação do tipo “Eu faria qualquer coisa para ter ele(a) de volta” ou “me leva no lugar”.

Mas à frente, aparece a fase depressiva, em que a pessoa se nega a sair de casa e acredita que a dor que sente não vai passar. “Essa é a fase em que a pessoa está se despedindo do luto, quando começa a entender que é um sofrimento, mas que precisa sair do fundo do poço e que, para isso, só depende dela”, explica a especialista.

A última etapa é a mais importante e a mais demorada. Essa é a fase da aceitação, que pode ser bastante prolongada para algumas pessoas. Também conhecida como a fase da conformidade, esse momento é reconhecido quando as pessoas começam a dizer, por exemplo, que a morte trouxe a paz para quem partiu e para quem ficou. “Aceitar o luto sempre vai ser o melhor caminho, porque quando as pessoas o negam, elas enclausuram o próprio sofrimento, fazem com que aquilo fique muito mais aparente”, defende a psicóloga, ao lembrar que chegará um momento em que a saudade ocupará o lugar do luto e virão à memória apenas os momentos bons vividos com quem se ama.