História e estética do movimento Queer é a temática da nova edição do Território Corpo

O termo Queer foi usado, durante muitos anos, de forma pejorativa para se referir a minorias sexuais e de gênero. Partindo de uma tradução literal – peculiar, estranho -, englobava em seu espectro todos aqueles que não se enquadravam em um padrão imposto pela sociedade. Foi no final dos anos 80 que ativistas tomaram posse do termo de forma política, para exigir respeito, direitos e reconhecimento de uma cultura que rompia com a normatividade heterossexual e com o estereótipo homossexual conhecido.

O viés político do queer, por conseguinte, tem desdobramentos artísticos, seja na moda, no cinema, na fotografia e em diversas linguagens. Entendendo a amplitude criativa que o queer abrange, o Centro Cultural Vale Maranhão apresenta a nova edição do programa Território Corpo, com a cultura Queer como temática, trazendo para os espaços da instituição uma programação com artistas maranhenses e de outros estados brasileiros.

De 8 a 19 de novembro, o CCVM será ocupado por oficinas, um curso sobre a origem do queer, desfile, debates, shows, performances e um baile no estilo ball room. “Escolhemos o queer como tema para que possamos pensá-lo enquanto o amplo arco que rege um tipo de comportamento, de estética, de ocupação do espaço público, imbuído de uma orientação sexual e de identidades de gênero ditas como dissidentes. Além disso, é necessário resgatarmos a origem do queer no pensamento popular, enquanto produção de classes baixas, marginais e urbanas, que propõem uma forma de contrapor o que está dado”, conta Gabriel Gutierrez, diretor do Centro Cultural Vale Maranhão e que assina a curadoria do Território Corpo ao lado de Calu Zabel e Ubiratã Trindade.

Artistas maranhenses compõem a programação

Abrindo o Território Corpo Queer, as artistas maranhenses Fuega, Enme, Butantan e Frimes se reúnem novamente para apresentar o show Queer, levando para o CCVM o repertório autoral de suas carreiras reconhecidas nacionalmente. Juntam-se a elas as artistas trans PP Poeta Marginal, Nebraska Diamond e Hera Vyper, com performances sobre o corpo travesti em diferentes perspectivas e simbologias.

O modelo e performer Negroni Blyndex junto com o bailarino David Rebolativo ministrarão um workshop de Voguing, estilo de dança surgido nos Estados Unidos, nos anos 60, que se popularizou entre a comunidade negra latino-americana LGBTQIA+, como forma de resistência e celebração da diversidade. As aulas serão uma preparação para o Afroball, baile que mistura a música preta com um ball, evento onde a comunidade queer se encontra para competir em categorias de dança, desfile e beleza. O evento vai encerrar o Território Corpo Queer no dia 19 de novembro.

Oficinas de moda e maquiagem e curso sobre o queer no audiovisual

Uma das novidades desse ano no Território Corpo é o curso sobre o Cinema Queer, ministrado pela cientista social e doutora em cinema Marina Costin. O curso abrange os novos arranjos e composições estéticas que dão visibilidade a sujeitos que estavam fora do espaço filmíco – pessoas fora do padrão heteronormativo, que interseccionam com outros crivos, como raça, etnia, gênero e orientação sexual. Em cada aula haverá um filme e leituras de textos-base que instigarão discussões entre os participantes em torno de questões como epistemologias do corpo e produção de subjetividades.

Considerando a moda como uma das principais características da cultura queer, serão oferecidas as oficinas Transmutação Têxtil e O Corpo como Espaço Moldável: Processos Híbridos de Criação. A primeira será ministrada pela artista e estilista Vicenta Perrotta, que desenvolverá em 4 encontros um processo artístico baseado nas tecnologias sociais construídas por pessoas trans – como a Pedagogia do Lixo, a Ressignificação de Consumo e a Transmutação Têxtil -, que por meio de técnicas de costura, estimulam uma consciência de que o consumo também é um mecanismo de construção de estereótipos.

O Corpo como Espaço Moldável: Processos Híbridos de Criação será comandada por Alma Negrot, artista multimídia que trabalha com performances, maquiagem e direção de arte em videoclipes, publicidade e editorais de moda, tendo assinado trabalhos de artistas como Karol Conka, Letrux, Jhonny Hooker, Jaloo, entre outros. A oficina tem como objetivo apurar o olhar de forma sensível  para o corpo e suas  infinitas possibilidades por meio da maquiagem criativa, utilizando materiais rejeitados, sucata, papel, linhas, botões, rendas e bilros. 

Os interessados nas oficinas devem comparecer ao CCVM com 1 hora de antecedência, no primeiro dia de cada atividade, e realizar a inscrição presencialmente.

Espetáculos convidados e debates sobre diferentes perspectivas queer

Artistas convidados vão compor a programação do Território Corpo com espetáculos, performances e debates. Ronaldo Serruya, ator e dramatugo do grupo XIX de Teatro, apresentará a peça-manifesto A doença do outro, que propõe um formato de palestra-performance, partindo de conceitos extraídos do feminismo negro e da teoria queer para aproximá-los da ideia de “outro” que perpassa os corpos positivos e os friccionando com relatos autobiográficos do autor e perfomer, que vive com HIV desde 2014.

Glamour Garcia, atriz revelação de 2019 por sua participação na novela A Dona do Pedaço, abre a mostra de performances do sábado, 12, com Lokomia, e compõe a mesa redonda O queer, o marginal e a cena junto com Ronaldo Serruya, debatendo a criação, os desafios e expressões de artistas queer no espaço cênico.

A atriz Renata Carvalho apresentará Manifesto Transpofágico, onde se veste de seu corpo travesti para narrar a historicidade de sua corporeidade. O espetáculo acontecerá no Teatro Arthur Azevedo, com retirada de ingressos com 1 hora de antecedência na bilheteria.

A conversa aberta A roupa – subversão queer e a moda no Brasil reunirá Vicenta Perrotta e a jornalista, curadora e gestora cultural Erika Palomino, debatendo a moda brasileira a partir das bases queer – conectadas ao popular, ao urbano e ao marginal -, abordando a criação de roupas enquanto dispositivo de renovação cultural e suspensão dos costumes. A mediação será de Gabriel Gutierrez. O debate será seguido de um desfile com as roupas produzidas durante a oficina de Transmutação Têxtil.

O Território Corpo acontecerá de 8 a 19 de novembro, nos espaços do Centro Cultural Vale Maranhão, totalmente gratuito. O CCVM está localizado na Rua Direita, nº 149, Centro Histórico de São Luís.

Programação Completa

●        08 a 11/11 – 15h às 19h – Oficina Transmutação Têxtil, com Vicenta Perrotta

●        08/11 – 19h – Show Queer – com Enme, Fuega, Butantan & Frimes

●        09/11 – 19h – Performance Mulundus – Pepê Poeta Marginal

●        10/11 – 19h – Espetáculo Pavão Misterioso – Ivan Bernadelli

●        11/11 – 19h – Conversa Aberta + Desflie A roupa – subversão queer e a moda no Brasil, com Erika Palomino e Vicenta Perrota. Mediação de Gabriel Gutierrez

●        14/11 – 14h às 18h – Vogue Class – com David Rebolativo e Negroni Blyndex

                                19h – Mostra de Performances com Glamour Garcia, Alma Negrot, Nebraska Diamond, Hera Vyper e Baby Vyper

●        16 a 19/11 – 14h às 18h – Curso Cinema Queer: Teoria, estética, e semiótica desgenerada, com Marina Costin

                                      15h às 19h – Oficina O Corpo como Espaço Moldável: Processos Híbridos de Criação, com Alma Negrot

●        16/11 – 19h – Conversa Aberta O queer, o marginal e a cena, com Glamour Garcia e Ronaldo Serruya

●        17/11 – 19h – Espetáculo A Doença do Outro, com Ronaldo Serruya

●        18/11 – 19h – Espetáculo Manifesto Transpofágico, com Renata Carvalho, no Teatro Arthur Azevedo

●        19/11 – 19h – Afroball, com apresentação de Negroni Blyndex e DJ Gabi Leão

Sobre o Território Corpo

Criado em 2020, o Território Corpo é o programa do CCVM que abre espaço para o fazer artístico e para o diálogo sobre as relações entre corpo, arte e sociedade a partir de diferentes perspectivas e subjetividades. Em sua primeira edição, teve o tema “Entre Brasil e África Negra” e foi dedicado às danças e à corporeidade negra, com debates e oficinas de danças e artes cênicas em uma programação 100% virtual. Em 2021, com a retomada de atividades presenciais, teve a perspectiva da arte urbana, de rua, como tema, levando para paisagens de São Luís performances, instalações e intervenções.

Sobre o Centro Cultural Vale Maranhão

O Centro Cultural Vale Maranhão é um espaço cultural mantido pelo Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, com o objetivo de contribuir na democratização do acesso à cultura e valorização das mais diversas manifestações e expressões artísticas da região.

Foto: Divulgação