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Grupo Mateus movimenta pelo menos R$ 4 bi no maior IPO do ano e chegará à Bolsa valendo mais que o Pão de Açúcar

O Grupo Mateus, rede de supermercados e atacarejos que atua nas regiões Norte e Nordeste e é a quarta maior do país, movimentou pelo menos R$ 4 bilhões em um IPO nesta quinta-feira, segundo fontes a par da oferta. Foi a maior abertura de capital na Bolsa brasileira desde o IPO da BR Distribuidora, há quase três anos.   

Com o IPO, o Grupo Mateus vai estrear na Bolsa na próxima terça-feira valendo R$ 20 bilhões — mais que o Pão de Açúcar (R$ 18,5 bilhões) e que o Carrefour Brasil (R$ 11 bilhões). 

Benchimol no Maranhão  

Guilherme Benchimol, cuja XP liderou a coordenação da oferta, passou o dia no Maranhão participando da finalização do IPO. No início da noite, o Grupo Mateus acertou a venda de suas ações por R$ 8,97, no piso do intervalo indicativo que ia até R$ 11,66.

A decisão mostra que mesmo os IPOs mais disputados, como foi o da varejista maranhense, têm enfrentado questionamentos dos investidores sobre o preço.  

— Foi uma decisão estratégica, para permitir que a ação estreie em alta e favoreça os novos sócios  disse um interlocutor dos executivos da varejista.

Cadê o gringo?  

Segundo as fontes, houve demanda equivalente a cinco vezes o tamanho da oferta, que acabou ficando quase toda nas mãos de gestoras de Rio e São Paulo — apenas 10% teriam ficado com estrangeiros, percentual menor que a média recente de mercado, segundo uma fonte.

Os bancos que coordenaram a oferta convenceram o fundador Ilson Mateus a vender 70% do lote adicional de ações, levantando mais R$ 500 milhões e abrindo espaço para os fundos.       

Preparada ao longo de meses de euforia, a oferta se concretizou em momento adverso de mercado, com diversos IPOs sendo cancelados, e poucos dias após um acidente em uma das lojas do grupo matar uma funcionária e ferir oito pessoas em São Luís. 

Em vez de celebrar, fundador vai madrugar

O IPO consagra a trajetória do fundador Ilson Mateus, um self-made man que, no intervalo de quatro décadas, ascendeu da pobreza à posição de nona maior fortuna do país. No mês passado, a revista Forbes estimou seu patrimônio em R$ 20 bilhões. 

Órfão desde os 4 anos e criado pela avó, Ilson Mateus foi torneiro mecânico, vendedor de cachaça e trabalhou como ajudante no garimpo de Serra Pelada antes de fundar a empresa, há 34 anos. O começo foi em uma mercearia de 50 metros quadrados na cidade maranhense de Balsas, que ainda hoje tem menos de 100 mil habitantes e faz parte da fronteira rural conhecida como “Matopiba”. 

O negócio evoluiu logo para uma operação regional de atacado, que se transformaria nas décadas seguintes no maior varejista do Nordeste. 

Apesar de bilionário e de circular entre suas operações em seu próprio jatinho, o empresário projeta imagem frugal, e a imprensa local já o flagrou rodando por São Luís em carros populares.      

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Segundo um interlocutor de Mateus, em vez de celebrar o IPO, o empresário embarcou em seu jatinho na noite desta quinta-feira para preparar a inauguração de uma nova loja em Marabá (Pará) nas primeiras horas de sexta-feira…       

Do atacarejo ao e-commerce

No ano passado, o Grupo Mateus faturou R$ 9,9 bilhões e teve lucro líquido de R$ 338 milhões. A operação tem três pilares: atacado, varejo e comércio eletrônico. No primeiro, tem mais de 1,8 mil representantes autônomos que atendem 770 cidades em Maranhão, Pará, Piauí, Tocantins, Bahia e Ceará, distribuindo com exclusividade na região marcas de grupos como P&G e Heinz. 

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No varejo, o grupo tem 137 lojas físicas, sendo 29 atacarejos, 24 supermercados, 2 hipermercados, 66 lojas de eletroeletrônicos, 16 lojas de vizinhança e nove centros de distribuição. A operação se dá sob as bandeiras Mix Atacarejo, Supermercado Mateus, Eletro Mateus e Camiño Supermercados. 

Por atuar uma região pouco coberta pelas carteiras das butiques do Leblon e da Faria Lima, a oferta foi uma das mais disputadas pelas principais gestoras e bancos locais — despertando inclusive o ciúme de instituições estrangeiras que acabaram ficando de fora da coordenação do IPO. 

Acabaram organizando a transação a XP Investimentos, como líder, o Bradesco BBI, como agente estabilizador, o BTG Pactual, o Itaú BBA, o BB Investimentos, o Santander e o Safra.

Preço salgado?  

O principal atrativo enxergado pelos investidores no Grupo Mateus é sua atuação em uma região inexplorada por concorrentes e em um setor de alto crescimento.  

“A escala na região Nordeste do Mateus é três vezes maior que o segundo maior na mesma região e maior que a soma de todos seus concorrentes, em termos de faturamento”, avaliou relatório da Eleven Financial Research, que recomendou a seus clientes a compra do papel no IPO.  

Mas alguns gestores e analistas estavam reticentes com relação à capitalização da companhia.    

— É uma história legal, mas cujo “valuation” está muito esticado para mim — disse o responsável por uma asset com mais de R$ 40 bilhões de ativos sob gestão. 

Tiago Reis, da Suno Research, avaliou em relatório que, no centro do intervalo de preço que balizou o IPO, o Grupo Mateus chegaria à Bolsa mais “caro” que Carrefour e Pão de Açúcar. 

“Analisamos também concorrentes estrangeiros, e o Grupo Mateus negocia com um prêmio, inclusive, sobre o Walmart no múltiplo “EV/Sales” (Valor do negócio sobre a receita). É claro que a empresa brasileira apresenta muito mais potencial de crescimento na margem, mas, dado que o Walmart é uma empresa já consolidada inserida em uma economia muito mais sólida que a do Norte do Brasil, isso reforça a nossa visão de que os múltiplos estão excessivos”, observou Reis, recomendando aos clientes que não comprassem o papel no IPO.  

Um outro risco apontado pelos analistas é a incerteza sobre incentivos fiscais que beneficiam a empresa. A Armazém Matheus, por exemplo, goza de um Regime Especial de ICMS no Maranhão que somou quase R$ 450 milhões no ano passado.

Fonte: O GLOBO