Experiência da pandemia é retratada pelo artista plástico João de Deus
Após 20 anos sem pintar, dedicado somente ao universo acadêmico, o artista plástico João de Deus apresenta a exposição “Delírios da Quarentena”, em cartaz simultaneamente nos Espaços de Artes Márcia Sandes (Procuradoria Geral de Justiça) e Ilzé Cordeiro (Centro Cultural do Ministério Público – Centro). A mostra entra em cartaz na próxima segunda, 19, e ficará aberta até o dia 31 de agosto.
Ao todo, são 45 telas na Márcia Sandes e 22 no CCMP. Todas criadas em 2020. Os quadros de desenho e pintura, em geral coloridos, em estilo figurativo/abstrato, foram feitos nas técnicas acrílica sobre tela, cerogravura, nanquin sobre papel, mista, giz de cera sobre papel, pastel oleoso sobre papel canson e aquarela.
A exposição poderá ser visitada virtualmente, na página do CCMP, e presencialmente, com agendamento por e-mail (centrocultural@mpma.mp.br) ou pelo telefone 32191997, obedecendo aos protocolos de segurança contra a Covid-19.
De acordo com o curador do Centro Cultural do Ministério Público do Maranhão, Francisco Colombo, o artista e professor João de Deus aproveitou a pandemia para mergulhar intensamente na produção artística, motivado por reflexões e pelas incertezas da quarentena.
Conforme explicou, uma das ideias da exposição é levantar uma recordação expressiva e reflexiva deste período. “A voz contida pela angústia e o medo impregnaram telas com arte que nos ajudarão a preservar a memória deste momento tão sombrio. De repente, filhos ficaram órfãos. Pais sem os filhos. Famílias desestruturadas. Sensação terrível de que a morte está à espreita. Desespero. Mais de 500 mil vidas perdidas só no Brasil”.
Colombo acrescentou que João de Deus criou as telas como uma defesa ante a solidão e a sensação de impotência. “O que o artista nos oferece é, no fundo, por mais paradoxal que possa parecer, uma celebração da vida. A arte em João revela reminiscências tão profundas quanto difíceis de nominar, encravadas na alma e que antecedem a própria existência”, afirmou o curador no texto de apresentação da mostra.
Sobre o trabalho de João de Deus, o também artista plástico Miguel Veiga comentou: “A sua expressão bidimensional com a pintura ou o desenho nos remete às referências modernistas do fantástico surrealista Marc Chagal ou dos outros transgressores ‘fauvistas’. Eu diria que os delírios não estão presentes só agora na quarentena, mas estiveram durante a vida toda de João, na superação das linguagens artísticas, na formação acadêmica, na vida pessoal e coletiva, na própria construção do seu imaginário enquanto pessoa”, destacou.
A promotora de justiça Ana Teresa Silva de Freitas, que igualmente participa da apresentação da exposição, teceu impressões sobre o trabalho de João de Deus: “Angústias e temores acentuam-se pela indiferença, pela omissão e ação de quem nega a ciência, de quem deixa morrer. Um pouco do muito, que sangra o coração, deixa a alma e no seu imaginário mergulha no mar das telas, dos silêncios, dos olhares profundos, que repousam no que precisam ver. São mortes, em recortes, e vidas, que seguem órfãs de suas vidas, do colorido do tempo que lhes foi roubado e que teima em não passar”.
O ARTISTA
João de Deus Vieira Barros nasceu em São José de Ribamar no dia 8 de março de 1957, dia de São João de Deus, derivando daí seu nome. Estreou nas artes visuais em 1995.
É professor titular aposentado da Universidade Federal do Maranhão. Atualmente é o gestor do Centro de Cultura de São José de Ribamar.