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Expedição científica encontra arbusto ameaçado de extinção no Território Meio Norte

De 24 a 30 de julho, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) se deslocou ao longo da estrada BR-010 (rodovia Belém-Brasília) e BR-222 a procura de plantas criticamente ameaçadas de extinção devido a impactos ambientais. O principal desafio da expedição era coletar amostras de duas espécies listadas no Plano de Ação para conservação das espécies ameaçadas do Território Meio Norte (PAT Meio Norte): Erythroxylum ayrtonianum Loiola & M.F.Sales e Rinorea villosiflora Hekking. 

Erythroxylum ayrtonianum é chamada popularmente de fruto-de-pomba em Imperatriz (MA). Esse arbusto é ainda pouco conhecido, porém é de uma família cujos compostos químicos costumam apresentar propriedades medicinais. Ela foi escolhida junto com a Rinorea villosiflora e mais 10 espécies como alvo de proteção por sofrerem sério risco de extinção. Os maiores impactos no território são causados pelo plantio de eucalipto, queimadas, garimpo ilegal e caça.

Essa é a segunda expedição com o objetivo de identificar as espécies e coletar amostras, passando pelas cidades de Açailândia, Imperatriz (MA) e Tocantinópolis (TO). A primeira iniciativa ocorreu em setembro do ano passado, quando foram coletados 337 espécimes vegetais. Os cientistas encontraram uma das espécies-alvo, a Erythroxylum ayrtonianum, no Parque Municipal Horto Arara Azul, em Imperatriz, e a Virola surinamensis (Rol. ex Rottb.) Warb, uma espécie diretamente beneficiada pela conservação, na Reserva Extrativista Ciriaco, também no Maranhão.

Na expedição anterior e agora, infelizmente a Rinorea villosiflora não foi localizada. Esse pode ser um sinal que, devido aos impactos ambientais, a espécie tenha desaparecido da região. O último e único registro dela é da década de 1980 em Açailândia (MA).

Por outro lado, na última viagem, novamente encontraram a Erythroxylum ayrtonianum. Com mais pesquisas, pode ser que, no futuro, haja a descoberta de aplicações dessa planta na área da saúde. Por ora, é um ser vivo que deve ser preservado para as próximas gerações.

A nova população dessa espécie foi localizada no município de Tocantinópolis (TO). Para o pesquisador e professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA, Lab. TaxA), Lucas Cardoso Marinho, o sucesso da coleta nesses locais se explica porque são áreas mais preservadas.

“A área era formada por estradas de chão batido, só o fato de não ter asfalto já tira esse impacto terrível. A preservação de áreas originais é imprescindível para a conservação tanto para a flora quanto para a fauna”, argumenta.

Como resultado desta expedição, 180 espécimes foram coletados. Esse material é tratado e enviado para herbários em todo o Brasil, ampliando o acesso dos cientistas e permitindo eventualmente a descoberta de espécies ainda não conhecidas pela ciência, e que podem já estar ameaçadas de extinção. A UFMA é a primeira a receber as amostras, sendo que as duplicatas são encaminhadas para a coleção do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. As demais duplicatas são distribuídas para outras instituições no país.

“Eu coleto os ramos, do tamanho de uma folha A3, com flores ou frutos, que chamamos de material fértil. Se não tiver isso, é quase impossível fazer a identificação. Esse material é, então, herborizado, passando por uma desidratação. E a gente o deposita em uma coleção. O herbário é uma biblioteca de plantas, tendo o registro histórico daquelas espécies. Ali são anotados o lugar, as coordenadas, a data de coleta, quem estava presente. O registro que a gente fez agora fica para eternidade. É como se a gente fosse o recenseador da biodiversidade brasileira”, descreve Marinho.

O professor destacou a relevância do apoio do PAT Meio Norte na execução de pesquisas no território. O financiamento da expedição tem como objetivo beneficiar as espécies alvo, em contrapartida acaba por apoiar estudos que já estão em desenvolvimento e a formação de novos pesquisadores. Além do professor Alessandro Ferreira (UFMA), uma estudante de graduação da Biologia, Ellen Castro (UFMA), uma aluna de mestrado, Amanda Letícia Garcia (Programa de Pós-graduação em Biodiversidade e Conservação da UFMA), e a servidora do Instituto Natureza do Tocantins (NATURATINS), Ester Oeiras, acompanharam a viagem.

PAT Meio Norte protegendo a vida no território

O Plano de Ação Territorial para a Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção do Território Meio Norte (PAT Meio Norte) é coordenado pela Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Naturais do estado do Maranhão (SEMA-MA), o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do estado do Pará (IDEFLOR-Bio) e o Instituto Natureza do Tocantins (NATURATINS). Seus processos mobilizam órgãos públicos, pesquisadores e a sociedade civil. O objetivo do Plano de Ação é conservar 12 espécies ameaçadas de extinção e outras 60 beneficiadas pelas atividades de proteção. O calendário da iniciativa prevê expedições, geração de conhecimento, capacitações, conservação das espécies e fortalecimento da legislação.

As ações se desenrolam na esfera do Projeto Pró-Espécies. Os Planos de Ação Territoriais, os PATs, são coordenados pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e contam com o financiamento do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (em inglês, Global Environment Facility Trust Fund – GEF). A implementação é do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) e a execução do WWF-Brasil.

Foto: Lucas Marinho