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“Erguendo Memórias: O Monumento à Diáspora Africana no Maranhão “

O Maranhão, segundo o IBGE 2022 possui quase 80 % da sua população constituída de pessoas negras. Desse modo, para visibilizar a contribuíção do povo negro para a cultura e identidade do Maranhão, a cidade de São Luís no dia 30 de novembro, mês da Consciência Negra, ganhará um significativo monumento que será inaugurado na Praça das Mercês.

Com patrocínio do Instituto Cultural Vale, via Lei Federal de Incentivo à Cultura, e realização da Prefeitura de São Luís, por meio da Fundação Municipal do Patrimônio Histórico (Fumph), com o apoio da Coordenadoria Municipal da Igualdade Racial (COMPIR) e Secretaria Municipal de Cultura(SECULT), a Fumph montou uma comissão composta de pesquisadores negros das aréas da antropologia e historia, bem como ativistas dos movimentos sociais negro para discutir o tema da diáspora dos povos africanos no Maranhão visando a elaboração do monumento.

A pesquisa realizada pela Fumph e chancelada pela comissão forneceu os elementos para compor a base do monumento, um lápide em granito negro com 45 metros de comprimento, na qual constará as informações sobre as datas, os nomes dos portos de embarque, os nomes dos navios e a quantidade de africanos de diversas nações desembarcados mo Maranhão entre os anos de 1693 a 1841.

 Além da lápide, o monumento contará com oito painéis artísticos nas dimensões de 6m x 4,80m cada, produzidos por artistas maranhenses negros, que tem se destacado nacionalmente e internacionalmente no campo das artes visuais: artístas como a Gê Viana, Tassila Custodes – conhecida como Emi Ajé Dudu, Eduardo Inke, Dinho Araújo, Telma Lopes, Origes, Marcos Ferreira e Jesus Santos.

Cada artista está trabalhando a partir de um tema, tendo como diretriz a dinâmica do trabalho da comissão e, os trabalhos se relacionam diretamente com o protagonismo do povo negro, suas contribuiçoes formadas a partir do seu processo de (re) adaptação nos territórios onde vivem e/ou atuam. A diversidade de técnicas utilizadas e o potencial de comunicabilidade da arte produzida são marcas desse espaço que está prestes a ser entregue à população ludovicense.

Os temas abordados nos painéis, trabalhados pela equipe da Fumph e comissão, são: Baobá: origens diaspóricas; Matrizes africanas: religiosidades; Territorialidade: pertencimento ao lugar; Culinária: afeto e empoderamento; Tecnologias africanas: base e inspiração; Arte e cultura: expressões, memórias e heranças; Intelectualidades Negras e (Re)Existências: historicidade e militância.

“Quando falamos de territorialidades, sobretudo a negra maranhense não podemos deixar de ressaltar espaços como os dos quilombos, que estão localizados no litoral ocidental e baixada maranhense, e que possuem um quantitativo expressivo de população negra. E em São Luís é importante ressaltar os territórios negros que estão situados no quilombo Liberdade, constituído pelos bairros da Camboa, Liberdade, Fé em Deus, Diamante e Sítio do Meio, bem como os bairros do Coroadinho e a área Itaqui Bacanga, dentre tantos outros que reforçam esse percentual de negros na capital maranhense.

Por ser uma população expressivamente negra precisamos ressaltar o quão valorosa foi e ainda é toda a transferência de saberes que esse povo proporcionou aos locais onde foram obrigados a habitar em função da escravidão”, ressaltou Kátia Bogéa, presidente da Fundação Municipal do Patrimônio Histórico (Fumph).

Além da entrega do monumento na Praça das Mercês, está programada uma Conferência Magna às 14hs do dia 30 de novembro no auditório do Convento das Mercês com a professora, jornalista, doutora em Ciências da Comunicação Rosane Borges que é mulher negra, maranhense, mas está radicada em São Paulo. Na programação haverá também o lançamento de uma cartilha educativa, com ações de educação patrimonial, o que inclui visitas guiadas para alunos da rede pública de ensino ao monumento da Diáspora Africana no Maranhão.

Influências

No estado do Maranhão, várias personalidades negras se destacaram na literatura e medicina, a exemplo de Astolfo Marques, José do Nascimento Moraes, Maria Aragão, Luiz Alves Ferreira, Hemetério José dos Santos e Maria Firmina dos Reis.

Hoje, Maria Firmina dos Reis é celebrada como uma figura significativa da literatura brasileira e como pioneira na abordagem de questões sociais por meio de sua escrita. Sua obra tem sido cada vez mais estudada e elogiada por seu retrato perspicaz das experiências dos afro-brasileiros e por sua contribuição para a literatura feminista.

No campo da arquitetura e engenharia, muitos negros foram responsáveis pelo traçado e execução de obras, a exemplo de casarões, engenhos, moinhos e templos religiosos, como a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e a Igreja do Desterro, assim como a Casa das Minas e outros tantos terreiros, com precisão, rigor e espiritualidade ancestral.

Seus conhecimentos tecnológicos dominavam estruturas em alvenaria de pau a pique, de adobe (espécie de tijolo de barro cru), taipa de pilão; carpintaria e marcenaria; domínio do ferro em obras de serralheria, ferragens e utensílios diversos. A carpintaria naval africana exerceu forte influência na técnica de construção de embarcações tradicionais em solo maranhense, a exemplo das canoas costeiras (ou cúter), bianas e igaratés.

As religiões de matriz africana encontram nos terreiros os espaços para práticas religiosas como Tambor de Mina, Cura, Pajelança, Terecô, Umbanda, Candomblé, Quimbanda, dentre outros. Além disso, muitas vezes ocorre uma mescla de práticas religiosas e trocas simbólicas com outras religiões, como o Catolicismo observado por exemplo, nas Festas do Divino Espírito Santo.

A cultura maranhense é marcada por uma junção de influências de povos ameríndios, africanos e europeus, resultando em uma rica diversidade cultural cujas matrizes citadas são difíceis de serem separadas uma das outras dada a perfeita harmonia entre elas, ao longo do tempo. “O Maranhão exibe diversas expressões culturais que são parte fundamental da identidade local que trazem reelaborações das heranças deixadas por negros escravizados. No campo das artes e cultura estão a música e a dança. Como exemplos, as manifestações que foram declaradas patrimônio brasileiro, como o Tambor de Crioula, e patrimônio da humanidade a exemplo do Bumba meu boi e da Capoeira”, detalhou Luíz Prado, curador do Monumento à Diáspora Africana no Maranhão.