Entenda por que a guerra entre Rússia e Ucrânia pode pesar no seu bolso
Mais de nove mil quilômetros separam a capital do Maranhão e a cidade de Kiev, capital da Ucrânia. Engana-se, porém, quem pensa que o conflito iniciado há quase vinte dias naquela região do mundo não tem consequências para quem vive por aqui. Quando se trata de política internacional e de economia, as distâncias tendem a ser muito menores. “Os setores mais afetados tendem a ser os mais integrados à economia mundial, como energia e alimentos”, explica o PhD em Cooperação Internacional e professor do Centro Universitário Estácio em São Luís, Diogo Almeida Viana dos Santos.
Os combustíveis já estão sentindo o clima de alta. O preço do barril de petróleo disparou nos últimos dias e atingiu o maior patamar de preço desde 2014. Vale lembrar que esse é o indicador utilizado pela Petrobras para reajustar o preço dos combustíveis no país. Na última semana, a Petrobras anunciou reajuste de 18,8% no preço da gasolina.
A guerra entre Rússia e Ucrânia foi a justificativa utilizada pela Petrobras. “Após serem observados preços em patamares consistentemente elevados, tornou-se necessário que a Petrobras promova ajustes nos seus preços de venda às distribuidoras para que o mercado brasileiro continue sendo suprido, sem riscos de desabastecimento”, informou a estatal, em comunicado.
ALIMENTOS
Segundo o professor, isso acontece porque a economia mundial é globalizada, o que estabelece diversos níveis de integração e interdependência entre os países. “Qualquer coisa que acontece em outro ponto do planeta que também esteja globalizado pode nos afetar, por causa dessas forças que são as linhas de produção, energia, linhas de transporte e as commodities”, explicou.
Assim como o combustível, trigo e milho são commodities, isto é, matérias-primas produzidas em larga escala para o mercado internacional. Os três são produtos que vem sentindo o impacto do conflito. Desde o início da guerra, segundo a empresa Agroconsult, o preço do trigo no mundo já aumentou mais de 20% e deve subir ainda mais. Como o Brasil compra uma parte desses cereais tanto da Rússia, quanto da Ucrânia, não está descartada a possibilidade de o pãozinho ou o bolo do café da manhã ficar mais caro.
Já o milho é usado para a alimentação de animais de abate, o que significa que, com o prolongamento do conflito, o cardápio do almoço vai pesar ainda mais no bolso. Mesmo se você for vegetariano, ainda vai ser afetado: é que os fertilizantes agrícolas têm um peso importante no comércio entre Rússia e Brasil. Com a guerra, a venda para os países ocidentais tende a ficar mais difícil e mais cara.
“O mercado de commodities agrícolas é extremamente sensível a qualquer variação ou instabilidade internacional. O Brasil é um grande produtor agrícola, mas precisa importar trigo. Com essa dependência das importações, a perspectiva é que aumente o preço não só do pão, mas dos alimentos processados de um modo geral”, analisou.