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Dia dos mortos traz novos dilemas emocionais devido à pandemia da Covid-19

O 2 de novembro, historicamente, rememora as lembranças daqueles que partiram para outro plano. Entes queridos que seguirão para sempre na memória e que deixam como legado boas histórias e muita saudade. Vida e morte limitando de forma extrema as existências humanas. Entretanto, nos últimos dois anos, o dia dos mortos passou a ter um peso ainda maior dado ao cenário pandêmico, onde a letalidade viral vitimou mais de 600 mil brasileiros somente em 2020 e 2021.

O sentimento de terminalidade se faz presente em mais lares do que o convencional, famílias que ainda choram pela ausência de pais, filhos, parentes, vizinhos, colegas de trabalho, amigos. No entanto, alguns fatores tornaram esses rompimentos ainda mais traumáticos, como por exemplo o distanciamento devido ao isolamento social, as proibições para acompanhar os rituais funerários, potencializando a dor por não poder se despedir, e ainda ter de enfrentar os temores por contágios e novas perdas. Tudo isso acaba por dificultar a absorção e o entendimento do luto.

Para Érica Selini, psicanalista e professora da Estácio, o Dia de Finados em 2021 – um dos anos mais letais da História quando falamos em uma doença específica – será mais representativo e atípico. “A psicologia explica que viver esse sentimento é importante para encontrar forças e se adaptar a uma nova realidade. Fugir do luto nem sempre é uma opção saudável, embora saibamos que a saudade machuca, causa incômodo. Acredito que este 2 de novembro será sim ímpar, porque parentes foram sepultados e sem despedida. A ideia do funeral, qualquer que seja a crença, desperta e unifica sentimentos quando falamos no sentido da despedida”, explica Erica.

A psicóloga também fala sobre as dificuldades de compreensão de quem ficou e direciona o melhor caminho. “Perdemos esse cotidiano, a construção e essa interrupção da convivência causa uma angústia significativa. Nem todos encaram essa perda de uma forma saudável, essa fase de transição entre a ausência do ente que partiu e encontrar um novo sentido causa transtornos, gera ressentimentos. É preciso entender o contexto e saber lidar com as situações, é necessário compreender o cenário”, completa.

Lições de empatia 

O ato de experienciar ou não na prática a morte de familiares também não impede que outras pessoas possam compartilhar do mesmo sentimento, por empatia, ou mesmo por ter vivenciado diariamente o sofrimento. Profissionais de saúde conviveram por muitos meses com a partida em massa de pacientes vitimados pela Covid-19, perdas que ainda perduram nas mentes de quem esteve na luta para salvar vidas.

Cleoneide Oliveira, professora da Estácio, profissional de Fisioterapia que atuou diretamente na linha de frente no combate ao novo coronavírus, detalha que viu muitas vidas se esvaindo quando o enfrentamento ainda estava no auge. “Trabalho em duas UTIs e é uma tarefa difícil relembrar tudo o que passei, é doloroso. O Dia de Finados, de fato, se tornou muito mais sensível a partir de agora, por lembrar das tantas pessoas que adoeceram e morreram, do sofrimento familiar, de sentir a dor alheia. Perdemos amigos, colegas de profissão que lutavam ao nosso lado”, explica.