Dia da Reciclagem: para 49% dos brasileiros, lixo eletrônico é o que mais gera dúvidas quanto ao descarte
17 de maio marca o Dia Mundial da Reciclagem. A data se torna ainda mais relevante diante da crescente geração de lixo, especialmente com o avanço tecnológico e fatores como a obsolescência programada, que vem tornando o acúmulo de resíduos eletrônicos um novo desafio que apresenta reflexos nos âmbitos ambiental e social.
Ainda que os eletrônicos sejam uma constante no dia a dia de grande parte da população, existem muitas dúvidas quando o assunto é o descarte e a reciclagem desses aparelhos. Atualmente, o lixo eletrônico é o que gera mais dúvida entre os brasileiros, com 49% indicando ter incertezas no momento de realizar a destinação adequada de itens como celulares, computadores e baterias. Os dados são do novo levantamento da Descarbonize Soluções, energytech especializada em soluções de energia limpa.
O cenário passa a fazer ainda mais sentido quando 43% dos entrevistados do estudo afirmaram que mantêm os celulares antigos em casa, principalmente por não saberem onde descartar os equipamentos ou porque os pontos de coleta são muito distantes.
Embora manter dispositivos em desuso possa parecer uma precaução inofensiva — com celulares muitas vezes sendo utilizados como substitutos em possíveis situações de roubo ou em caso de o atual estragar —, a prática também impacta o meio ambiente negativamente. Isso porque, direcionar os itens para reciclagem garante o reaproveitamento dos materiais.
Antônio Lombardi Neto, Diretor de Tecnologia da Descarbonize Soluções, reflete sobre o desconhecimento em relação ao reaproveitamento de tecnológicos e explica a importância do direcionamento correto. “Nem todos sabem, mas existe uma diferença essencial entre o descarte e a reciclagem. O descarte nem sempre é feito de forma correta, enquanto a reciclagem garante que as matérias-primas serão reaproveitadas”, comenta.
“Esse ponto é especialmente importante quando falamos de eletrônicos, pois, além dos metais pesados terem um impacto gigantesco na natureza, o não aproveitamento desses insumos faz com que seja necessária uma nova extração de recursos naturais para a fabricação de novos equipamentos. Por isso é tão importante direcionar antigos aparelhos para o reaproveitamento”, explica.
O apelo das tendências
Produtos eletrônicos são todos aqueles que precisam ser ligados à tomada ou que utilizam uma pilha ou bateria para funcionar. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), atualmente o Brasil é o quinto país que mais gera lixo eletrônico no mundo, produzindo por ano mais de 2,4 milhões de toneladas desses resíduos. Entre as Américas, o país ocupa a segunda posição, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.
A crescente produção dos chamados e-lixos é impulsionada pela falta de informação e de estrutura adequada para a gestão destes resíduos e pelo consumo desenfreado de produtos tecnológicos que acompanham a estratégia da obsolescência programada — que visa reduzir a vida útil dos produtos, incentivando a compra de novos modelos mais atuais.
Essa lógica é fortalecida por estratégias de mercado que estimulam o desejo constante por modelos mais novos – especialmente no caso dos celulares. Com poucas mudanças significativas entre os lançamentos anuais, seguir as tendências acaba sendo o principal fator que motiva as compras.
O fato está alinhado com o comportamento dos respondentes da pesquisa, sendo que 30% dos entrevistados — maioria do estudo — afirmaram que gostam de estar por dentro do lançamento de produtos eletrônicos e que trocam os aparelhos com frequência. Outros 25% também disseram acompanhar as novidades, mas apenas com celulares.
O dado ganha ainda mais relevância diante do fato de que 89% dos consumidores não consideram a geração de lixo eletrônico no momento da troca do aparelho, sendo o fator menos relevante na decisão. Durabilidade e qualidade (75%), os preços e promoções (55%) e a marca (53%) foram indicados como as condições mais importantes.
O avanço da tecnologia tem ocorrido em paralelo a uma corrida pelo consumo, muitas vezes sem responsabilidade. O fato de a geração de lixo eletrônico ser praticamente desconsiderada alerta para a urgência da situação, que é global. Atualmente, segundo o relatório ‘Monitor Global E-lixo’, a produção mundial de resíduos eletrônicos está crescendo cinco vezes mais rápido que a reciclagem destes materiais. Os números são preocupantes e demonstram a importância da discussão sobre o tema, com maiores iniciativas por parte de marcas, poderes públicos e consumidores.
Maiores dificuldades
Quando o tema entra na responsabilidade das partes em se comprometer com a reciclagem dos eletrônicos, fica evidente que faltam algumas iniciativas que estimulem e facilitem o reaproveitamento dos aparelhos — especialmente projetos que partam de ações públicas e privadas. Hoje, apenas 3% do e-lixo é reciclado no Brasil, e parte desse problema se dá pela desinformação e pela falta de pontos de coleta qualificados.
Quando perguntados sobre as principais dificuldades ao descartar lixo eletrônico, 73% dos participantes da pesquisa indicaram a falta de pontos de coleta especializados como o maior obstáculo. Na sequência, aparecem a falta de informações sobre o descarte e recolhimento (49%) e a dificuldade de transportar o item até os pontos de coleta (23%).
Entre os tipos de eletrônicos, as pilhas e baterias lideram o ranking de itens que mais geram dúvidas na hora do encaminhamento adequado (54%), seguidas por eletrodomésticos como TVs, computadores e notebooks (44%) e por celulares (43%).
Diante desse cenário, mesmo que a infraestrutura ainda seja insuficiente, os consumidores podem buscar alternativas disponíveis em suas cidades. Segundo a legislação brasileira, dentro do sistema de logística reversa, fabricantes de eletrônicos são obrigados a recolher esse tipo de resíduo. Em complemento, um projeto de lei lançado em fevereiro deste ano propõe ampliar os pontos de coleta, exigindo que varejistas disponibilizem locais acessíveis em lojas físicas, centros de distribuição e outros espaços.
“Nesse contexto, ampliar o conhecimento da população sobre o ciclo de vida dos eletrônicos e seus impactos torna-se essencial. A responsabilidade pela mudança é compartilhada — passa por governos, fabricantes e também por escolhas cotidianas da população”, afirma Neto.
“Vale também buscar associações, cooperativas ou recicladores locais que recebam esse tipo de material e o encaminhem para o destino correto. Em um cenário em que a produção de lixo eletrônico só cresce, o engajamento de consumidores, empresas e governos é fundamental para transformar o descarte correto em prática cotidiana — e não em exceção. Reciclar eletrônicos é mais do que uma atitude ambiental: é um compromisso com o futuro”, finaliza.
Metodologia
Público: foram entrevistados 500 brasileiros de todos os estados do país, incluindo mulheres e homens, com idade a partir dos 16 anos e de todas as classes sociais.
Coleta: os dados do estudo foram levantados via plataforma de pesquisas online.
Data de coleta: 05 de maio de 2025.