Arquivo Público do Estado do Maranhão abre exposição “200 anos de Gonçalves Dias”
No dia 10 de agosto celebra-se os 200 anos de nascimento do poeta maranhense Gonçalves Dias. Para comemorar o bicentenário deste que é considerado um dos maiores literatos brasileiros, o Governo do Maranhão tem realizado uma vasta programação e abre na quinta-feira (10) a exposição “200 anos de Gonçalves Dias” que será realizada no Arquivo Público do Estado do Maranhão (APEM) onde os visitantes terão acesso a diversos documentos históricos sobre o escritor.
A exposição acontece de 10 a 31 de agosto, no Arquivo Público do Estado do Maranhão (APEM), localizado na Rua de Nazaré, nº 218, Centro Histórico de São Luís. A mostra apresentará diversos documentos que tratam sobre Gonçalves Dias: correspondências de diversas autoridades do Governo do Estado como o chefe de Polícia do Maranhão, documentos que tratam sobre o naufrágio no qual morreu o poeta e as buscas pelos restos mortais, o resgate dos pertences, o trabalho referente aos arquivos das províncias, as diversas homenagens feitas em decorrência de sua morte entre diversos outros.
Ao todo, foram selecionados cerca de 20 livros e documentos que datam a partir de 1864, ano do naufrágio em que morreu Gonçalves Dias. “Estamos aproveitando a oportunidade da celebração do bicentenário de Gonçalves Dias, que é um dos maiores poetas não apenas do Maranhão, mas do Brasil, para disponibilizar para o público em geral o rico acervo que o Arquivo Público dispõe. Então, é uma grande oportunidade para as pessoas conhecerem um pouco mais de perto a história do nosso estado e curiosidades sobre Gonçalves Dias que são pouco divulgadas”, informou Vilma Castro, diretora do Arquivo Público.
Documentos em exposição
O local do naufrágio é citado no Livro nº 2010, do acervo do APEM, que reúne documentos dos anos de 1863 a 1865, no qual consta ofício datado de 4 de novembro de 1864 enviado pelo delegado de Polícia da Capital ao subdelegado de Polícia da Vila de Guimarães, informando “ter tomado conhecimento sobre o naufrágio do navio francês Ville de Boulogne, que vitimou o distinto maranhense Antonio Gongalves Dias… (sic)”. O ofício determina ainda “que sejam empregados todos os esforços a fim de encontrar e identificar o seu cadáver e pertences… (sic)”.
Apesar dos esforços feitos pelas autoridades locais, o corpo do poeta Gonçalves Dias nunca foi localizado. “Este é um dos vários detalhes que quem vier à exposição vai poder conhecer melhor. Os restos mortais de Gonçalves Dias nunca foram localizados. Foram encontrados apenas os pertences dele, que estavam em duas malas. Outra curiosidade é a localização do naufrágio. Muitas pessoas falam que ele teria ocorrido na região de Atins, mas, na verdade, o navio naufragou na região de Guimarães”, destacou Rogério Rodrigues, historiador do APEM.
Ainda no Livro nº 2010 um ofício do Chefe de Polícia da Província do Maranhão ao delegado de Polícia da Cidade de Alcântara, datado de 8 de novembro de 1864, comunica “que grande parte do carregamento do navio francês Ville Boulogne foi parar às costas desta Comarca, devendo ser tomadas todas as providências para que sejam arrecadados os itens salvos do navio que deverão ser encaminhados para o inspetor da Alfândega, bem como o cadáver e os objetos do distinto maranhense doutor Gonçalves Dias… (sic)”.
Durante as buscas foram localizadas duas malas pertencentes a Gonçalves Dias. Em uma delas, de couro, estavam peças de roupas como pares de meias, ceroulas, lenços brancos, sobrecasacos, coletes entre outras. Na segunda mala, coberta de lona, estavam livros como um dicionário da língua portuguesa, um livro sobre a história da literatura brasileira, obras do Duque de Sam Simon entre diversas outras publicações. Os itens foram resgatados pela Delegacia de Polícia da Cidade de Alcântara e enviados à capital em novembro de 1864.
Outro ofício enviado desta vez pelo delegado de Polícia da Cidade de Alcântara ao Chefe de Polícia da Província do Maranhão, em 4 de dezembro de 1864, trata “da entrega da dentadura cravada em ouro, pertencente ao finado Dr. Gonçalves Dias… (sic)”. A dentadura foi o último pertence do poeta resgatada do naufrágio.
Homenagens
Após a morte de Gonçalves Dias, várias homenagens foram prestadas ao poeta. Uma das mais conhecidas até a atualidade é a Praça Gonçalves Dias, localizada no Centro de São Luís, onde foi erguida uma estátua em homenagem ao escritor maranhense. Para o local, onde já existia a Igreja Nossa Senhora dos Remédios, foi feito um novo projeto arquitetônico. A planta baixa do projeto também poderá ser vista durante a exposição.
A planta baixa das obras municipais feitas na praça data de 1872 e inclui o local onde deveria ser erigida a estátua entre diversas outras modificações. Por causa da homenagem a praça que antes era conhecida como Largo dos Remédios, em razão da igreja, também passou a ser chamada de Largo dos Amores visto que a praça se tornou um ponto de encontros de casais enamorados.
Bicentenário de Gonçalves Dias
O Governo do Maranhão está realizando uma programação especial em alusão ao bicentenário de Gonçalves Dias, que nasceu na cidade maranhense de Caxias, em 10 de agosto de 1823, falecendo aos 41 anos em 3 de novembro de 1864.
Gonçalves Dias é considerado por muitos críticos literários como o maior poeta romântico brasileiro e fundador da poesia nacional. Sua obra mais conhecida é o poema nacionalista Canção do Exílio, datado de 1843 e feito quando ele estava em Coimbra, Portugal. O poema ressalta o patriotismo e o seu saudosismo em relação à sua terra natal.
Entre outras obras de grande destaque estão o poema indianista I-Juca-Pirama, publicado em 1851, e o poema épico Os Timbiras, publicado em 1857. Além dos diversos poemas indianistas e nacionalistas, Gonçalves Dias também escreveu diversas cartas com poemas dedicados a Ana Amélia Ferreira do Vale, que entrou para a história como o grande amor do poeta, apesar dos dois nunca terem, de fato, vivido um romance.
Gonçalves Dias também foi autor de quatro peças teatrais e um ávido pesquisador das línguas indígenas e do folclore brasileiro. O poeta é o patrono da cadeira nº 15 da Academia Brasileira de Letras (ABL), por escolha do fundador da cátedra, Olavo Bilac.
Arquivo Público do Estado do Maranhão
Vinculado à Secretaria de Estado da Cultura (Secma), o APEM foi criado pelo decreto nº 5.226, de 21 de janeiro de 1974, com a finalidade de recolher, organizar, preservar e divulgar os documentos de valor histórico ou permanente, provenientes dos órgãos integrantes da administração direta e indireta do estado do Maranhão.
Trata-se do maior acervo documental do estado, composto por aproximadamente 3km de documentos textuais dos períodos colonial, imperial e republicano, além de mapas, plantas, discos e microfilmes.
O local tem também uma biblioteca de apoio e dois laboratórios: um de conservação e restauração de papéis e outro de digitalização de documentos. Dentre os documentos há ofícios, portarias, editais, cartas de alforria, mapas, mapas de população, passaportes, registros de nascimentos, óbitos, batismo, ordenações de sacerdotes entre diversos outros.
O acervo do arquivo público pode ser pesquisado por qualquer pessoa de segunda-feira a sexta-feira, das 8h às 17h. Para pesquisas individuais basta apenas se dirigir ao local nos dias e horários de funcionamento. Já para acesso aos documentos por grupos de pessoas é preciso agendamento prévio.