Profissionais da saúde relatam exaustão e pedem apoio da população
Um ano na luta contra o coronavírus. Esse é o tempo em que a médica Juliana Barros, 26 anos, está atuando na linha de frente. Seu primeiro emprego veio quando a pandemia começou a assustar os maranhenses. Ela foi uma das profissionais contratadas para atuar no Hospital Genésio Rêgo, em São Luís, inaugurado pelo Governo do Maranhão no dia 4 de abril de 2020, voltado exclusivamente para pacientes com covid-19¹. O primeiro caso no estado tinha sido confirmado dias antes, em 20 de março.
Depois de 12 meses intensos os profissionais de saúde estão esgotados, mas o novo coronavírus não dá trégua. Segundo boletim divulgado no dia 8 de abril pela Secretaria Estadual de Saúde (SES), são 247.107 casos confirmados no Maranhão, sendo 223.941 recuperados, 16.750 pessoas atualmente infectadas pela doença, além de 6.416 óbitos.
Apesar de o Maranhão ter a menor taxa de mortalidade pelo coronavírus em todo o Brasil, a segunda onda no país ataca cada vez mais jovens.
“Está sendo cada vez mais difícil, em 2021 nós percebemos um perfil diferente dos pacientes, com o aumento de casos graves em jovens, pessoas sem comorbidade. Desde o começo está complicado, temos que tomar decisões difíceis durante as internações e os profissionais da saúde sofrem junto com os pacientes”, declara Juliana.
A psicóloga Alexsandra Sáfadi atende pacientes isolados no leito, familiares que não podem visitar seus entes queridos ou os que perderam alguém, além de receber colegas de trabalho em seu consultório, os que também estão na linha de frente.
Segundo Alexsandra, em paralelo a segunda onda, profissionais da saúde enfrentam um esgotamento físico, mental e emocional. “Está sendo um ano atípico, diferente. Nós observamos que essa situação acaba causando medo de forma geral, já que a pandemia está fora do controle das pessoas, é uma situação que potencializa o estado emocional de todos”, afirma.
“Não é um cansaço físico, é um cansaço mental. Os profissionais da saúde chegam ao hospital e não sabem mais o que lhe esperam, é uma situação que foge do nosso controle. E temos que ter que lidar com problemas pessoais e profissionais. Temos que saber separar essas duas coisas? A resposta é sim. Mas, chega um momento que não tem como, por estar presenciando mortes quase todos os dias.”
A psicóloga reforça que a única maneira da população ajudar os profissionais da saúde é seguir os protocolos sanitários. “As pessoas precisam se prevenir o máximo possível, é uma situação que não temos controle, o vírus generalizou, não tem mais idade ou comorbidade. É preciso usar máscara, ficar em casa, evitar aglomerações e lavar as mãos com frequência”, diz.
Não é uma gripezinha
À beira do leito da UTI voltada exclusivamente para Covid, a psicóloga Keilla Serra confirma que está atendendo cada vez menos pessoas com os cabelos grisalhos. Contudo, os hospitais continuam cheios.
“Se eu pudesse mandar uma mensagem para as pessoas, diria o seguinte: não minimizem os impactos do vírus, ele é sério, não é brincadeira. Não é porque você não perdeu nenhum membro da sua família que você pode menosprezar a situação. Eu escuto pessoas falando que isso aí é uma bobagem, que é uma gripezinha. Não, isso não é uma gripe comum, é um vírus com potencial extremamente agressivo. As pessoas precisam ficar em casa, sair só quando for necessário, usar máscara, lavar as mãos e manter o distanciamento social”, declara a psicóloga.
Enfrentar uma segunda onda tão ou mais grave que a primeira também é um dos desafios da Dra. Juliana. “Fiquem em casa, permaneçam em suas casas, usem máscara sempre. O Covid-19 não é brincadeira. O isolamento é imprescindível neste momento, a situação nos hospitais está bastante complicada. Então, fique em casa”, completa a jovem médica, que afirma estar preparada para mais um ano de lutas pela frente.
Nota:
1. São 62 leitos, sendo 21 de UTIs. O foco inicial era atender a demanda de radioterapia e o hospital estava em obras quando a pandemia eclodiu no Brasil. Assim, o Governo do Maranhão mudou a finalidade do espaço e acelerou a construção, com mais de 200 profissionais trabalhando simultaneamente, divididos em três turnos, 24 horas por dia.