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Do excesso de trabalho ao tédio constante: entenda burnout, boredout e brownout

Exaustão por excesso de tarefas, tédio diante de rotinas sem desafio ou perda do sentido no que se faz. Essas três experiências diferentes dão nome a síndromes cada vez mais comuns no mundo do trabalho: burnout, boredout e brownout. Todas afetam a saúde mental, reduzem a produtividade e ajudam a explicar por que milhares de brasileiros têm sido afastados de suas funções por transtornos relacionados ao emprego.

Dados do Ministério da Previdência Social mostram a dimensão do problema. Em 2023, 27 trabalhadores foram afastados por dia, devido a transtornos mentais e comportamentais relacionados ao trabalho, além de 10 mil auxílios-doença concedidos no mesmo período. Para especialistas, como o pesquisador Bruno Chapadeiro Ribeiro, da Universidade Federal Fluminense (UFF), isso reflete uma verdadeira “epidemia” de adoecimento psíquico nos ambientes profissionais.

O que são burnout, boredout e brownout

A síndrome de burnout é a mais conhecida das três. Reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como doença ocupacional desde 2019, ela está ligada ao estresse crônico no trabalho. Entre os sintomas mais comuns, estão exaustão física e emocional, dificuldade de concentração, distanciamento dos colegas e perda de produtividade. Quem passa por um burnout sente-se constantemente pressionado e sem energia, em um ciclo que afeta tanto a vida profissional quanto pessoal.

Já o boredout é quase o oposto: trata-se do esgotamento causado pelo tédio extremo no ambiente de trabalho. Quando as tarefas são repetitivas, sem desafio ou estímulo intelectual, o funcionário pode sentir que sua capacidade é desperdiçada. Os sinais incluem falta de motivação, sonolência, absenteísmo e até sintomas depressivos. Nesse caso, o problema não é excesso de demandas, mas a ausência delas.

O brownout, por sua vez, ainda é pouco conhecido, mas cada vez mais estudado. Ele descreve o esgotamento ligado à perda de propósito e sentido no trabalho. A pessoa não necessariamente está sobrecarregada ou entediada, mas sente que suas atividades perderam valor. A consequência é a queda de engajamento, a dificuldade de se identificar com a organização e o surgimento de sintomas como cinismo, apatia e sensação de vazio.

Essas três síndromes compartilham impactos semelhantes: redução da qualidade de vida, queda de desempenho e riscos à saúde mental. Mas é importante compreender suas particularidades para buscar ajuda de forma adequada.

Diferenças entre elas e relação com a depressão

Embora sejam frequentemente confundidas, burnout, boredout e brownout têm origens distintas. O burnout nasce da sobrecarga e da sensação de estar sempre no limite; o boredout, do desinteresse crônico por tarefas pouco estimulantes; e o brownout, da falta de propósito.

A depressão, por outro lado, é uma condição psiquiátrica mais ampla, que não depende exclusivamente do contexto de trabalho. Entretanto, as síndromes ocupacionais podem funcionar como gatilhos ou fatores de risco para o desenvolvimento de quadros depressivos. Um trabalhador em burnout, por exemplo, pode evoluir para depressão, se não receber suporte adequado.

Reconhecer a diferença entre um quadro de esgotamento profissional e uma doença mental é importante. Enquanto as síndromes ocupacionais podem melhorar com mudanças na rotina e no ambiente de trabalho, a depressão exige acompanhamento clínico mais específico.

Como prevenir e tratar o esgotamento profissional

A prevenção das síndromes ligadas ao trabalho passa por mudanças individuais e institucionais. Empresas têm um papel central ao promover ambientes saudáveis, que valorizem equilíbrio, autonomia e reconhecimento. Mas também é importante que cada trabalhador esteja atento aos seus limites e sinais de alerta.

Algumas medidas que podem ajudar:

  • estabelecer pausas regulares e respeitar horários de descanso;
  • buscar tarefas que tragam desafio e aprendizado, evitando a monotonia;
  • conversar com gestores a respeito de sobrecarga ou desmotivação;
  • praticar atividades físicas e de lazer fora do trabalho;
  • manter conexões sociais e apoio entre colegas.

Quando os sintomas persistem, é recomendável procurar acompanhamento psicológico ou psiquiátrico. Nesse sentido, a terapia online é uma alternativa prática e acessível para quem busca apoio. O formato digital ampliou o acesso a profissionais especializados, o que permite que mais pessoas possam cuidar da saúde mental com mais flexibilidade.

O tratamento não deve ser visto como sinal de fraqueza, mas como um passo fundamental para recuperar bem-estar e qualidade de vida. Em casos mais graves, pode ser necessário o uso de medicação sob supervisão médica, sempre aliado a mudanças no estilo de vida e no ambiente profissional.

Um desafio coletivo

As síndromes de burnout, boredout e brownout refletem os dilemas do trabalho contemporâneo, marcado por pressão por produtividade, automação de tarefas e busca constante por propósito. Enfrentá-las exige ação conjunta de empresas, trabalhadores e sociedade, com políticas de saúde mental mais eficazes e menos estigmatizantes.

Com informação, apoio profissional e mudanças estruturais, é possível transformar ambientes de trabalho em espaços mais saudáveis e sustentáveis, nos quais a produtividade não esteja dissociada de bem-estar.