Erros comuns que atrasam o diagnóstico de alergias alimentares em bebês
O diagnóstico precoce de alergias alimentares em bebês é essencial para garantir o bem-estar, o desenvolvimento adequado e a qualidade de vida da criança e de toda a família. No entanto, mesmo com avanços na medicina e maior acesso à informação, muitos casos ainda demoram a ser corretamente identificados. Parte disso se deve à semelhança dos sintomas com condições comuns da infância, mas outro fator importante é a persistência de equívocos que podem atrasar a busca por ajuda médica.
Neste artigo, destacamos alguns erros frequentes cometidos durante a rotina de cuidados com os bebês e que, sem intenção, acabam dificultando o diagnóstico de quadros alérgicos, como a alergia à proteína do leite de vaca (APLV) e outras intolerâncias alimentares.
1. Confundir sintomas com comportamentos “normais” da fase
É comum que pais, especialmente de primeira viagem, associem sintomas como cólicas intensas, diarreias frequentes, assaduras persistentes ou refluxo constante ao que seria esperado nos primeiros meses de vida.
De fato, muitos desses sinais são comuns nessa fase, mas quando ocorrem de forma repetitiva, intensa ou associada a outros desconfortos, como perda de peso, irritabilidade excessiva ou recusa alimentar, merecem investigação cuidadosa.
O erro, nesse caso, não está em tentar acalmar o bebê ou aguardar uma adaptação natural, mas em prolongar essa espera por tempo demais sem considerar que pode haver uma causa subjacente, como uma alergia alimentar.
2. Atribuir os sintomas sempre à amamentação ou ao leite
Outro equívoco recorrente é focar exclusivamente na fonte de alimentação como vilã. Quando o bebê é amamentado, muitos cuidadores assumem que “não há como ele ter alergia, porque só mama”, ignorando que proteínas do leite de vaca podem ser transmitidas pelo leite materno, especialmente se a mãe consome laticínios.
Por outro lado, quando o bebê utiliza fórmulas infantis, qualquer sintoma adverso é imediatamente associado ao tipo da fórmula ou à marca utilizada, gerando trocas sucessivas sem orientação profissional. Isso pode atrasar o diagnóstico real e levar a um ciclo de tentativas frustradas que aumentam a ansiedade da família e o sofrimento do bebê.
3. Subestimar manifestações não digestivas
Embora os sintomas gastrointestinais sejam os mais lembrados quando se fala em alergias alimentares, há outras manifestações que também merecem atenção.
Alterações na pele, como dermatites, urticária ou coceiras constantes, são frequentemente tratadas apenas como ressecamento ou reações a produtos de higiene. Da mesma forma, sintomas respiratórios, como chiado no peito, tosse recorrente ou obstrução nasal persistente, podem ser confundidos com infecções comuns.
Essa fragmentação dos sintomas leva muitos pais a buscar diferentes especialistas para cada queixa (dermatologista, otorrino, pneumopediatra), sem considerar que pode haver uma origem imunológica comum.
4. Autodiagnóstico e restrições alimentares sem acompanhamento
Em busca de soluções rápidas, é comum que os cuidadores iniciem dietas restritivas por conta própria, retirando alimentos suspeitos da dieta do bebê ou da mãe que amamenta, sem supervisão. Embora bem-intencionadas, essas práticas podem mascarar sintomas, dificultar o diagnóstico e ainda gerar riscos nutricionais sérios, especialmente em lactentes.
É importante lembrar que apenas profissionais capacitados podem conduzir uma investigação completa, que envolve histórico clínico, exames e, quando necessário, testes de provocação oral controlados. Além disso, muitas vezes os sintomas melhoram parcialmente com a retirada do alimento, mas voltam a aparecer com outra intensidade, dificultando a percepção do quadro real.
5. Falta de acesso ou confiança em fontes confiáveis
Em tempos de excesso de informações, outro erro é buscar respostas apenas em redes sociais, fóruns ou grupos informais de apoio. Embora o relato de outras famílias possa ser reconfortante, nem sempre é tecnicamente adequado ou seguro. As alergias alimentares são condições médicas complexas, com manifestações variadas e graus diferentes de gravidade.
Para quem busca se aprofundar em sinais, sintomas e condutas de investigação, é essencial consultar fontes validadas. Um bom exemplo é este portal com dados e informações sobre a APLV em bebês, que reúne conteúdo atualizado, produzido com embasamento científico e revisão especializada.
6. Atraso na escuta ativa do pediatra
Nem todos os erros partem apenas da família. Em alguns casos, o atraso no diagnóstico está relacionado à demora em considerar a hipótese de alergia alimentar por parte de profissionais da saúde.
Quando os sintomas são sutis ou não se encaixam em um quadro clássico, pode haver resistência em avançar na investigação. Por isso, é fundamental que os pais relatem com detalhes tudo o que observam e se sintam acolhidos para tirar dúvidas sem receio.
Registrar sintomas, horários, alimentos ingeridos e reações ajuda a construir uma visão mais clara do que está acontecendo e fortalece o diálogo com a equipe médica.
Identificar alergias alimentares em bebês exige um olhar atento, escuta cuidadosa e orientação profissional. Evitar os erros mais comuns pode acelerar o diagnóstico e permitir que a criança receba os cuidados adequados desde cedo, evitando complicações e promovendo um desenvolvimento saudável. Estar bem-informado e recorrer a fontes seguras é o primeiro passo para cuidar com mais tranquilidade e segurança.
Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALERGIA E IMUNOLOGIA. Diagnóstico e manejo da alergia alimentar: revisão. Revista Brasileira de Alergia e Imunopatologia, São Paulo, v. 35, n. 6, 2012. Disponível em: http://aaai-asbai.org.br/imageBank/pdf/v35n6a03.pdf.
BRASIL. Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). Alergia alimentar: o desafio diário que exige atenção e apoio especializado. 2024. Disponível em: https://www.gov.br/ebserh/pt-br/comunicacao/noticias/alergia-alimentar-o-desafio-diario-que-exige-atencao-e-apoio-especializado.
ASBAI – Associação Brasileira de Alergia e Imunologia. Alergia alimentar: perguntas e respostas. São Paulo: ASBAI, 2017. Disponível em: https://asbai.org.br/alergia-alimentar-perguntas-e-respostas/.
