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Valorização de seminovos: mercado mantém alta histórica e supera 8 milhões de vendas em 2025

O mercado automotivo brasileiro vive um fenômeno que, até poucos anos atrás, parecia improvável: a valorização contínua dos veículos seminovos. Somente entre janeiro e julho de 2025, foram registradas mais de 8 milhões de transações envolvendo automóveis usados, consolidando o segmento como protagonista em meio a um cenário de crédito restrito e alta das taxas de juros. De acordo com dados do Banco Central do Brasil (BCB), a carteira de crédito voltada para aquisição de veículos ultrapassou R$ 450 bilhões em junho de 2025, com predominância de operações relacionadas ao mercado de usados, em contraste com a retração no financiamento de zero-quilômetro.

Juros elevados e mudança no comportamento de compra

A taxa Selic, que se mantém em patamares elevados desde 2022, continua sendo um dos principais fatores para explicar a força do mercado de seminovos. Em junho de 2025, a taxa básica estava em 10,5% ao ano, conforme o Banco Central. O impacto direto desse cenário é o encarecimento do crédito, que afeta de forma mais intensa a aquisição de veículos novos. Segundo o BCB, a taxa média de juros para financiamento de automóveis novos superou 27% ao ano, enquanto as operações para usados ficaram ligeiramente abaixo, mas ainda altas, em torno de 25% ao ano.

Esse quadro tem levado consumidores a buscar opções mais acessíveis, como carros com dois a cinco anos de uso, que oferecem preço mais competitivo e menor depreciação. O resultado é um movimento de deslocamento da demanda, antes concentrada nos zero-quilômetro, para o mercado secundário.

Seminovos como reserva de valor

Outro aspecto relevante, apontado em relatórios do Banco Central, é a transformação dos veículos em uma espécie de reserva de valor. Em períodos de inflação persistente e incerteza econômica, bens duráveis tendem a se valorizar acima do esperado. Dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), acompanhado pelo BCB, mostram que os preços de automóveis usados acumularam alta de mais de 30% entre 2020 e 2023, mantendo-se estáveis em 2024 e 2025, sem a queda acentuada que tradicionalmente ocorre nesse mercado.

Esse comportamento revela que, mesmo com juros altos, os seminovos seguem sendo vistos como ativos resilientes, capazes de preservar valor em comparação a outros bens de consumo duráveis.

O papel do crédito e do refinanciamento de veículo

Apesar das condições restritivas, o crédito ainda exerce papel central na sustentação do setor. Dados do Banco Central mostram que o volume de concessões para aquisição de veículos cresceu 6,2% no primeiro semestre de 2025 em relação ao mesmo período do ano anterior. Isso indica que, mesmo com juros altos, o apetite do consumidor não diminuiu, mas foi redirecionado para o segmento de seminovos.

Além disso, o refinanciamento de veículo vem ganhando relevância como alternativa para liberação de recursos em meio ao cenário econômico desafiador. Segundo estatísticas do BCB, operações de crédito com garantia de automóveis registraram aumento superior a 8% em 2025, o que demonstra a crescente importância desse instrumento para equilibrar finanças pessoais e fomentar novas transações no mercado automotivo.

Sustentabilidade e perspectiva de crescimento

O aumento na demanda por seminovos também se conecta com tendências de sustentabilidade e de economia circular. Relatórios do Banco Central destacam que a maior vida útil dos veículos, associada à melhoria tecnológica e ao controle de emissões, tem estimulado a permanência de carros usados em circulação por mais tempo. Esse fator contribui não apenas para a expansão do mercado, mas também para um novo perfil de consumidor, mais atento ao custo-benefício e ao impacto ambiental de suas escolhas.

Para os próximos meses, a expectativa é de que o movimento de valorização seja mantido. O Relatório de Inflação do BCB aponta que a inadimplência no crédito para veículos se estabilizou em 5,1% no segundo trimestre de 2025, após dois anos de crescimento contínuo. Esse indicativo reforça a confiança do setor financeiro em continuar disponibilizando crédito, mesmo diante das incertezas macroeconômicas.

Um novo ciclo para o setor automotivo

O cenário de 2025 consolida os seminovos como peça-chave do mercado automotivo brasileiro. A combinação de juros elevados, escassez relativa de veículos novos e mudança no perfil de consumo tem sustentado a valorização histórica desse segmento. Com mais de 8 milhões de unidades comercializadas no período, o setor não apenas garante liquidez ao mercado, mas também se mostra como alternativa segura para consumidores e investidores.

Seja como reserva de valor, meio de transporte ou ativo para operações financeiras, os veículos seminovos assumem um protagonismo inédito. E, de acordo com os indicadores do Banco Central, essa trajetória deve continuar, transformando o mercado de usados em uma engrenagem cada vez mais relevante para a economia brasileira.