ENARE 2025: fim da análise curricular marca nova era na seleção para residência médica
A partir da edição 2025/2026, o Exame Nacional de Residência (ENARE) deixará de contar com a tradicional análise curricular. A decisão da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, anunciada em 24 de abril, transforma o exame em uma única fase, composta exclusivamente por uma prova objetiva.
O novo formato valerá para todas as categorias de ingresso: acesso direto, ano adicional, área de atuação, pré-requisito e residência multiprofissional. A medida foi tomada após recomendação de um Grupo de Trabalho (GT), criado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), para revisar e propor melhorias no processo seletivo.
A dinâmica contou com representantes de diversas instituições, como Ministério da Educação, Ministério da Saúde, Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, escolas públicas e coordenadores de residência médica.
O principal motivo apontado para a mudança foram os recorrentes problemas técnicos na correção e divulgação da análise curricular, que geraram insegurança jurídica e insatisfação entre os candidatos.
Novo formato: prova objetiva é decisiva
Com as recentes alterações no ENARE, candidatos devem se adaptar a um processo seletivo mais objetivo, focado exclusivamente na prova escrita, sem a etapa de análise curricular. A nova estrutura prevê apenas uma fase, de caráter eliminatório e classificatório.
A pontuação final será determinada pelo desempenho na prova. Para os programas de acesso direto, a avaliação será realizada em conjunto com o Exame Nacional de Avaliação da Formação Médica (Enamed), aplicado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Já as seleções para vagas com pré-requisitos, áreas específicas e residência multiprofissional serão conduzidas por bancas especializadas, sendo a Fundação Getulio Vargas (FGV) a responsável pela organização em 2025/2026.
Impacto para os candidatos
Antes, os candidatos investiam tempo e recursos em atividades extracurriculares, como monitorias, ligas acadêmicas, estágios não obrigatórios e produções científicas, na expectativa de conquistar pontos adicionais na segunda fase. Agora, o foco se desloca integralmente para a prova escrita.
Essa decisão levanta preocupações entre estudantes de medicina que planejavam fortalecer o currículo como diferencial competitivo. Por outro lado, a uniformização do critério de avaliação tende a reduzir subjetividades e controvérsias em torno da correção de documentos, além de simplificar o cronograma do exame e reduzir a margem para recursos.
Repercussão entre especialistas e comunidade médica
Para alguns coordenadores de Comissões de Residência Médica (COREMEs), o novo modelo garante mais transparência e celeridade ao processo seletivo, eliminando uma etapa que, nas edições anteriores, gerou atrasos e recursos em massa. Há também o argumento de que a prova objetiva tende a nivelar a disputa entre candidatos de diferentes regiões e realidades institucionais.
Por outro lado, há críticas quanto à perda de um instrumento que valorizava o percurso acadêmico. “A análise curricular permitia reconhecer o esforço contínuo do estudante ao longo da graduação. Sem essa etapa, a seleção passa a depender exclusivamente de uma prova pontual, o que pode não refletir o perfil do futuro residente”, afirma um professor de clínica médica da UFRJ que preferiu não se identificar.
Adesão institucional e próximos passos
A participação no ENARE é gratuita para instituições públicas e privadas sem fins lucrativos. Já as privadas com fins lucrativos devem arcar com uma taxa de R$ 5 mil. O cronograma prevê a aplicação das provas em outubro, com a divulgação dos resultados em dezembro e o início dos programas em março de 2026.