O Maranhense|Noticias de São Luís e do Maranhão

"
SaúdeÚltimas Noticias

Por que, afinal, o ser humano tem tanta curiosidade sobre a vida de quem nunca conheceu?

De acordo com a psicóloga Tatiane Mosso, especialista em comportamento humano, essa curiosidade tem raízes profundas na nossa evolução social. “O interesse pela vida alheia faz parte da nossa natureza social. Desde os primórdios, observar os outros ajudava na sobrevivência, na criação de alianças e na compreensão das normas do grupo. Hoje, os reality shows são uma extensão disso, funcionando como uma janela para dinâmicas sociais que nos intrigam e, muitas vezes, refletem os dilemas da vida real”, explica a especialista.

Tatiane destaca que, ao assistir a um reality show, as pessoas frequentemente projetam suas próprias emoções e experiências nos participantes. “É comum nos identificarmos com o carismático, sentirmos empatia pelo injustiçado ou nos revoltarmos com o manipulador. Essas emoções criam um vínculo com a narrativa e nos fazem querer acompanhar cada detalhe.”

Além disso, os programas oferecem um senso de pertencimento, mesmo para quem está do lado de fora. “Comentar sobre um reality com amigos ou nas redes sociais cria um espaço de troca que reforça nossa conexão social. Gostamos de sentir que fazemos parte de uma ‘tribo’, discutindo alianças, torcendo e até julgando as decisões dos participantes.”

Outro fator que Tatiane aponta é a combinação entre o ordinário e o extraordinário. “Os reality shows mostram situações cotidianas – como convivência, amizades e conflitos – em diversos contextos  e esse contraste mantém o público cativado, porque une algo que conhecemos bem com o inesperado que nos tira da rotina”, analisa a psicóloga.

A curiosidade pela vida de outras pessoas também tem um aspecto psicológico. “Somos naturalmente curiosos sobre o outro porque isso nos ajuda a nos entender e quando observamos como alguém reage a uma situação, inconscientemente refletimos sobre como agiríamos. É quase como se estivéssemos nos testando por meio deles”, explica Tatiane.

Essa curiosidade também se estende às redes sociais, onde a vida das pessoas é exposta de forma controlada e idealizada. “Assim como nos reality shows, a internet alimenta nosso desejo de observar, comparar e, muitas vezes, imaginar como seria estar no lugar do outro”, completa a psicóloga.

Para muitos, acompanhar um reality show é também uma forma de fugir da rotina. “Em um mundo cheio de obrigações e desafios, esses programas oferecem um alívio ao proporcionar entretenimento leve, mas ao mesmo tempo cheio de drama. É uma maneira de se desconectar dos próprios problemas por algumas horas e mergulhar em uma narrativa diferente da nossa”, pontua.

Mas, embora o interesse por reality shows e a vida alheia seja natural, Tatiane alerta para os riscos de exageros. “Passar muito tempo obcecado por essas histórias pode levar a comparações negativas, afetar a autoestima ou criar uma visão distorcida sobre relações humanas. O importante é consumir esse tipo de conteúdo de forma equilibrada, lembrando que a realidade apresentada é, muitas vezes, editada e dramatizada para o entretenimento.”

Sobre Tatiane Mosso

@tatianemossopsicologa

Psicóloga com aprimoramento clínico em Fenomenologia-Existencial pela PUC-SP e especialização em psicologia clínica na perspectiva Fenomenológico-Existencial pelo Instituto de Psicologia Fenomenológico-Existencial do Rio de Janeiro – IFEN.