Maranhense que salvou vidas em Porto Alegre está entre homenageados do TJMA
Sete meses antes de receber das mãos da desembargadora Sônia Amaral a Medalha Antônio Rodrigues Vellozo, concedida pelo Tribunal de Justiça do Maranhão na sexta-feira (13/12) a personalidades que prestam relevantes serviços à Justiça, o mergulhador de resgate e bombeiro civil Euzébio Alves da Silva Filho estava em uma região alagada, no município de Porto Alegre, ajudando a salvar vidas, durante as enchentes que afetaram cerca de 2,4 milhões de pessoas no Rio Grande do Sul, entre o final de abril e início de maio deste ano.
Reconhecido como um dos voluntários que mais contribuíram no resgaste de pessoas e animais no estado da Região Sul, Euzébio chegou a dormir duas noites ao ar livre, para ceder o espaço que teria direito em um dos abrigos montados pela prefeitura da capital gaúcha a pessoas vítimas da inundação.
“Todo mérito é de Deus e estendo toda honraria aos bravos voluntários que lá encontrei. Fiz apenas o que Deus manda fazer”, resume Euzébio, ao não reivindicar para si o mérito de ter ajudado a salvar vidas.
Coordenador de Resposta a Emergência na Empresa Maranhense de Administração Portuária (EMAP), onde faz treinamento de salvamento e logística, Euzébio Filho sente-se orgulhoso pela oportunidade de ter participado da ação voluntária, entre 12 e 19 de maio, e de ter recebido a medalha proposta pela desembargadora Sônia Amaral e aprovada pelo TJMA.
“Eu agradeço muito à percepção importante que o TJ teve, porque eu sei que há outras pessoas também que fazem não só o trabalho voluntário, mas que fazem um trabalho decente, de respeito e digno para a nossa população, especialmente no Maranhão. Muito obrigado mesmo, Deus abençoe a todos”, agradeceu.
“Eu não o conhecia, diga-se de passagem. Quando eu vi a matéria, a nível nacional, dizendo que esse maranhense contribuiu de forma diferenciada naquela calamidade do Rio Grande do Sul, chegando ao ponto de dormir em banco de praça para dar lugar para desabrigados, sendo incansável no resgate de pessoas, quando eu vi tudo isso e sem o conhecer – conheci no dia da entrega do prêmio –, eu entendi que a Medalha Antônio Rodrigues Vellozo era uma medalha que merecia ser dada a essa pessoa que, repito, não conhecia”, disse a desembargadora Sônia Amaral.
Euzébio Silva Filho foi uma das 16 pessoas que receberam a Medalha Antônio Rodrigues Vellozo, de um total de 21 homenageados e homenageadas pelo TJMA, em evento em que houve também a entrega das medalhas Cândido Mendes e Bento Moreira Lima, em comemoração aos 211 anos de existência do Tribunal, terceira Corte mais antiga do Brasil, fundada em 4 de novembro 1813.
Bem antes do evento, assim que assistiu à matéria na TV, a desembargadora pediu que sua assessoria localizasse Euzébio. Por telefone, ela comunicou ao servidor da EMAP que iria indicá-lo à medalha.
“Para mim, isso é muito importante. É uma pessoa que fez a diferença na sociedade, que ajudou outros seres humanos, que deu o melhor de si. E me parece que o intuito dessas medalhas é nesse sentido: pessoas diferenciadas”, concluiu Sônia Amaral.
SAGA HEROICA
A saga heroica de Euzébio Filho começou a ser traçada quando ele viu nos telejornais a situação de alagamentos em algumas partes do Brasil, principalmente no Rio Grande do Sul. Inicialmente, achava que era apenas uma chuva normal. Mas logo percebeu que havia um estado de calamidade.
“A partir daquele momento, eu decidi que poderia contribuir, com base naquilo que eu aprendi, nos treinamentos de emergência, na minha experiência de mais de 20 anos. Entendi que eu poderia colaborar com aquelas pessoas”, disse.
Euzébio conta que se dispôs a ajudar voluntariamente, custeando suas despesas de viagem e escolheu ir para Porto Alegre, por considerar que lá havia a grande demanda de necessidade de socorro. Resolveu pedir à empresa em que trabalha que o liberasse por uma semana, para ir ao Rio Grande do Sul.
“De pronto, a EMAP entendeu a importância dessa ajuda e custeou as minhas despesas de viagem. Então, eu fui voluntariamente, mas as despesas de viagem foram promovidas pela EMAP, no Porto do Itaqui”, revelou.
DESAFIO
Para chegar à capital gaúcha, enfrentou o primeiro desafio, em razão da indisponibilidade de aeroportos e estradas comprometidas pela chuva e pela inundação de rios. Desembarcou em Florianópolis e fretou um carro que o levou pela única estrada que oferecia condições, mesmo de forma precária. Chegou a Porto Alegre na madrugada de domingo, 12 de maio, apresentou-se em um abrigo, trocou de roupas e imediatamente entrou em campo para ajudar.
Por volta das 4h do mesmo dia, ele se deslocou para outro ponto de resgate, na Avenida Cairu, ainda em Porto Alegre. Encontrou outras 100 pessoas que estavam trabalhando voluntariamente e se juntou a elas. Conta que a equipe era coordenada pelo gaúcho Luiz Fernando, conhecido como Chimango.
Euzébio Filho diz que começou atuando na área de veterinária, ajudando os animais que estavam sendo resgatados. Depois ficou na parte de logística, contabilizando os recursos que chegavam e saíam. Por fim, ele participou das equipes de resgate, revezando atividades por oito dias.
“As atividades começavam por volta das 6 horas da manhã, dando a largada, e terminavam lá por volta das 21h30, sempre com uma análise crítica, agradecendo, o pessoal em volta de uma fogueira para aquecer, porque o frio estava intenso, ficava variando de 10 a 13 graus toda a noite”, detalha, dizendo que a tenda de apoio teve que ser mudada por três vezes de lugar, em função da elevação do nível da água.
RETORNO
No retorno, Euzébio Silva Filho recebeu o reconhecimento da empresa, dos colegas de trabalho e em outras ocasiões, como a do TJMA.
“Essa medalha cedida pelo TJ Maranhão para mim tem um significado muito alto, não só pela materialização do feito, mas também porque representa a importância do trabalho voluntário, o qual eu dedico a todos aqueles que estavam lá presentes, trabalhando. Inclusive tinha muitos profissionais do Maranhão trabalhando, então, eu dedico também a eles e a todas as pessoas que realmente fazem um trabalho voluntário verdadeiro e fiel”, destacou Euzébio Filho, que se orgulha de carregar o nome do seu pai, falecido há mais de 15 anos. “Era pescador, agricultor e estivador”, acrescenta.
Depois que o homenageado foi agraciado com a medalha na Sala das Sessões Plenárias do Tribunal, o perfil SLZ Online, no Instagram, divulgou um vídeo em que o coordenador gaúcho Luiz Fernando, que Euzébio citou, exalta o heroísmo do maranhense, seguido de trecho da entrega da honraria pelo TJMA.
“Quando esse nobre chegar aí, vocês aplaudam: esse cara é um herói. No mínimo, uma medalha de honra ao mérito para esse cara, porque esse cara salvou muita gente. A gente tem gratidão eterna pelo Maranhão”, agradeceu, à época da enchente, Luiz Fernando.