São João do Maranhão 2022: Costa de mão está presente nos arraiais reforçando identidade e resistência

É de Cururupu que vem o sotaque costa de mão. Presente na programação do São João do Maranhão 2022, esse sotaque chama atenção pela peculiaridade na apresentação, na sonoridade, nas suas características que resistem ao tempo.

Essa peculiaridade o faz diferente dos demais sotaques por conta dos pequenos pandeiros que são tocados com as costas das mãos, daí a origem do nome. O sotaque tem origem na região do litoral ocidental maranhense, tendo como berço o município de Cururupu e possui um ritmo mais cadenciado. Os tambores-onça e os maracás também complementam a sonoridade desses grupos. 

Quanto aos personagens, destacam-se os vaqueiros campeadores e de cordão, os tapuias, os tocadores e as índias. A riqueza do bordado de sua indumentária e a vestimenta diferem dos demais grupos, que são constituídos majoritariamente por negros, com ocorrência nos municípios de Cururupu, Serrano do Maranhão, Bacuri e São Luís.

Dos grupos que resistem à tradição, a Secretaria de Estado da Cultura tem em seu credenciamento vários deles, como: os bois Brilho da Sociedade, Brilho da Areia Branca, Rama Santa.

O presidente do grupo Brilho da Sociedade de Cururupu, Eliézer Gomes Martins, tem mais de 50 anos de atividade e orgulho de manter, mesmo com todas as inovações, as características do grupo. Depois dos dois anos de pandemia, eles resistem a todo custo para brilhar na temporada junina.

“Tivemos esse baque com a pandemia, e neste ano nós não estávamos totalmente preparados para este São João. Ainda estávamos com pé atrás, mesmo com a baixa dos casos e o avanço da vacinação, mas como teve a concretização, a gente entra com a cara e a coragem para fazer novamente o boi”, disse ele.

O ateliê em casa foi montado, as indumentárias confeccionadas e o boi se “aprontou”. O batizado do boi, em Cururupu, ocorreu nesta sexta-feira (24) com ladainha e vasta programação. Neste sábado (25), o grupo já faz a primeira apresentação, às 20h, no Arraial da Estiva, e às 22h no Arraial da Matinha. 

“A gente está com o boi, fizemos nossos ensaios, demos os últimos retoques para nossa temporada que é de 25 a 29”, informou Eliézer Gomes Martins.

Resistência e identidade

Os grupos de boi do sotaque Costa de Mão têm tido uma baixa nos últimos anos por vários fatores. Segundo Eliézer, muito em função de não haver uma articulação para gerir a parte administrativa dos grupos em São Luís, junto aos órgãos públicos, ou ainda a participação em fóruns, dentre outras situações.

“Todos os grupos que se levantaram na região de Cururupu foram por questão de promessa. Outros já vieram surgindo por questões comerciais. O Boi Brilho da Sociedade vem de uma promessa, fundado desde 1950. Hoje, a maioria desses grupos que surgiram não conseguiu se manter por falta de apoio do poder público e também não tinha alguém para cuidar do boi fora de Cururupu. Hoje os que estão na resistência são Rama Santa, Areia Branca e o nosso, Brilho da Sociedade. Aí tem o outro, Soledade, que já faz parte do município de Solano”, contou.

Ainda de acordo com Eliézer, outros grupos dentro de Cururupu, que eram de Costa de Mão, não acabaram, mas passaram para outros sotaques, como o de orquestra, devido à visibilidade desse sotaque ser maior.

Os que resistem mantêm a tradição do instrumental, não utilizam outros tipos de indumentárias, para não perder a característica. “O Brilho da Sociedade mantém a característica lá de 1970, que é a camisa, o calção, o meião, o chapéu em forma de cogumelo, a batida no ritmo bem arrastado, o cântico, tudo para não desvirtuar e não perder a identidade da nossa história”, lembrou Eliézer.

O pandeiro tocado com a costa da mão causa um impacto quando visto nos arraiais de São Luís. A forma de tocar, única, tem toda uma história por trás. Há um cunho escravocrata nessa história. Os negros que viam outros grupos de bumba meu boi, mas não podiam participar por conta do trabalho nas lavouras, nas roças. Mãos calejadas não podiam tocar instrumentos.

“Aí surge o costa de mão, que já vem com uma identificação rítmica imitante ao Pindaré (Baixada Maranhense), porém com células rítmicas menos aceleradas”, disse Eliézer.

E quem estiver a fim de conhecer ou ver de novo esse sotaque, em que os pandeiros são tocados com as costas das mãos, é só acompanhar as programações nas redes sociais oficiais da Secma, ou pelo aplicativo São João do Maranhão, disponível para Android e IOS.

PROGRAMAÇÃO

25/06 – Sábado
22h – Vila Embratel

26/06 – Domingo
19h – Praça Nauro Machado
21h – Viva Maiobão 
23h – Arraial Santo Antônio/Centro Histórico

BMB Brilho da Sociedade de Cururupu
25/06 – Sábado
20h – Arraial do Povo/Estiva
22h – Arraial Matinha

28/06 – Terça-feira
19h – Arraial Santo Antônio/Centro
20h30 –  Arraial da Thay-/Multicenter Sebrae
00h – Arraial Festejo de São Pedro/ Madre Deus

BMB Brilho de Areia Branca
25/06 – Sábado
21h – Arraial do Santo Antônio/Centro
23h – Viva Cidade Operária

26/06 – Domingo
18h – Ipem
20h – Arraial do Povo/Estiva