Gordofobia: por que você deve dizer não a esse comportamento

“Nossa, ela é linda de rosto, pena que é gorda!”, “Essa roupa não vai ficar bem em você porque está gorda”, “Um homem tão bonito para estar com uma mulher gorda assim”. Se você já disse essas palavras, já ouviu alguém dizer para outra pessoa, ou pior: se disseram para você, saiba que isso tem nome: é gordofobia.

A palavra é um neologismo e refere-se ao comportamento em que alguém tenta diminuir outra pessoa por ser gordo. A psicóloga do Grupo Hapvida NDI, Celiane Lopes, explica que a gordofobia é o ato de julgar uma pessoa, por seu peso, como alguém inferior, desprezível e repugnante. “Alguns quadros de sobrepeso nem sempre podem ser apontados como falta de saúde em uma pessoa,  que pode ter um ótimo funcionamento metabólico de seus sistemas corporais. O sobrepeso não está associado somente ao ato de comer compulsivamente, pode ser um estresse, uso de medicamento, uma vida sedentária, ansiedade e até problemas hormonais”, exemplifica.

Por conta do constrangimento causado em quem sofreu com a gordofobia, a psicóloga  ressalta que devem existir certos cuidados com os julgamentos, pois falar sobre o corpo pode interferir na sua saúde mental, prejudicando seu estado emocional. Em um mês tão importante, em que a campanha Setembro Amarelo toma as páginas dos jornais e a internet, apesar das inúmeras campanhas de conscientização por todos os lados, ainda assim é comum ler comentários negativos sobre o corpo do outro em fotos e vídeos postados, principalmente nas redes sociais.

A modelo plus size Megan Kimberling, que foi capa da Vogue Itália, afirmou em entrevista à Hypeness, que recebe dezenas de comentários negativos por dia.“Eu bloqueio por volta de 50 pessoas em um dia movimentado. Muitos deles me chamam de gorda”, afirma.

A cantora Preta Gil, que trabalha em suas redes sociais para aumentar a autoestima da mulher, em entrevista ao programa Super Bonita, do Canal GNT, relatou como é lidar com o hate e com as dificuldades de ser uma mulher gorda. “Anos atrás, não tinha roupa para mim. Se hoje já é difícil, imagina anos atrás? Eu tinha que fazer a minha moda. Hoje, eu posto foto de biquíni e gosto, eu acho linda! Mas lá em 2003, quando lancei o disco e posei nua para a foto de capa do CD, foi uma enxurrada de comentários do tipo ‘ela não pode fazer isso, ela é feia, ela tá nua, ela é gorda’. Então eu comecei a tomar remédios, fiz uma lipoaspiração e me enquadrei no padrão, mas depois entendi que não era isso e comecei um processo de libertação, entendendo que eu não estou aqui para corresponder à expectativa do outro. Estou aqui para ser feliz”, disse.

Neste ponto, Celiane destaca que pessoas gordas vítimas de preconceito devem se defender. “Jamais deixar ninguém fazê-las se sentirem mal por sua aparência, enfrentar de forma assertiva  aqueles que apontam só por puro prazer em machucar”, enfatiza. Lopes acrescenta que as pessoas precisam valorizar e praticar as palavras respeito e empatia. “Se a pessoa está satisfeita com sua forma física, você não tem o direito de distorcer ou de ser invasivo na vida do outro só porque é a sua ideia de corpo perfeito”, ressalta.

Gordofobia como caso na Justiça

Casos dessa natureza podem ocorrer em qualquer local, inclusive, no trabalho. Embora não haja um filtro com estatística padronizada sobre episódios de gordofobia, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) contabilizou 1.414 processos que estão em tramitação em que funcionários acusam empresas de cometer gordofobia. Agora, o caso deixa de ser uma ofensa “comum” no dia a dia e passa a ser caso de Justiça.