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Farinha de Mesocarpo do Babaçu: Uma Opção Nutritiva e Sustentável para a Merenda Escolar 

Comida gostosa e afetiva no prato da merenda das crianças, vinda da agricultura familiar e local. Não é um sonho distante: este cenário integra o Plano Nacional de Desenvolvimento da Educação (PNDE) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). A inclusão da farinha de mesocarpo do babaçu é uma alternativa real e viável para as escolas maranhenses, o que representaria um avanço significativo na qualidade da merenda escolar, avanço para a promoção de uma alimentação saudável e sustentável. 

Para o pleno desenvolvimento de crianças e adolescentes, de acordo com o PNAE, o termo comida de verdade representa um projeto que faz da agricultura familiar uma parte fundamental da alimentação dos brasileiros, deixando de lado processados e ultraprocessados, evitando o consumo de alimentos pouco nutritivos e danosos à saúde, de modo que se reforce tanto uma alimentação mais saudável e consciente. A consequência disso para os menores é um melhor desenvolvimento, segurança alimentar e a diminuição de doenças graves como hipertensão e obesidade infantil. 

A principal chave para esse projeto é a merenda escolar. É colocar as escolas dentro da cadeia de produção, fortalecendo a economia local e as comunidades agrícolas. Por isso, os programas incentivam a compra de alimentos da agricultura familiar, com o objetivo claro de promover a segurança alimentar e nutricional das crianças em idade escolar.

Pensando nisso, é que colocamos a farinha de mesocarpo do babaçu como uma opção cheia de benefícios e que cumpre muito bem todos os pré-requisitos. É um produto extremamente versátil na culinária, podendo ser utilizado em diversas receitas, como pães, bolos, biscoitos e mingaus, o que pode contribuir para uma alimentação variada, atraente e saborosa. 

Segundo a nutricionista, professora mestre e pesquisadora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Yuko Ono, a inclusão da farinha na merenda pode contribuir significativamente para a saúde das crianças, justamente por ser um alimento muito nutritivo e com várias propriedades interessantes para a saúde infantil. “A inserção de um produto local na merenda escolar é algo maravilhoso. Além de ser sustentável, e possuir um aspecto econômico social muito interessante, do ponto de vista nutricional pode ser algo vantajoso”, analisou a docente.

A capacitação de cozinheiras e merendeiras para trabalharem com o produto é fundamental para o bom aproveitamento de seus benefícios nutricionais. De acordo com a professora Yuko Ono, projetos assim colaboram tanto para o aprendizado e inserção do alimento no dia a dia da população, como também ajudam no desenvolvimento de novas receitas, mostrando o quão versátil esse amido amarronzado pode ser.  

A cooperativa “Mulheres Mãos de Fibra”, juntamente com a Rede Mulheres do Maranhão, abraçaram essa ideia: mulheres que se uniram em prol do babaçu como atividade econômica rentável e sustentável. A farinha do mesocarpo consegue nutrir populações e empoderar mulheres no interior do Maranhão – a preocupação com a sustentabilidade e a economia social é constante e fazem parte de todos os projetos que participam. Ao incluir o produto no seu planejamento, as prefeituras contribuem para a sustentabilidade e apoiam práticas agrícolas responsáveis, bem como as empresas parceiras.

As quebradeiras de coco desempenham um papel crucial na economia do Maranhão, trabalho que promove a inclusão e transformação socioeconômica de suas comunidades. Investir na farinha de babaçu significa promover um impacto socioeconômico positivo, aumentando a renda e a autonomia financeira das mulheres envolvidas na sua produção. Esta prática fortalece as comunidades locais e garante a sustentabilidade da cadeia produtiva do babaçu.

Dona Mundica é uma das mulheres com mãos de fibra. Esteve dentro do projeto desde o início, quando as quebradeiras ainda nem pensavam em aproveitar o mesocarpo para fazer a farinha. Ela fala com orgulho sobre o produto que faz: “O nosso mesocarpo é mais claro e por isso o nosso biscoito não é escuro. A nossa farinha é diferente das outras, ela é bem branquinha e fininha, parece mesmo com o amido milho” .

O biscoito das Mulheres Mãos de Fibra é famoso na região. Feito com a farinha produzida na própria fábrica e aproveitada na nova panificadora também da fábrica, elas conseguem fornecer o produto para a comunidade e, inclusive, nas escolas. No ano de 2024, em parceria com a prefeitura do município de Tufilândia, puderam fornecer os biscoitos na merenda escolar, tornando o produto ainda mais famoso entre as crianças. Uma experiência que aumentou o horizonte de possibilidades para as empreendedoras. Dona Mundica comenta que por onde passa sempre tem algum aluno perguntando sobre os biscoitos. 

A fábrica do projeto foi construída pensando tanto em espaço de produção com higiene e segurança quanto como um espaço de convivência e aprendizado entre elas. É nesse espaço de convivência que elas dividem conhecimento, recebem profissionais de fora para workshops e oficinas. Através do apoio da Rede de Mulheres, conseguem participar de vários projetos e eventos de forma que possam estar sempre em sintonia com as perspectivas do mercado e o aperfeiçoamento de seu produto.

Hoje, com todo o equipamento necessário para uma produção cada vez maior, contam com a farinha do mesocarpo como principal produto e apostam em seus derivados que serão feitos na nova panificadora da fábrica.

A inclusão da farinha de mesocarpo do babaçu na alimentação de crianças e adolescentes é uma realidade que pode tomar novos territórios e, à medida que cresce, pode trazer múltiplos benefícios. A farinha é o produto e a oportunidade perfeitos para transformar a alimentação escolar em uma prática mais nutritiva, sustentável, socialmente responsável e, principalmente, mais saborosa.

Rede Mulheres do Maranhão 

A Rede Mulheres do Maranhão tem como objetivo contribuir na inclusão e transformação socioeconômica das mulheres do Maranhão. Dentro da rede, são 16 negócios sociais, com impacto em mais de 200 empreendedoras, empreendedores e quebradeiras de coco babaçu, que encontraram no trabalho coletivo sua fonte de renda.