Endividamento dos brasileiros cresce durante a pandemia

A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) divulgou um estudo sobre o comportamento do endividamento dos brasileiros em 2020. O levantamento mostra que 66,5% das famílias brasileiras ficaram endividadas, isso representa uma aumento de 2,8 pontos percentuais, quando comparado a 2019 – ou seja, antes da pandemia -. Trata-se do maior resultado anual da série, iniciada em 2010.

Para o economista e professor da Estácio, Hugo Meza Pinto, o ano começou com muitas pessoas endividadas, isso representa um aumento significativo referente ao ano passado.

“Isso é compreensível por conta da pandemia, muita gente ficou desempregada e teve que recorrer aos empréstimos ou ao principal vilão, o cartão de crédito. Essa sintomática vem se repetindo na medida em que o número de desempregados aumenta e o governo suspende o auxílio emergencial”, avalia o professor.

As principais dívidas dos brasileiros são de alimentos e consumo individual, mas o problema maior na geração de dívidas é que parte desse consumo está sendo feita em cartão de crédito, que cobra juros mais altos, como explica  o professor. “Os juros do cartão de crédito são os juros mais altos do mercado financeiro, enquanto que estamos com uma taxa selic de 2% ao ano, os juros do cartão de crédito estão entre 8% e 10%  ao mês”.

Foi o que aconteceu com Maria Oliveira, empresária que teve sua renda familiar afetada pela pandemia. Ela é dona de uma loja no aeroporto e com as reduções de voos, o faturamento da empresa diminuiu consideravelmente. Para pagar as contas mensais da casa, Maria recorreu ao cartão de crédito.

“No começo da pandemia eu achei que logo isso ia acabar, aí fui usando o cartão de crédito para pagar as contas, acreditando que minha empresa ia voltar a funcionar normalmente, mas não foi isso que aconteceu. Meu faturamento caiu muito e agora estou com uma dívida grande no cartão, tive que reduzir meus gastos e vender meu carro”, conta Maria.

Segundo o professor Hugo Meza Pinto, um dos problemas que gera endividamento das famílias brasileiras é o fato das pessoas não calcularem o valor da dívida total, ou seja, falta de uma educação financeira.

“Em média o brasileiro olha só o valor da parcela, se cabe dentro do orçamento o que é errado, o que tem que ser feito é o cálculo total dos juros e isso requer um raciocínio básico de juros e de endividamento, coisa que infelizmente a maioria das famílias no Brasil não fazem. Isso se dá basicamente pela ausência de uma cultura de uma educação financeira, podemos fazer uma análise um pouco mais ampla que nos diz que historicamente o brasileiro não sabe consumir, principalmente não sabe usar o crédito que tem a disposição, de uma forma equilibrada”.

Como orentação para quem está endividado, Hugo Meza Pinto, diz que a dica é diminuir radicalmente o consumo de supérfluos e analisar o tipo de endividamento que pode ser feito.

“É importnte fugir de qualquer financiamento que envolvem juros altos, como o cheque especial e o cartão de crédito, que são os vilões dessa bola de neve chamada endividamento, a dica é substituir juros altos por juros baixos e procurar equilibrar as contas de uma forma programada, reduzindo o consumo de supérfluos. Ao mesmo tempo, procurar um aumento de renda, uma renda complementar pode ser conseguida com um trabalho temporário ou a venda de um bem, para sair do endividamento que cresce a cada mês”, conclui o professor.