O Maranhense|Noticias de São Luís e do Maranhão

"
Giro de NoticiasÚltimas Noticias

De membro da família a paciente: como os pets mudaram de papel na sociedade

Durante muito tempo, a figura do animal de estimação esteve restrita a uma função mais utilitária ou periférica. Cães cuidavam do quintal, gatos caçavam ratos, e ambos, muitas vezes, tinham contato limitado com os tutores. 

Mas, nas últimas décadas, este cenário passou por mudanças profundas. Hoje, é comum ver pets dormindo na cama, aparecendo em fotos de família e recebendo tratamento semelhante ao de crianças. Esta transformação revela não apenas um novo papel social dos animais domésticos, mas também uma redefinição dos laços afetivos entre eles e os humanos.

Crescimento do mercado 

O mercado pet brasileiro tem apresentado crescimento constante nos últimos anos, consolidando o país como o terceiro maior mercado do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da China, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet). Em 2024, o setor faturou aproximadamente R$ 75,4 bilhões, o que representa um crescimento de 9,6% em relação a 2023, com projeção de alcançar R$ 78 bilhões em 2025, segundo dados da Abinpet e do Instituto Pet Brasil. 

Entre os segmentos, a maior fatia é ocupada pela alimentação industrializada (pet food), que corresponde a 54,1% do faturamento total (cerca de R$ 40,8 bilhões), seguida pelos produtos veterinários, com 10,4% (R$ 7,8 bilhões), e pelos serviços veterinários, com 10,2% (R$ 7,7 bilhões). Além disso, o país conta com uma população estimada entre 160 e 168 milhões de animais de estimação, com média de 1,6 a 1,8 pet por residência, de acordo com o Instituto Pet Brasil e a plataforma Ferraz Máquinas. 

Estes dados comprovam não apenas a força econômica do setor, mas também a transformação no vínculo entre tutores e animais, refletido no aumento dos investimentos em alimentação de qualidade, cuidados preventivos e bem-estar.

Novos hábitos e rotinas 

Com a valorização dos pets, também surgiram novos hábitos cotidianos. Vacinação regular, alimentação balanceada, idas ao veterinário para exames de rotina e check-ups anuais se tornaram parte da rotina de muitas famílias. Ainda, o cuidado, que antes era mais reativo, hoje se baseia na prevenção e no acompanhamento constante. 

É comum ver tutores buscando dietas específicas, tratamentos alternativos como acupuntura e até sessões de fisioterapia para reabilitação de seus animais. Estes novos comportamentos mostram que a saúde e o bem-estar animal ganharam um espaço de relevância no dia a dia.

O novo perfil dos tutores

Para acompanhar o novo cenário, a medicina veterinária precisou se adaptar. O avanço tecnológico e científico na área se uniu à necessidade de um atendimento mais humanizado. Hoje, clínicas e hospitais veterinários oferecem serviços especializados, com foco não apenas na cura, mas também na qualidade de vida dos pacientes. 

Além disso, a presença de profissionais em áreas como nutrição, odontologia, cardiologia e psicologia animal tornou-se mais comum, refletindo a demanda por um cuidado integral. Ainda, há uma preocupação crescente com o conforto e o acolhimento dos tutores durante os atendimentos, o que reforça a dimensão emocional envolvida neste tipo de relação.

A nova forma de lidar com os pets também diz muito sobre as transformações na sociedade. Em tempos de relações humanas mais fragmentadas e rotinas urbanas aceleradas, os animais de estimação passaram a ocupar um lugar de estabilidade emocional. 

A valorização dos vínculos afetivos com os pets pode ser vista como um reflexo das necessidades emocionais das pessoas, mas também como um sinal de maior empatia em relação ao sofrimento e às necessidades dos outros seres vivos.