Casa do Maranhão oferece tour que apresenta elementos do São João do Maranhão

Um passeio cheio de encantos e curiosidades. Assim pode ser definida a exposição permanente sobre o bumba-meu-boi que acontece na Casa do Maranhão, museu do Governo do Estado localizado no bairro Praia Grande, Centro Histórico de São Luís. No local é possível fazer uma visita guiada para conhecer um pouco mais sobre a história de uma das manifestações culturais mais características do estado. E quem passa pelo local garante que a experiência é única e transformadora.

A Casa do Maranhão funciona em um amplo casarão neoclássico do século XIX, localizado às margens do Rio Anil, e oferece exposições permanentes sobre o folclore, lendas, histórias e tradições que fazem parte da formação cultural maranhense. Entre essas tradições está o Complexo Cultural Bumba-Meu-Boi do Maranhão, que é considerada a maior manifestação cultural maranhense, sendo consagrada como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade em 2019 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Já no topo da escadaria de pedra de cantaria, que dá acesso ao segundo piso da Casa do Maranhão, os visitantes são recebidos pelos protagonistas desta manifestação cultural: Catirina, Pai Francisco e o Boizinho, acompanhados de dois cazumbas. Este é o ponto de partida para a visita que dura cerca de 30 minutos.

Foi assim que começou a visita de um grupo de estudantes do curso de Guia de Turismo do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará (IFPA), vindos de Belém, capital do estado. “Esta é a quinta turma do nosso curso que eu trago para conhecer o Maranhão. É importante que eles tenham essa vivência de conhecer outras culturas e o Maranhão é uma terra de encantos, então, todos os anos eu trago uma turma para conhecer o estado”, disse o professor Bernardo Costa.

E no roteiro da visita ao estado o professor sempre inclui uma parada na Casa do Maranhão. “A Casa do Maranhão é um espaço que condensa muito bem vários elementos da cultura regional e trazer esses alunos aqui é uma forma de apresentá-los aos elementos e manifestações culturais que são importantes, inclusive, nacionalmente”, ressaltou Bernardo Costa, que confirmou para 2024 a vinda de mais uma turma do curso.

Após um breve resumo do Auto do Bumba-Meu-Boi e suas possíveis diferentes versões, uma das primeiras informações recebidas pelos visitantes foi que há mais de 450 grupos de bumba-meu-boi no estado, divididos em cinco diferentes sotaques, a partir dos quais os grupos apresentam diversos ritmos, danças, instrumentos, músicas, personagens, dramas e indumentárias. Saber que a manifestação que hoje é considerada a maior do estado já chegou a ser proibida também atraiu a curiosidade dos estudantes.

Para Joane Cunha, aluna do curso de Guia de Turismo do IFPA, a visita à Casa do Maranhão não fez parte apenas da sua formação, mas foi, de certo modo, um reencontro com o estado. “Eu sou paraense, mas tenho duas primas e uma amiga que moram aqui em São Luís e desde 2013 eu não visitava o estado. Então, ver essa exposição me deixou maravilhada e me lembrou de toda a beleza e diversidade natural e cultural que tem o Maranhão”, comentou.

Além das peças expostas no salão principal, quem participa da visita guiada passa por quatro diferentes salas. Uma delas é dedicada exclusivamente aos grandes amos dos principais grupos de bumba-meu-boi. No espaço há detalhes da vida de mestres como Apolônio, Humberto de Maracanã, João Chiador, Mané Onça, Zé Olhinho, Francisco Naiva, Chagas, entre outros. No espaço há pinturas com os rostos dos mestres, informações sobre sua vida e contribuição para a cultura popular a até indumentárias usadas nas apresentações.

Em outra sala é possível conhecer a organização do festejo que começa com os ensaios, passa pelo batismo, o ciclo de apresentações e, por fim, a morte do boi, incluindo pontos altos do festejo como o encontro na Capela de São Pedro e no bairro João Paulo.

Também estão expostas imagens dos quatro santos festejados em junho e para quem os grupos de bumba-meu-boi pagam promessa: Santo Antônio, São João, São Pedro e São Marçal. Quem visita a Casa do Maranhão também pode conhecer os principais instrumentos usados durante as apresentações. Em painéis espalhados pelos espaços é possível ler informações detalhadas sobre todos os personagens que fazem parte dos grupos de bumba-meu-boi.

É toda esta diversidade que chama a atenção dos visitantes, segundo Ana Karen, que trabalha como guia na Casa do Maranhão há um ano e meio. “Cada visitante se interessa por uma característica específica, mas de um modo geral o caráter religioso da festa chama bastante atenção, principalmente o fato dos festejos unirem elementos das religiões de matriz africana, dos povos indígenas e do catolicismo”, explica.

O casal mineiro Iakara Castro e Rafael De Simone também ficou encantado com o que viu. “Conhecer o Maranhão era um sonho meu de infância. Chegamos dia 22, começamos por São Luís e ainda vamos aos Lençóis antes de irmos embora dia 28. Eu fiquei encantada com a Casa do Maranhão. Espero consegui ver alguma apresentação de bumba-meu-boi, mas independente disso, vou embora do Maranhão com meu coração alegre”, disse Iakara Castro.

A visitação à Casa do Maranhão é aberta e ao fim do passeio, quem passar pelo local sairá com a certeza que o bumba-meu-boi do Maranhão é, antes de tudo, uma grande celebração na qual se confundem fé, festa e arte, numa mistura de devoção, crenças, mitos, alegria, cores, dança, música, teatro e artesanato, entre outros elementos.