O Maranhense|Noticias de São Luís e do Maranhão

"
GeralÚltimas Noticias

Bioeconomia e preservação do Cerrado: conheça três negócios que ajudam a fortalecer o empreendedorismo sustentável no Maranhão

Três iniciativas empreendedoras, desenvolvidas no Maranhão, se destacam pela utilização de recursos naturais, associando, de forma equilibrada, o crescimento econômico e a preservação ambiental do Cerrado, bioma que abrange cerca de 65% do estado. Embora façam parte de segmentos distintos, os projetos Hiblo+, Agga Tech e Biocredits compartilham o objetivo de fortalecer o empreendedorismo sustentável no Maranhão. Por sua contribuição à bioeconomia, essas iniciativas foram premiadas na última fase do Inova Cerrado – Módulo de Ideação, programa realizado pelo Sebrae em parceria com a Fapema.

Hiblo+

A necessidade de produzir uma bebida probiótica feita com ingredientes vegetais, livres de lactose e caseína, despertou na empreendedora Nádia Moura o desejo de desenvolver um negócio voltado para produtos saudáveis e inovadores.

Após uma série de pesquisas sobre a indústria alimentícia funcional, ela decidiu criar o Hiblo+, empresa voltada para bebidas que contribuem para a saúde digestiva e imunológica, incluindo chás secos, ice teas, gaseificados e probióticos.

“Nosso foco é unir ciência e biodiversidade para desenvolver produtos inovadores que promovam saúde, sabor e impacto socioambiental positivo. Além disso, nossos produtos são inclusivos, ideais para veganos, alérgicos à caseína e intolerantes à lactose”, destacou a empreendedora, que ficou em 1º lugar no Inova Cerrado – Módulo de Ideação.

Nádia Moura ressalta que os produtos do Hiblo+ são desenvolvidos a partir de especiarias nativas do Cerrado e da Amazônia, como hibisco, urucum, cumaru, pimenta rosa e casca de café. Esses ingredientes são adquiridos de pequenos produtores, promovendo o fortalecimento da biodiversidade e da economia local.

“Priorizamos fornecedores que atuam com práticas sustentáveis e manejo responsável, e valorizamos o uso integral dos alimentos, como a casca do café, que muitas vezes é descartada, mas que no Hiblo+ ganha um novo propósito, trazendo sabor e funcionalidade às bebidas”, explicou a empreendedora.

Além de sustentáveis, as bebidas do Hiblo+ também possuem diversas propriedades medicinais em razão de serem produzidas com ingredientes ricos em compostos bioativos. Controle da pressão arterial, estímulo do metabolismo e fortalecimento dos ossos são apenas alguns dos benefícios oferecidos pelo consumo desses chás.

“O hibisco, por exemplo, tem ação antioxidante e auxilia no controle da pressão arterial. O urucum é fonte de carotenoides, que contribuem para a saúde da pele e visão. O cumaru possui propriedades anti-inflamatórias e digestivas. A pimenta rosa atua como termogênico natural, estimulando o metabolismo”, detalhou Nádia.

Após o incentivo recebido pelo Inova Cerrado, a empreendedora já possui planos para expandir o negócio com o lançamento de uma linha de chás secos e a ampliação do portfólio de bebidas funcionais da marca.

“Os probióticos seguem em fase de pesquisa, com foco em garantir alta qualidade e benefícios comprovados. Nosso objetivo é consolidar a marca no Brasil e, futuramente, explorar oportunidades de exportação, sempre mantendo nosso compromisso com a sustentabilidade e a inovação”, afirmou Moura.

Agga Tech

Equipamentos de alto custo e a barreira do idioma não foram suficientes para impedir o funcionário público Ícaro Oliveira de criar um negócio inédito no Brasil: a Agga Tech, primeira empresa do país a integrar dados de satélites e sensores terrestres para monitorar incêndios e queimadas florestais.

O empreendedor explica que o sistema da Agga Tech tem a capacidade de enviar alertas precisos e em tempo real, reduzindo as perdas econômicas e promovendo a manutenção dos biomas brasileiros, em especial o Cerrado. A fabricação da versão inicial do produto (MVP) já está em andamento com o apoio de fornecedores de componentes na China e de uma rede de parceiros no Brasil.

“Os equipamentos e instrumentação de análise de circuitos digitais, máquinas, componentes eletrônicos são muito caros para um simples funcionário público. Tive que enfrentar o desafio de me comunicar em outras línguas e, acima de tudo, fazer com que grandes fabricantes na China acreditassem numa simples ideia de um inventor brasileiro que sequer ouviram falar”, destacou Ícaro, que conquistou o 2º lugar no Inova Cerrado.

Além do uso de sensores terrestres e de dados de satélite para a detecção de queimadas e incêndios florestais, a Agga Tech também possui uma segunda linha de pesquisa direcionada ao desenvolvimento de estações de monitoramento da qualidade do ar, que será lançada em 2025.

“Hoje temos duas linhas de pesquisas paralelas: a primeira é voltada para a detecção de queimadas e incêndios florestais, usando sensores terrestres OXOSSI e dados satelitais, os quais são cruzados em nosso software proprietário AATS. A segunda linha é voltada para o desenvolvimento de estações de monitoramento da qualidade do ar”, detalhou o empreendedor.

O negócio, que já dispõe de depósito de patente junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e de registro de software e marca, era inicialmente apenas um projeto de pesquisa privado. Porém, com o incentivo do Sebrae e da Fapema, a Agga Tech consolidou-se como uma empresa que possui adesões em todas as partes do país.

Segundo Ícaro Oliveira, o empreendimento nasceu com o objetivo de proteger o patrimônio natural e a biodiversidade, que estão diretamente ligados à qualidade de vida da população e à geração de emprego e renda.

“Nascemos para proteger a biodiversidade em todas as suas expressões micro e macroscópicas, da mais simples e unicelular das criaturas, às mais complexas. A preservação do cerrado está diretamente relacionada à qualidade de vida, disponibilidade hídrica, qualidade do ar e à continuidade e viabilidade das atividades produtivas”, evidenciou o empreendedor.

Biocredits

O projeto de pós-doutorado do biólogo e pesquisador Geison Mesquita se transformou em uma ideia de startup após cerca de 1 ano de estudos na Inglaterra sobre um tema ainda pouco conhecido no Brasil: os créditos de biodiversidade. 

Com base em conhecimentos adquiridos ao participar de diversos grupos com especialistas na área, Geison percebeu o grande potencial do Brasil para geração de créditos de biodiversidade e decidiu fundar a Biocredits. 

“Embora o tema já tenha um relativo avanço nos países desenvolvidos, principalmente na Europa, aqui no Brasil ainda são poucos os que sabem sobre os créditos de biodiversidade e sua importância tanto para o futuro sustentável do país quanto o potencial econômico que esses créditos podem trazer para o Brasil”, explicou o pesquisador, que ficou em 3° lugar no Inova Cerrado.

Os créditos de biodiversidade são unidades que representam a contribuição para a conservação da natureza. Ou seja, é um instrumento econômico que permite que empresas financiem atividades que gerem impactos ambientais positivos. 

Para gerar esses créditos de biodiversidade, a Biocredits irá criar áreas protegidas dentro de regiões consideradas essenciais para a conservação de biomas brasileiros. Dentro dessas áreas, a biodiversidade será medida por meio de métricas como a riqueza e abundância de espécies e recursos naturais. 

Em seguida, os créditos gerados a partir desses cálculos serão vendidos no mercado voluntário, principalmente para empresas que precisam demonstrar impacto positivo sobre a biodiversidade. Portanto, passa-se a atribuir valor econômico à conservação da natureza, de modo que haja um incentivo à restauração de áreas nativas do Cerrado por parte de proprietários de terras e empresas.

“Isso é crucial nesse bioma que vem sofrendo com a expansão da fronteira agrícola e perdendo cada vez mais seu importante papel na recarga de aquíferos e na regulação do regime hidrológico de várias bacias importantes do Brasil”, destacou o biólogo.

Geison Mesquita também ressalta a importância da venda de créditos de biodiversidade para o desenvolvimento de atividades econômicas sustentáveis e geração de renda para as comunidades locais. 

“A venda de créditos gera receita que pode ser reinvestida em ações de conservação e no desenvolvimento de atividades econômicas sustentáveis, como o ecoturismo e o manejo florestal, gerando renda também para as comunidades da região e valorizando o conhecimento tradicional”, concluiu o pesquisador.

Inova Cerrado

O Inova Cerrado é uma estratégia do Sebrae focada em fomentar, apoiar e desenvolver pequenos negócios, startups, empreendimentos e ideias inovadoras alinhadas à bioeconomia, que tenham como premissa a atuação direta ou indireta para preservação ou uso sustentável dos recursos da biodiversidade do bioma.

O Módulo de Ideação do programa tem como objetivo o desenvolvimento e validação do modelo de negócio, buscando transformar as ideias propostas em negócios formalizados, em operação e com venda recorrente. Durante o encerramento deste módulo, realizado em 21 de janeiro de 2025, 17 projetos e empresas de bioeconomia foram apresentados e examinados por uma banca avaliadora especializada. 

Os três melhores negócios (Hiblo+, Agga Tech e Biocredits) receberam, respectivamente, R$ 15 mil, R$ 10 mil e R$ 5 mil, valores destinados ao incentivo da execução dos projetos. Além das três primeiras colocadas, outras duas ideias receberam certificados de reconhecimento pela pontuação alcançada na avaliação da banca.