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Saúde

A vacina de mRNA pode ser uma esperança contra o câncer

As vacinas de mRNA, desenvolvidas pela Pfizer e Moderna, se tornaram conhecidas pela sua eficácia contra o COVID-19. Mas cientistas de todo o mundo já estavam estudando seu uso na terapêutica do câncer. No entanto, até agora não havia resultados positivos. A boa notícia é que cientistas do Centro Nacional de Nanociência e Tecnologia da China (NCNST) desenvolveram um hidrogel para entregar uma vacina de mRNA com um adjuvante imunoestimulante. Quando injetada em camundongos com melanoma, a vacina permaneceu ativa por pelo menos 30 dias, inibindo o crescimento do tumor e evitando metástases. O estudo foi publicado no jornal Nano Letters, da American Chemical Society .

“Os resultados mostraram que o sistema de entrega de hidrogel tem potencial para ajudar as vacinas de mRNA a alcançar efeitos antitumorais de longa duração como a imunoterapia contra o câncer. Ou seja, o hidrogel libera lentamente nanovacinas de mRNA, que ‘escolhe’ os tumores cancerosos e os impede de crescer”, diz o oncologista Carlos Gil Ferreira, presidente do Instituto Oncoclínicas.

Qual é a diferença da vacina entre COVID-19 e câncer?

Da mesma forma que as vacinas comuns, o objetivo do mRNA é criar anticorpos contra um agressor. Mas em vez de inserir um vírus atenuado ou inativo no organismo, esse imunizante carrega informação genética que instrui as células a sintetizarem uma proteína que estimula a resposta imunológica do corpo. No câncer, as vacinas são projetadas para traduzir antígenos associados a tumores para que o sistema imunológico possa reconhecer e eliminar o câncer.

O problema é que o RNA – ou ácido ribonucleico, responsável pela transferência de informações do ADN (ou, em inglês, DNA) até o citoplasma – é facilmente degradado por enzimas encontradas no corpo. Para atingir os nódulos linfáticos era necessário um veículo mais eficiente, que impedisse essa degradação.  Até agora, não havia um veículo que tivesse resultado positivo. Os cientistas chineses usaram ovalbumina, uma proteína encontrada na clara do ovo de galinha e misturaram o mRNA de ovalbumina com o hidrogel e o injetaram sob a pele de camundongos com melanoma. “O hidrogel liberou continuamente a vacina em nanopartículas por 30 dias, tempo suficiente para que avacina de mRNA ativasse as células T. Isso estimulou a produção de anticorpos, fazendo com que os tumores diminuíssem e ainda impedisse a formação de metástase nos pulmões dos animais. Sem dúvida, é uma perspectiva animadora para o tratamento do câncer”, afirma o doutor Carlos Gil Ferreira.

Sobre Dr. Carlos Gil Ferreira

Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora (1992) e doutorado em Oncologia Experimental – Free University of Amsterdam (2001). Foi pesquisador Sênior da Coordenação de Pesquisa do Instituto Nacional de Câncer (INCA) entre 2002 e 2015, onde exerceu as seguintes atividades: Chefe da Divisão de Pesquisa Clínica, Chefe do Programa Científico de Pesquisa Clínica, Idealizador e Pesquisador Principal do Banco Nacional de Tumores e DNA (BNT), Coordenador da Rede Nacional de Desenvolvimento de Fármacos Anticâncer (REDEFAC/SCTIE/MS) e Coordenador da Rede Nacional de Pesquisa Clínica em Câncer (RNPCC/SCTIE/MS). Desde 2018 é Presidente do Instituto Oncoclínicas e Diretor Científico do Grupo Oncoclínicas. No âmbito nacional e internacional foi Membro Titular da Comissão Científica (CCVISA) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). No âmbito internacional é membro do Career Development and Fellowship Committee e do Bylaws Committee da International Association for the Research and Treatment of Lung Cancer (IALSC);Diretor no Brasil da International Network for Cancer Treatment and Research (INCTR); Membro do Board da Americas Health Foundation (AHF). Editor do Livro Oncologia Molecular (ganhador do Prêmio Jabuti em 2005) e Editor Geral da Série Câncer da Editora Atheneu. Já publicou mais de 100 artigos em revistas internacionais.